16 de jan. de 2006

A negação

Quando era pequeno, acreditava que se eu tinha um sonho e realmente acreditasse nele com todo meu coração, Deus o iria conceder pelo poder da minha fé. Eu orei por tantas coisas sem sentido, e como uma criança que não sabia o que desejar, desejava tudo..mas nada aconteceu...
Anos passaram, minha fisionomia modificou-se, ainda jovem, ainda acreditando.Nessa época, Deus estaria sobre medição e avaliação pela minha arma que seria a mais letal para todos os envolvidos de alguma forma com minha vida, minha racionalização..Ser racional não te traz nenhum conforto, te traz confrontos. Comecei a questionar o poder absoluto e questionar existência ilógica de um “Ser” que nunca era ou é..Ou seja, apenas existe e ao mesmo tempo não.Ilógico mas apaixonante para aqueles que tem fé.
Fé não é algo extremamente maligno como prego hoje em dia, se suas ambições são pequenas você não tem fé,você tem algo um pouco menor que a esperança. Você acredita, mas não com a paixão e a entrega que é preciso para alguém que almeja o inalcançável,alguém que realmente espera pela intervenção divina que irá mudar sua vida para sempre. Você apenas acredita por ser confortável acreditar, algo como passar num vestibular ou acreditar naquela promoção que com certeza é algo importante mas NÃO é importante aos olhos de Deus.Mas o amor,eu me arrisco a falar que se não existir intervenção divina nesse único (talvez) sentimento mais puro e irracional que um ser humano pode ter, então esse Deus não tem o amor necessário para com seus filhos. Pois é um único sentimento que você não consegue evitar, ninguém escolhe por quem vai se apaixonar, por quem vai encontrar um dia numa esquina qualquer, ou no trabalho, ou na escola e por causa de horas,minutos ou segundos, aquele dia ficará para sempre gravado em sua mente. Existe esse amor incondicional, capaz de ser totalmente cego às nossas necessidades, ao nosso objetivo emocional? Um amor é capaz de ser platônico, ou deixemos isso para os lunáticos?
E foi por causa de UMA desilusão, não amorosa, mas decorrente dessa desilusão que todos meus princípios foram modificados e moldados, pois nossas feridas ensinam mas nunca irão cicatrizar. Admito minha culpa em tudo que fiz de errado, e tive todas as oportunidades para arrumar.Mas ai que entrou a maldita intervenção divina. Eu não presto, sei muito bem disso. Não sou aquele rapaz que uma garota gostaria de apresentar ao pai, eu sou o cara que estava lá apenas para não estar. Hoje acredito nisso e acho bom, Deus faz um condenado pela causa, e a história (bíblica) nos mostra isso. E eu fui aniquilado, eu tive todas as cartas em minhas mãos mas algo aconteceu. Em vez de sim disse não. E foi isso que aconteceu..Não uma, mas duas vezes..E isso não é uma metáfora, isso foi real. Neguei a quem amava..Duas vezes!!Se fossem três ficaria paranóico pensando que era um personagem bíblico, ai então minha persona estaria completa não?! Além de paranóico isso somaria minhas grandes qualidades que vão de um ser hipócrita, pseudo-intelectual, chato até breves e raras qualidades aproveitáveis...
Enfim, o resumo é que eu falhei, mas falhei? Ou será que fui um marionete? Mania de grandeza? Acho que não, pois uma maçã podre estraga todas as outras do cesto, ou como está naquele livro sagrado (você colhe o que planta). Será que é possível eu colher algo que ainda nem havia semeado? Pois após a minha falha, minha fé permaneceu, eu acreditei, rezei, implorei..E nada aconteceu, pensei então se é o melhor pra ela, então faça o que quiseres.
Aqueles que não sabem o que é ser tão sozinho deveriam ser proibidos de se sentirem tristes, pois são falsos em seus sentimentos. Reclamar por reclamar, chorar por ter o costume de se aborrecer não faz de ninguém triste, e se você se aborrece por tão pouco você deveria se envergonhar. Pois quem ama e é amado nunca está sozinho.
Estou hoje um pouco mais velho, um pouco mais munido também é verdade..mas estou cada vez mais triste e sozinho à medida que o tempo passa, com cicatrizes que nunca saram.Meu coração sangra e a única maneira de não sangrar até a morte é abandonando aquilo pelo qual eu me entreguei de corpo e alma, aquilo em que eu não apenas acreditei ou tive esperança..Eu abandonei aquilo pelo qual tinha FÉ..pensando agora..acho que essa foi a terceira negação que faltava..Neguei o amor, e quando o ser humano nega isso, está morto..Onde está Deus? Em nenhum lado da guerra isso posso afirmar...