20 de nov. de 2008

O caçador de pererecas

“O mestre das respostas vazias”, toda vez era assim. Ela me olhava, aqueles olhos verdes, aquele cabelo liso, aquele rosto angelical e delicado, aquela vagabunda desgraçada. Talvez a única coisa que fazia com perfeição era justamente, me irritar. Era boa em decifrar as charadas e perceber quanto de mentira eu dizia em cada mastigada e goles. Era uma pessoa muito difícil de se conviver, aquela piranha. Uma coisa que aprendi muito tempo atrás quando caçava pererecas, é que as coisas não são tão difíceis quanto aparentam ser (ou pelo menos não devem).

Tinha uns sete anos, quando percebi a incrível facilidade de capturar pererecas. Sim, tão fácil que chegava a ser ridículo. Eu apenas precisava de um tubo e uma tampa. Só. Tem gente que usa rede, tem gente que usa iscas, tem gente que se embrenha no mato. Eu apenas precisava de um tubo e uma tampa. Ia no pátio dos fundos de minha velha casa e levantava algumas cascas de árvores podres que mantinham a umidade em seu fundo. Sempre estava lá, a perereca. O segredo é ter calma em todos os teus movimentos, não bastava apenas saber mexer nas tábuas da forma apropriada, é saber que para prender a perereca será necessário aproximar o tubo por trás dela, pronto! Uma nova prisioneira acabara de nascer.
Caçar moscas para alimentação da perereca, também uma missão ridiculamente fácil. Eu só precisava de uma tampa de ralo. Às vezes eu jogava tantas moscas de esgoto no tubo que a perereca simplesmente cansava-se de pensar em fugir e ficava ali, inerte olhando as moscas baterem no tubo e algumas tomadas por uma letargia incrível, ou por simples instinto suicida, pousavam na perereca e ali descansavam suas asas. O difícil era manter uma perereca feliz. Mesmo com toda a minha atenção e dedicação, aquilo apenas era uma patética figura de algo que um dia poderia pensar, sobre qualquer coisa que envolveria o espírito de uma perereca. Então eu soltava a infeliz e procurava outra que mereceria o meu cárcere, mas, pererecas não nasceram para ser presas. Quanta ironia! Ela, a perereca, a mais fácil de ser caçada e a mais difícil de ser agradada.

E então vem ela, não conhecedora da obra de arte que é caçar pererecas, me chamar de “mestre das respostas vazias”, quanta ousadia!

6 de out. de 2008

Sobre as regras do absurdo II

Os anos passam depressa. Muitas luas carregam para longe os meus sonhos..

Quanta choradeira, para quê ficar reclamando o tempo inteiro? Levanta a bunda do vaso, limpa o furo cagado e esquece quem te esqueceu. A vida continua, teu dedo torto continuará torto, teu cabelo escuro continuará escuro e violentamente registrado nas profundezas de seu código genético. Sua doença continuará incurável e sua safadeza continuará sendo apenas um desvio dessa personalidade de babaca e imprestável! Assim é a vida? Que mais esperava?!

.. e sigo a minha caçada. Alma atormentada que grita insultos para o nada e o nada apenas responde em absoluto silêncio.

11 de set. de 2008

Eu sonho com namoradas fantasmas, cachorros mortos e lugares que não existem. Eu sou muito bom em ignorar as coisas. Talvez uma das minhas melhores qualidades. Um especialista.

Ela está ali, eu sei que não devo, eu sei que não posso...

A minha vista está cansada, melhor colocar meus óculos.

... estive nesse estado milhares de vezes. Achei que já tinha curado. Mas as dores voltaram a aparecer. Talvez eu nunca me cure.

“Qual o seu combustível?”, pergunta sinceramente Jackie Treehorn.

Jackie Treehorn é uma personagem de “O Grande Lebowski”, eu não vejo esse filme há um bom tempo. Não quer dizer que ele não esteja lá. Quando digo “lá”, na verdade, “aqui”. O fato de ter tirado ele da cartola, sem absolutamente saber de onde o havia tirado, é um fato que consigo ignorar.

Os cabelos tingidos de amarelos, a boca macia e suave. O odor e o cheiro de alguém que está ali. Sei que não devo. Sei que não posso.

Ofereço-lhe a minha capacidade de ignorar as coisas e ela aceita, apenas isso, muito bem.

