15 de mai. de 2009

A árvore

Ele parou na frente de seu amigo de infância. Cresceram juntos e agora eram dois estranhos. Ele desamarrou sua gravata e apontou para o seu amigo desleixado, deitado embaixo de uma árvore antiga.

- Sabe qual é o problema nisso tudo?!
- Qual? – disse tragando seu cigarrinho de palha e baforando alguns anéis de fumaça – qual o problema?
- Você fica aí parado, apenas observando a sombra que a árvore faz das oito da manhã até as seis da tarde, fuma seu cigarro de palha tranqüilamente sem nenhuma preocupação real. Apenas está aí, respirando e sorrido para as formigas e nuvens. Você se ocupa em não pensar em nada do que as pessoas decentes pensam, desse jeito você irá virar um vagabundo!
- E qual é o problema de estar fazendo o que me agrada neste momento?
- É que isso me incomoda!
- Mas, por quê?!
- Porque EU queria estar fazendo isso!

“ Mas, de qualquer forma, eu não queria ser nada na vida. E nisso, certamente, eu estava sendo bem sucedido.” Charles Bukowski

Jonathan Rodriguez (reciclado)

DIÁRIO DE BORDO:
08/02/09 – Exatamente 23 horas.


A corrida é insana. Meu amigo sabe disso. Eu sei disso. O cachorro sentado em meu colo sabe disso. Estamos todos frígidos. Todos "ensaboados". Nossos botões de nossas calças engorduradas de nosso próprio sêmen não nos implicam como modelos atraentes, garotos de propagandas da Ford.
?!!
Aqui estamos.
!!
Balú, lambe minhas calças. "Cachorro feio! Cachorro feio!".
Alemão gira o volante e sorri, seu bigode grosso e seus dentes amarelos o deixam peculiarmente registrado como apenas uma grande figura. Alguns de nós nascemos para tal feito, sermos apenas uma figura.
Mais um selo destes e minha traquéia fechará para sempre.
Alemão engasga-se. Alemão tem ranho escorrendo de suas narinas abertas. Como estamos nos mantendo na estrada é umas das maravilhas de Deus. Uma lata de cerveja na mão direita, uma chave enferrujada com uma branca mais misturada que 30 reais puderam pagar. Ranho.
Balú está pulando na janela, penso que queira ir ao "banheiro". Balú está livre agora.
....
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"Cortinas interessantes que vocês têm por aqui". Operei meu megafone. Juliana está presente no momento certo. Ela tem ranho escorrendo de suas narinas abertas. Juliana em breve abrirá outra parte de seu corpo. Todos nós sabemos. "Viajando legal, bonitão!", exclama Juliana com seus 80 quilogramas. Sabiamente, sabia viajar sobre tais circunstâncias. Obviamente, sabia encarar uma gorda dessas escrotas. Ainda assim teria que pagar por essa piranha. A cerveja acaba num momento não planejado. Alemão sumiu e com ele foi-se minha carona para o litoral. Vou atrás de uma ninfomaníaca que faria de tudo.. na verdade atrás de uma recompensa, oferecida por uma ninfomaníaca. Mal sabe ela que seu cachorro perdido foi levado pelo acaso no banco do carona e até o cachorro é viciado em porra. Onde foi parar aquele maldito cachorro?
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Minhas sementes se espalhando pelo bar "Tropical".
E a vida não poderia ser melhor do que está.

Jonathan Rodriguez

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DIÁRIO DE BORDO

09/02/09 - 23:48

Paramos na frente da casa de Estéfani. Sim, Estéfani. Grandes tetas e um largo sorriso. As tetas dela, o sorriso meu.
Alemão analisa as paredes, testa o interruptor e vai direto para o disjuntor. Uma casa mofada, asquerosa. Os malditos gatos não param de roçar em meu jeans. Estéfani poderia roçar em meus jeans. É! Aquelas tetas deliciosas, suculentas.
Alemão me obriga a trabalhar. Incrível o que se faz para não permanecer no estado em que nos encontramos... sem dinheiro. Alemão mexe nos disjuntores e provoca um curto, as luzes se apagam. Como um bom profissional que sou, deixo para o chefe de elétrica cuidar do assunto. Como bom cavalheiro que sou, protejo as tetas de Estéfani. Ah sim. Aquelas tetas!
!!!!!
Estéfani solta gemidos de prazer, minha calça jeans está perdida em algum lugar daquela casa fedida. Piso em gatos no meio do caminho.
Estalidos pela noite, minha calça novamente está suja. Não mais suja que Estéfani. Esta nasceu suja. Mas, mesmo ela, não é tão imunda quanto aquela casa.
Subo no forro, encontro ratos mortos e um gambá em decomposição. O cheiro é horrível, amarro minha camiseta para filtrar o ar. Deveria ter trazido as luvas, eu sempre esqueço das luvas. Volto correndo em busca de ar puro, mas meus pulmões encontram o ar da casa e meus olhos encontram Alemão montado em Estéfani. “Fiação completamente podre”, sentencio a morte de todos aqueles fios em apenas uma frase curta. “Consegues remendar?“, tenta a mulher com as tetas para fora. Minha calça está em algum lugar lá em cima e a vida ainda é boa. Mas aqueles fios não têm conserto.

