27 de dez. de 2006

Samba Apache

Tamborilando os meus dedos na tua mesa.
Balançando os meus pés no ar.
Coçando a cabeça por que o saco está cheio. Cheio de pensamentos que realidade não vão virar.
E é por isso que eu sigo este lamento para minha mente desanuviar...
Mas esquece esse baseadoo - ohoo, por que a ceva já está mais do que quente.
Jogue este fumo pela janela, por que agora me lembrei de outro repente...
Te liga aí nesse presente. Esse docinho que eu te trouxe é lisérgicoo - ohoo.
E de resto, minha vida segue um tédio, tédio, tédio !

16 de dez. de 2006

Geração Perdida

Com certeza a nossa geração criou uma nova maneira de transgredir, somos realmente inovadores. Não mudamos nada, não queremos que nada mude e não temos opinião formada sobre o que está acontecendo. Pode parecer nostalgia. Mas, porque diabos não temos a mesma vontade de mudança de juventudes anteriores ? Acredito que a falsa democracia em que vivemos facilita esta revolta pueril dos nossos tempos.
Infelizmente não mais transgredimos em pensamentos, expressão de ideais renovadores e rejuvenilizantes. A nossa quebra de paradigmas ocorre nos quartos e nas bocas de fumo. Nossa afirmação acontece fazendo sexo com a primeira pessoa que aparece ou bebendo e se drogando para fugir de uma realidade, que na verdade jamais encaramos. Queremos nos diferenciar brigando, assaltando, injetando. Somos os malucos mais caretas da face da terra. Afinal, não pensamos. Nunca contrariamos, debatemos, discutimos. Simplesmente nada sabemos. E isso é o conceito de bonito dominante no século XXI: O não saber ! O status é conquistado através da estupidez. Que tem como ponto alto o culto a beleza e à euforia fugaz.
Por acaso, você que está lendo isso pode dizer sinceramente que se diverte ? Pense bem, na verdade não estaria você atingindo o êxtase em poucos minutos de forma artificial e em seguida se condenando pelo que fez. Outro quesito fundamental é o ódio ao equilíbrio. Nos prendemos a um eterno eletrocardiograma emocional, ou estamos eufóricos ou depressivos. Por que não podemos aceitar o tédio. Nem tudo é vida ou morte. Vamos aproveitar os tons de cinza e deixar de lado o maniqueísmo do preto e branco.
Pode parecer pessimismo, e é mesmo ! Não temos vontade para mudar e sequer conhecemos o que nos cerca. Os poucos que demonstram esta ânsia pensativa acabam se entregando ou se escondendo. Quantos são os que cansam e largam tudo de mão, estes normalmente acabam num caixão, num quarto de hospital, numa clínica de reabilitação, etc.
Precisamos urgentemente dar uma guinada. Fazer um levante em favor do bem, do pensar, do querer saber, do amar incondicionalmente. Deixar de lado os defeitos alheios e tentar alavancar os aspectos positivos de cada um. Não podemos deixar a ignorância vencer. Vamos nos salvar, ou para sempre seremos lembrados como a geração que perdeu sem lutar

5 de dez. de 2006

Marteladas

Telefone toca. Olho para o relógio com certas dificuldades de foco. 9 horas da manhã. Era uma segunda-feira. "Alguém morreu", foi o primeiro pensamento que me passou pela cabeça. Levantei. Meu dente doía muito. O telefone não parava de buzinar. Não tinha alguém naquela casa (tão importante assim ao menos não tinha), para receber uma ligação as 9 horas da manhã...e numa segunda-feira. Cacete!

-Alô.
-Oi..adivinha quem está falando?!

Uma coisa que não suportava era adivinhações numa manhã de segunda-feira. Havia descoberto naquele instante. Eu fiquei quieto tirando uma remela dos olhos.

-É a Juliana. Como vai menino?!
-Não tão menino assim.
-Como assim?!
-Estou ficando velho.

Ela riu.

-Que tens feito da vida afinal?!
-Não muita coisa.
-Como assim?!

Tinha esquecido como ela era irritante. Nos conhecemos 7 anos antes desse telefonema inoportuno, ela tinha um corpo mais ou menos, mas tinha grandes e lindos olhos azuis, e lábios carnudos. Usava um perfume que me irritava as narinas e me dava nojo quando estava de ressaca. É difícil manter uma relação estável quando ela é um dos motivos pelo qual você vomita.

-Não tem muito o que explicar. Tenho dormido muito eu acho..

Meu dente doía muito. Estava com sede.

-Só um instante Juliana. Eu já volto.
-O.K

Fui até a cozinha me arrastando com uma impressionante dificuldade. Estava em dúvida se era uma segunda mesmo. A geladeira estava vazia. No fundo dela tinha alguma comida velha e uma caixa de suco natural. Quem comprou tal coisa?! Não tinha mais cerveja. Peguei o suco. Voltei ao telefone e sentei numa cadeira. Ela gostava de tagarelar. Ia ser uma manhã longa.

-Voltei..
-Sabe, eu escrevi um livro!
-É?!
-Sim, sim.
-Sobre o quê?
-Sobre minha vida.
-Egocêntrica.

Ela riu. Eu não tinha feito nenhuma piada.

-Esqueci como você era engraçado – ria ela de sua maneira irritante – eu sonhei com você dia desses.
-Ah é?!