26 de jul. de 2008

sobre o futuro parte 2

Um corredor branco, o ambiente tem um cheiro forte de limpeza e álcool. Todos os funcionários alinhados em fila única. Marcus tem um daqueles tiques nervosos de morder o lábio inferior constantemente. Ele usa o cabelo penteado para trás com muito gel. Isso mais lhe dá um ar apatetado do que refinado. A maioria dos funcionários adotam o estilo liso, ou seja, a maioria dos funcionários tem seus cabelos raspados o que lhe dão um ar limpo e ao mesmo tempo de unidade. Embora a sociedade e a ciência tenham atingido a sua Era de ouro, como estudiosos costumavam a falar, Marcus sentia-se doente mesmo estando mais saudável que um índio recém nascido.

Antonioni tinha um ar rebelde. Ele orgulhava-se de ter nascido fora da área estadual de fiscalização geneticista e sanitária. Ou seja, Antonioni era filho de puristas. A sociedade nunca deixou de ser democrática, embora, os avanços tecnológicos e o mundo como todos conheciam por décadas tenham sido feitos unicamente por interesses capitalistas e por políticos fascistas desumanos e autoritários.
Antonioni; esse nome porque seus pais, membros das partes puritanas (raras nessa Era) quiseram homenagea-lo com um nome de artista. Embora a arte não existisse mais e fosse extremamente desencorajada, ou melhor, proibida. O ser humano havia evoluído pensando objetivamente e racionalmente. Retrocessos não seriam permitidos. A única manifestação de arte existente na Nova Era, o piano. Sim, o piano mantinha os dois hemisférios do cérebro em pleno desenvolvimento, fora as possibilidades matemáticas e coordenativas. Mas, todos tocam piano na Nova Era. Alguns inclusive tocam com mais naturalidade do que defecam.

Antonioni e Marcus trabalham na mesma agência provedora da Área 532, que nada mais é que um laboratório que manufatura humanos para compra e venda. As cidades grandes são divididas em áreas de produção. Não existe sequer um quadrante não produtivo em nenhuma cidade. A função de cada área foi determinada no primeiro mapeamento crítico matemático, obviamente, feito por um computador. Foi se decidido então, que uma cidade produziria o máximo de cada cidadão e espaço (espaço territorial muito importante na Nova Era). A idéia toda é muito simples para falar a verdade. Cada quadrante tem uma função vital para a Grande Área e por fim para o estado. Cada Área é completamente abastecida por energia atômica e eólica. Cada quadrante tem seu grande laboratório. Cada grande laboratório abastece toda a necessidade farmacológica e genética de seus funcionários. Cada funcionário é manufaturado para durar perfeitamente durante 100 anos, cada funcionário tem o dever de servir a Grande Área com seus serviços por exatos 50 anos. Sendo que 20 anos obrigatórios de treinamentos estruturais, psicológicos. lingüísticos, lógicos e constitutivos. Todo o cidadão nasce funcionário. Seu retiramento das Grande Áreas se dá ao fim do ciclo de funcionamento perfeito do corpo manufaturado. Neste momento ele deixa de ser cidadão.

Mas nada disso importa na verdade, eis a história:

Marcus morde o lábio inferior. Antonioni entra logo atrás de Marcus e lhe dá uns tapas nos ombros e desmancha o cabelo impecavelmente armado. Antonioni dá uma risada e tira um cigarro dos bolsos brancos.

- Mas... por quê fazes isto?! – enerva-se Marcus arrumando afobadamente o cabelo.
- Pela diversão e fala comigo que nem um ser humano pelo amor dos céus!
- Eu falo como um ser humano contigo, você que não se porta como um. Que é isso? Voltou a fumar agora? – tirando o cigarro da boca de Antonioni e jogando no chão.
- Ei! Essas coisas custam muitos créditos meu amigo enervado!

Uma mulher vestida de amarelo passa com uma máquina (semelhante um aspirador de pó em nossos ultrapassados dias). Antonioni agacha-se rapidamente e pega o cigarro antes da mulher pegar com o "dispositivo".

- Que vais fazer com isso? – diz a mulher
- Que acha coeficiente baixo? – diz ele botando o cigarro na boca

Todos os funcionários emitem um som de pavor. A mulher sai enojada.