Jonathan Rodriguez

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DIÁRIO DE BORDO
05/05/09 - 03:37

Balú, o cachorro, está de volta. Nós estamos de volta.
Na verdade, somente eu voltei. Estive um pouco perdido depois que Estéfani me tirou o último centavo para pagar a primeira prestação numa banheira de um plástico extremamente vagabundo. Dinheiro não é o problema, a falta dele é o meu problema.
Balú rondava a cidadela junto com um garoto franzino, branco até a ponta de seus fios em seu couro cabeludo, penso que até o sangue daquele moleque seja branco. Seu olhos, pelo amor de Jussara, eram brancos!
Alemão simplesmente sumiu após ir buscar mais cigarros para um possível fim do mundo. Alemão disse que voltaria com um Bacú que duraria por três refeições inteiras. O seu carro foi encontrado num lixão, desmontado. Talvez a única coisa que não conseguiram tirar do carro foi o adesivo do Rock in Rio patrocinado pela Batavo. Imagino que tenha sido lá onde ele teve seu contato com uma das brancas mais brancas jamais vistas e/ou experimentadas. Ele sempre falava dela,porém, não se lembrava exatamente de onde tinha surgido tal fascinação pela branca mais branca jamais vista. Não recebi o meu Bacú aquela noite, mas ainda tinha Estéfani, que secretamente planejava me chupar até o último centavo para pagar a primeira prestação da banheira mais vagabunda, de plástico e cor de rosa, que jamais, alguém poderia imaginar e/ou descrever. Mas que tetas!
Seguindo o bom exemplo de meu professor, o Alemão, resolvi tomar a mesma estratégia. Peguei minha mochila, toda a comida em lata da maloca de Estéfani e uma saia longa e preta que transformei em um kilt (minhas calças sumiram). “Como se transforma uma saia em um kilt?”, você deve imaginar e talvez ousar em perguntar. Apenas a chamo assim e portanto ela não é saia é um kilt. Admiro tal liberdade de meu kilt, minhas calças manchadas não estão me fazendo tanta falta quanto eu pensei que me faria. Talvez por que agora eu não precise de bolsos, mais tarde, talvez, bolsos me façam falta.
Balú, o cachorro mais feio do mundo. Viu uma figura mais do que conhecida naquela noite em que resolvi voltar para a cidadela da piranha gorducha. Balú, o cachorro viciado, estava de volta para o seu guia torto, macambúzio e desatinado. Enquanto Balú continuar latindo para aqueles que tentam roubar nossos “suprimentos” nós estaremos bem.

Jonathan Rodriguez


* só para explicar pro chefe (Irmão Rocha) que abandonei o outro blog e resolvi puxar este personagem para o Di Profundis. então, explicado..hahahaha

Sangue e uísque (reciclagem)

Meus lábios ficam rachados no frio. Sempre que chega o inverno, eles ficam embotados. Um gosto de sangue na boca, portanto, para mim o inverno tem gosto e é de sangue e uísque.

Eu tinha meus bons 18 anos. Bebia como sempre. Estava sentado virado para a pista e com os lábios rachados. Banhava-os no meu velho e companheiro Natu. Sentia uma dor amortecida e estranha. Parado e bêbado como sempre.
Tinha chegado com uma garota morena com uma mecha cor de laranja na frente, baixinha (as baixinhas são as melhores), de olhos claros e com uma tatuagem acima da cintura.. perto lá do rabo. Junto com ela mais dois caras dos quais nunca fui muito com a cara. O problema é que estávamos unidos pela maldita noite.
A música como sempre era uma merda. A morena estava dançando. Ela dançava com uns manés. Eu era o senhor “cool”. Não dançava em absoluto. Quem passou a adolescência inteira bebendo e reclamando não sabe dançar, fato. Eu bebo, é isso que faço (ou fazia).
Um ilustre panaca sentou-se ao meu lado. Pegou uma garrafa de cerveja e falou algo para mim. Eu não dei a menor bola. Ele me cutucou e voltou a falar:

- Cara! Ela tá afim de ti!
- Eu percebi algo – disse.
- É.. é.. ela tá afim sim.

Mordi o lábio. Estava grosso e seco. Eu podia cortar qualquer língua com aqueles lábios. Sangue e uísque.

Ele disse mais uma porção de coisas que não ouvi direito.. Minha condição surda o fez tomar a importante decisão de levantar-se e ir cheirar no banheiro. Ao menos o espelho lhe garantiria algum contato visual.

Ela voltou, com um brilho de suor na testa e com sede. A vadia atacou meu Natu.

- Bah! – fez uma careta – que coisa forte!
- É pra ser. Isso é bebida de homem! – mordendo os lábios.
- Tu tá sangrando!

Ela atacou minha boca áspera. Saímos dali. Não paguei as bebidas. Ninguém nos parou na porta. Me levou aos tropeços a sua casa. Eu morava perto e ninguém precisava saber disso. Entramos naquela moradia pequena, fria, escura, feita de madeira. Uma casa bem bonita e fria. Um cachorro anão e peludo pulou em mim. Ela ficou todo abobalhada e ficou beijando o cachorro.

- Onde fica o banheiro? – perguntei.
- Ali, atrás daquela porta, querido.

“Querido”?!

Mijei.

Voltei.

Ela tirou a roupa, era mais velha que eu. Talvez uns 3 ou 4 anos. Sua tatuagem revelada por inteiro. Um coração com asas e alguma coisa escrita no meio. Me sentei no sofá. Ela fez quase todo o trabalho. Eu mordia o lábio.

Sangue e uísque.

O tempo e os malditos olhos

Minha barriga não pára de crescer.
Meu cabelo não pára de cair..
A boca continua gritando para todos que não se interessam em absoluto...

O meu tempo está passando...

Os olhos não mudam.