Meu dente doía muito. Acho que tomei todo o conteúdo da caixa em um único gole.

-Sim.

Um silêncio seguiu-se. Eu estava ocupado demais em desmontar a caixa de suco para perceber que ela queria que puxasse algum assunto.

-Acho que te vi no centro um dia antes - ela disse afinal- Engraçado não é?
-Acho que não. Eu não saio muito de casa.
-O que?! Logo tu?!
-Sim. Logo eu.

Ela riu.

-Você está em meu livro, sabia?!

Meu dente doía muito.

-Como poderia saber?

Pedi licença e fui até o banheiro. Abri minha boca e a examinei rapidamente. Uma bola de carne viva estava escondendo meus incisivos. Doía muito. Deveria ir ver isso num médico. Abri uma gaveta de uma penteadeira que estava ali há incontáveis anos. Peguei o martelo e bati na testa três vezes. Cambaleei, mas não desmaiei. O sangue correu grosso pela minha testa e entrou em meus olhos. Cambaleei até o telefone.

-Voltei.
-Então?
-Então o que?!

Tinha esquecido a dor no meu dente. O sangue entrava em meus ouvidos, o som estava abafado. Não enxergava muito também.

-O que acha de estar em meu livro?
-Acho que deveria ganhar alguma coisa em troca, não?!

Ela riu. Não tinha feito piada.

-Sabe, tu foi a minha pior foda. De toda a minha vida.
-Ah é?!
-É!

Ela riu durante alguns segundos. Minha cabeça latejava. Minha visão voltara. O telefone estava repugnante, uma massa viscosa de sangue grosso o adornava. Parecia mais uma obra de arte do que um aparelho telefônico.

-E isso tá no teu livro também? – perguntei.
-Ah, claro que sim!
-Ah, bom.
-Isso te incomoda?
-Não. O livro é teu oras.
-Não. Ter sido minha pior transa.
-Não muito na verdade.
-É mesmo?
-Sim.
-Você pensa em mim? – disse na voz mais manhosa que conseguia.

Passei a mão na testa. Meu dente voltara à doer.

-Não.
-Não?!
-Não.
-Nem uma vez pensou em mim em todos esses anos?!
-Acho que não.

Silêncio.

-Estou namorando agora.
-Hum, que bom.
-Está namorando alguém?
-Não.
-Por que não?!
-Por que sim?
-Mas eu não gosto dele.
-Por que está namorando com ele então?
-Comodidade. Acho..

Silêncio. Tinha sangue dentro do ouvido. Não sabia se ela tinha parado de falar ou eu de ouvir.

-Ele não é tão bonito – disse ela numa voz trêmula- não quanto você.

Ainda ouvia.

-Mas, ele não é tão ruim quanto você de cama. Não é excepcional também.
-Poucos são – disse num bocejo.
-É. Acho que sim.
-Só um pouco.

Voltei ao banheiro. Mais três na testa. Cai no chão. Após alguns segundos, muito tonto, eu me levantei e voltei ao quarto. Levei o martelo por segurança.

-Que dia é hoje afinal?! – disse eu numa voz espantosamente grossa.
-Segunda, querido.
-Hum..
-Tu tinha um corpo incrível. Adorava seu corpo.
-Obrigado – disse eu na minha voz ainda irreconhecível.
-Tu não queres vir aqui?!
-Onde?
-Aqui em casa? Eu moro no mesmo lugar ainda.

Eu estava muito tonto. Senti vontade de vomitar.

-Eu odiava aquele perfume teu – disse – me fazia vomitar.
-O que te fazia vomitar era todas aquelas bebidas que tu ingeria querido.
-Não. Tenho certeza que era teu perfume.

Silêncio. Peguei o martelo.

-Mas, vem pra cá.
-Pra quê?!
-Oras, tu não sabe pra quê?!
-Não tens namorado?!
-Isso não te impediu da primeira vez. Te lembra?
-Não.

Era mentira. O namorado dela estava fazendo um teste para as forças armadas, há sete anos atrás. Ele tinha ido para o Rio de Janeiro, foi quando eu a conheci e lhe dei a pior foda da vida dela. Mas a negação encurtaria a minha parte da conversa.

-Hum. Mas, te lembra onde eu moro certo?! – disse ela na voz manhosa novamente.
-Não.
-Ai! Pega uma caneta aí querido.
-Peguei – disse eu com as mãos na cabeça e não pegando porra nenhuma.

Ela deu o endereço. Eu fingi que anotara. Ela deu uma leve risada.

-Tu melhorou um pouquinho não?! – perguntou a infeliz.
-Provavelmente não. Devo ter piorado se queres saber.
-Isso é possível?!

Ela riu.

-Tu vai passar aqui mais tarde, não?! – perguntou.

Senti que a conversa estava finalmente terminando.

-Passo. Passo sim.
-Que bom.

Silêncio.

-Bom – disse eu após alguns segundos- então mais tarde nos veremos.
-Tá querido. Só uma coisinha.
-O quê – suspirei.
-Você ocupa metade de meu livro.
-E daí?!
-Achei que deveria saber.
-Hum. Certo, certo.
-Beijos amor.
-Beijos.

Ela desligou. Ela sempre desligava antes. Eu deixei o telefone fora do gancho. Guardei o martelo. Joguei fora a caixa destroçada de suco de laranja. Deitei...dormi.