- Que tá fazendo?! – espanta-se Marcus
- Ah, pára! Até parece que tudo aqui não é esterilizado!
- Que tá acontecendo contigo?
- Eu tô de saco cheio, cara! De saco cheio!
- Eu não entendi o que quis dizer. Se tens problemas vai no centro, renova suas células, tudo se resolve.
- É uma metáfora ô coeficiente baixo! Embora seja bom o seu saco estar cheio também.
- Como assim?
- Hoje é sua vez, eu estou no setor de vendas.
- Como consegue estar no setor de vendas com essa atitude e eu continuo pela segunda semana consecutiva no reabastecimento?!
- Eu não sou o rebelde aqui ô cabeludo! – diz arruinando o penteado de Marcus novamente.
- Quer parar?! – diz Marcus arrumando freneticamente os cabelos.

Suzanne, analista fisiológica, passa pela fila e pára na frente de Marcus que está completamente descabelado. Marcus pára reto e morde o lábio inferior. Suzanne ri. Ela passa para o próximo da fila que é Antonioni, ele a olha e lança um meio sorriso com o cigarro apagado no canto da boca. Suzanne joga o cigarro no chão.

- Fostes remanejado. Reabastecimento.

Suzanne passa para o próximo da fila. Marcus olha para trás e ri. Antonioni sorri e empurra disfarçadamente Marcus. Mulher com o dispositivo de limpeza volta e seu dispositivo suga o cigarro.

- Não! – grita Antonioni, voltando logo para a posição de sentido.

Suzanne olha para Antonioni e volta para analisar a fila.

- Essa porcaria custa caro. Aposto que essa aleijada vai vender por 10 créditos!
- O que queres com cigarro? Não renovastes recentemente as células do pulmão.
- Eu renovei tudo. Inclusive as células do coração.
- De novo?
- Tá bom, fígado.
- Fígado! De novo?!!
- Mais saudável que um bebê.
- Desse jeito vai deixar de ser cidadão em 30 anos.
- Ficou sabendo do Grande Ford?!
- Ford?!
- Impressionante que você não saiba nada sobre a literatura.
- Que tem?
- Os ministros das Áreas 419 e 312, renovaram completamente suas células.
- Como assim?!
- Dizem que passam dos 200 anos.
- Duzentos anos?!
- É o que dizem.
- Impossível.
- Nada é impossível. Duzentos anos.
- Malditos políticos.

Uma luz vermelha acende. Um sinal toca. Portas automáticas abrem-se no corredor branco. Os funcionários entram cada um em uma porta. Antonioni aperta a mão de Marcus.

- Melhor agora que depois.

Marcus ri.

Marcus atravessa a porta que se fecha imediatamente. Suzanne está sentada num estofado branco e estremamente reluzente. O lugar como em qualquer outro lugar de qualquer outro do mundo civilizado têm cheiro forte de limpeza e álcool. Marcus lembrava sempre de uma brincadeira em que Antonioni dizia que o cheiro de limpeza e álcool era para disfarçar o odor dos mortos que trabalhavam naqueles lugares. O sonho de Antonioni era de renovação total de suas células, assim ele teria mais tempo de funcionamento e poderia cumprir sua “pena” na Grande Área e viver 100 anos em exílio junto dos viventes das terras de ninguém. Para tal, Antonioni utilizava de seus benefícios obrigatórios que a Área lhe dava, o direito de ser completamente saudável. Assim, sistematicamente, Antonioni acabava com seus órgãos um por um e os renovava completamente. Antonioni tinha mais de 50 anos, mas funcionalmente era um manufaturado de 20 anos. Marcus apenas ria da pretensão insana de Antonioni. Mas em segredo a desejava para si. Não essa pretensão, mas, a insanidade. Infelizmente os geneticistas haviam lhe privado desse prazer. Antonioni também não era insano, apenas fingia ser e todos sabiam disso. Mas, mesmo sabendo que era uma farsa, Marcus gostaria de acreditar tanto numa farsa quanto Antonioni. Agora ele se via numa posição tão primata. Desejava profundamente aquela manufaturada. Os geneticistas não estavam de brincadeira quando fizeram aquela mulher. Era perfeita e ela por sua vez tinha enojado da perfeição. Suzanne era legitimamente insana, era uma viciada em sexo. Muitas manufaturadas são viciadas em sexo, a maioria delas são. A sociedade funcionava melhor assim era o que diziam os estudos. Mas poucas, eram feitas com tanto capricho quanto Suzanne. Agora Marcus pensava “é finalmente minha vez” e ao mesmo tempo pensava na teoria de Antonioni sobre mortos e renovações de células. Pensava em quantos anos realmente tinha Suzanne de funcionamento.

- Tome. – diz Suzanne lhe empurrando uma pílula.

Marcus engole o remédio. Suzanne lhe entrega um copo de alumínio.

Marcus espera que ela saia da sala. Ela fica olhando para as calças de Marcus.

- Agora?
- Claro, tenho que avaliar as condições. Felizmente é o meu trabalho.

O pênis de Marcus endurece. Afinal era para isso que servia a pílula, em instantes seu membro estaria tão cheio de sangue que bombearia durante intermináveis minutos todo esperma que teria produzido no tempo de recesso de intercurso.

Marcus tirou afobadamente o membro das calças e o repousou no recipiente.

- Por quê você tem cabelo?
- Ahm...hummmm..

Era um remédio feito unicamente para o manufaturado atingir o orgasmo. Masculino ou feminino, tanto faz. Ele agia de uma forma semelhante ao LSD, causava aumento dos batimentos cardíacos, o usuário tinha aumento da sua libido e perda temporária de alguns sentidos. Passavam-se os minutos dentro de uma sala apenas ejaculando, o resto das 6 horas, normalmente passava-se desmaiado.
Marcus ajoelha-se. Sua percepção está alterada. Suzanne sabe disso. Suzanne tira a roupa e toma uma pílula. Nas mulheres o efeito é prolongado e as perda dos sentidos é raro. Ela se masturba. Marcus quer tocá-la, mas apenas segura seu membro junto ao copo de alumínio. Marcus é uma pedra. Uma pedra que está ejaculando fazem dois minutos e não percebe. Seu escroto está contraído em breve estará ardendo como se mamonas estivessem no lugar de seus testículos. Suzanne tira o recipiente de perto de Marcus e o lacra.

- É o suficiente! – geme ela deitando Marcus e subindo em seu membro endurecido.

Ele balbucia, tosse afogado em sua própria saliva. Suzanne é louca. Marcus pensa. Suzanne é incrível, por fim sentencia. O teto e Suzanne não param de girar, o branco das paredes é tão reluzente como o sol deveria ser, os mamilos castanhos de Suzanne são tão pontudos quanto dedos em riste. A vida naquele momento é boa, admira-se Marcus.

Marcus acorda seis horas depois. Sozinho no quarto. Marcus coloca as calças.

Marcus caminha-se para onde todos os encarregados dos abastecimentos vão após serviço tão exaustivo. O bar.

1 de jul. de 2008

LIVROS

O primeiro livro que li por livre e espontânea vontade foi “Os mutantes” de Pierre Weil. Graças ao sistema acadêmico, meu pavor por livros teve seu extermínio justamente quando saí do colégio. Obras de fuderosos brasileiros me causam irritação e preconceito. Sim, eu confesso tenho preconceito contra Machado de Assis, Carlos Drummond e seus amigos da literatura brasileira. Quando forçaram a ler “O Alienista” foi como comer brócolis, foda-se os valores nutritivos de um vegetal como o brócolis. Eu não ofereceria um ramo de brócolis para a moreninha, ela olharia com ojeriza e descrença, poderia daí pensar que eu não aprovo sua nutrição e logo, portanto, pensar que eu estaria a chamando de gorda. Uma flor é uma flor, uma pinóia! Pinóia..de onde saiu essa palavra?. Enfim, voltando ao “brócoli” ou melhor aos valores de um livro e como eles nos são empurrados. Machado de Assis, pois é...é chato. Sinto oferecer isso ao universo (nada de novo) mas é CHATO. Eu com 12 anos, não quero ler um livro, eu quero jogar bola, quero dar um beijão na Lú, quero beber cerveja na saída da aula e me achar fodão por isso.

Agora, não que o livro desse tal de Pierre Weil tenha sido grande coisa, mas, foi diferente e isso me bastava. Um universo, uma ideologia e política diferente de como expressar as idéias. Nada era rebuscado, pomposo e enfadonho. Era como ver um filme iraniano. Sim, filme iraniano normalmente é chato. Mas quando se vê um filme iraniano pela primeira vez, você pode muito bem viver o resto da vida sem ver um novamente. Eles trazem uma linguagem, um universo diferente e pronto! Resultado: nunca mais quis ler algo desse espiritualista e Filhos do paraíso já bastam para mim.

Comprar livros é um hobby, para mim. Não uma obrigação. Tem gente que se obriga comprar um livro “Ai meu deus, não li nenhum livro essa semana! EU TENHO QUE COMPRAR UM LIVRO!”. Eu penso com calma em relação a livros. Chego numa livraria por obras do acaso. Meu segundo livro (que comprei), foi a Desobediência Civil, de Henry Thoreau. Na época não sabia por quê diabos, estava comprando um livro do Thoreau (agora acredito que foi por causa de Sociedade dos poetas mortos). Eu simplesmente, abri o livro e li a página inicial, o meio, o final. Comprei. Eu analiso rapidamente o escritor, vejo se a mentira que ele diz me é convincente. Foi assim, aliás, que descobri o Bukowski. Tive minhas porções de Eurekas óbvias para leitores famintos. Mas ninguém nunca me falou deles, eu não os procurei. Simplesmente os achei. Interessante que Weil falava em sincronicidades em seu livro e eu ficava pensando que tudo no universo realmente era regido por elas. Algo me levava a outra coisa e tudo começa a fazer sentido para mim. Leituras obrigatórias me enchiam o saco, mas, ler David Coimbra, Bokowski e o Gibran (apresentado pelo grande amigo Tiago) me causavam preenchimento. Sim, eu era carente, não correspondido pelos livros. Eu queria pizza e bombons de licor e me empurravam brócolis pela garganta.



A propósito: A Saraiva e seus L&PM’s pockets estão com uma variedade vexaminosa de livros para vender. Que pena, pois ao lado da banca da L&PM tem uma banca de DVD’s e os moribundos CD’s . Nessa banca têm grandes filmes custando MENOS que os livros da L&PM e a livraria do Globo agora é uma loja de tênis, ou sapataria. Minha prateleira está dando lugar cada vez mais para filmes como O Show de Jimmy, Clube da luta, Box do Rocky Balboa e Antes do amanhecer com minhas novas chuteiras para sintético logo ao lado.

A propósito II: Sabiam que o brócolis mata as bactérias que causam câncer de estômago? Comam brócolis e leiam Machado de Assis. Não que eu faça mas alguém com mais miolos deve fazê-lo.

A propósito III: Nem as bactérias aturam o temível "brócoli".

18 de mai. de 2008

Levanto meus braços, mas meus braços não levantam. Pulo de um penhasco, não sinto mais a dor. Minha amiga sorri e oferece seu corpo. Ela morreu há tanto tempo. Levanto minha cabeça, fecho os olhos, eles já estavam fechados. Quanto tempo mais? Viro a esquina, a morena de olhos azuis está ali, ela ainda está ali. Meu cachorro late, eu o abraço e brinco com ele. Quero acordar. O frio me faz tremer, estou suando. A voz dela perpétua em minha mente. Estou ficando cansando em meu repouso. Não consigo e não quero. Vejo outra em meus sonhos, perdão. Estou sendo enganado. Eu grito, estou mudo. Não consigo e não quero. Estou imóvel. Não sinto meu corpo, não sinto os detalhes. Tudo está cinza. Ela vive com quem ama. Meus braços imóveis não param de balançar. Que saudades do meu cachorro. Desculpa, eu não pensava que um dia iria pensar nisso.. como ela veio parar aqui? Não imaginava um lugar para ela em minha mente. As luzes não são tão brilhantes. Não consigo e não quero....


Meus olhos ainda estão fechados.

17 de mar. de 2008

Sobre uma certa mulher

Ela estava ficando gorda.

No começo eu não dei muita bola. Eu até gostei. Como diz muitos “a qualidade da picanha é aquela gordurinha em volta”. Realmente uma picanha sem a gordurinha em volta não é picanha. E ela estava no ponto. Meus amigos, no ponto!

Quando a conheci ela era magra. Seus olhos verdes chamavam atenção e seus cabelos longos e lisos talvez fossem uma das coisas que mais me davam tesão por ela. Sinceramente. Nada como aquele cabelo longo, liso e com um cheirinho de canela. Ela uma vez comprou um sabonete todo cheio das frescuras e DEUS ela me deixava louco. Mas era magra. Tinha um bom busto e a bunda era pequena. Mas eu nunca reclamava, não sou nenhum Brad Pitt para exigir uma Jolie e fora que mesmo sendo magrinha era ela muito bonita. Então eu somava dois e tirava um, ainda estava no lucro.

Eu não sou um cara que namora. Eu não tenho o costume de sair de casa muito, não gosto mais de festas e parei de beber já faz algum tempo. Ou seja, eu sou um cara bem chato. Um cara chato que não sai de casa. Então eu não namoro, fora que eu tenho um verdadeiro medo de conhecer os pais delas. Portanto eu fico na minha e finjo que nada me abala. Mas obviamente isso não me deixa na condição de namorado. Eu ando solto e bem solto, sim senhor. E quem tem a coragem de se juntar comigo sabe disso (claro que ela fica solta também, afinal somos ficantes fixos).

Acontece que eu conheci uma garotinha, bem pequeninha que me furava as cuecas de tesão. Também tinha olhos verdes e cabelos tingidos de vermelho. Eu resolvi ir atrás dessa garotinha. O que não agradou a minha magra. Ela resolveu ir atrás de outro.

Acontece que a pequeninha nem deu bola para mim. Fiquei sem ninguém por um tempo. Até que ela voltou. E cara, não estava mais magrinha. Ela estava uma picanha!

Foram uns 6 ou 7 meses de namoro que ela teve com o outro cara. Ou seja, no mínimo uns 4 meses foram de jantas em restaurantes. As mulheres quando arranjam um namorado engordam, isso é sabido. A maioria dos homens não engordam, afinal estar namorando não significa estar fora do mercado. Mas as mulheres não, as mulheres engordam. E ela engordou um bocadinho. Mas, estava gostosa! As pernas tinham alguma carne a mais, os seios me pareciam maiores (ela disse que não, mas eu acho que sim). A barriga não era mais reta e dura, tinha aquela voltinha bem suave e deliciosa e sua bunda estava um tanto maior.

Mas alguma coisa aconteceu. Ela não agüentava mais minha estagnação como ficante fixo. Ela queria mais. Sempre dizia “Eu quero mais que isso porra!”. Ela falava mais palavrão que eu. Ou seja, falava bastante palavrão. Eu ficava quieto e esperava que aquele costume passasse. Quando as mulheres saem de um relacionamento elas ficam mal acostumadas e mimadas demais. Cabe a nós, homens, apenas esperar.

Então do nada, sem consultar. Ela resolveu cortar o cabelo.

Eu perdi muito do tesão por ela nesse dia. E foi mais ou menos na época em que comecei a trabalhar sério no mercado audiovisual. Ou seja, eu estava em péssima forma. Magro, barbado e com olheiras fundas que não davam para curar, já que eu não parava de trabalhar direto. No sex.

Eu não sei se ela sentia estar sendo ignorada, já que eu chegava em casa e desmaiava. Nenhum telefonema, nenhum barzinho na beira do guaíba, nenhuma transa melequenta pós trampo. Nada. Eu chegava e desmaiava. Eu emagrecia cada dia mais e ela engordava!

Chegou num ponto que eu tive que lhe dizer a palavra mágica “querida, tu tá ficando gordinha”. Ela me olhou com raiva “ e tu tá ficando careca e não é mais gostoso!”. Puxa vida.

Eu primeiro fiquei orgulhoso por ter alguém na Terra que me achasse gostoso, depois eu fiquei aturdido com o fato de que eu estava ficando careca.

Foram semanas olhando para o espelho, observando a minha testa. E realmente, eu estava ficando careca. MALDIÇÃO.

Hoje tomo FINASTERIDA. Sim. É um remédio para controlar a queda de cabelo. E ela continua gorda.

25 de fev. de 2008

O corpo um dia cheio de vida, agora estava inerte em meus braços, sem reação, apenas pequenos espasmos musculares. Eu o segurava e ainda sentia o calor saindo de seu corpo e por cima onde haviam pêlos e carne uma ferida gigantesca, vermelha e cascuda. Olhei nos seus olhos que antes cheio de vida, agora tinham esse brilho opaco... os pulmões fracos, a respiração nada anímica... afinal era o meu amigo.. mais de 17 anos.. já sinto sua falta.. eu juro que não quero lhe dar a injeção.. eu juro.. eu juro.

4 de jan. de 2008

Posso ver os seus olhos, ainda posso sentir o seu cheiro. Consigo me concentrar com bastante facilidade, só esqueço disso de vez em quando. Sei do que gosta de ver, do que gosta de ouvir, onde gosta de ser tocada. Sei o que fazer para deixá-la triste, irritada, nervosa e por fim cair aos prantos. Sei de suas cicatrizes, da infância e da sua família. Sei que quando chora, faz sol forte ou simplesmente se irrita seus olhos mudam de cor. Os olhos são a janela da alma, ouvi certa vez.. você é totalmente transparente e eu sou um cara perigoso.. uso óculos escuros e conheço todos teus segredos.