26 de set. de 2007

Ganesh

Acendo um incenso de canela para disfraçar o indisfarçável cheiro da leveza de meus pensamentos. Estou me sentindo tão bem agora, que até acredito em tua existência, mesmo que, eu nunca tenha te visto estando sóbrio ou sem nenhum outro alterador de minha percepção.
Parado aqui tomando um chá de morango, comendo umas Trakinas para aplacar a fome e ouvindo um Coltrane, simplesmente uma tarde perfeita. Eu podia passar meses assim, sem ver a cor do sol.
Agora estou mal, meio bobo, disperso, confuso. Minha BEATficação parece estagnada, estou passando uma fase difícil sem saber muito bem nem o que não sei, nem o que não quero, muito menos o que almejo. Preciso me acalmar, diminuir a inquietação, a ansiedade. Talvez parar com tudo que é sincopado ou bebop e voltar aos berros, grunhidos, etc.
Que ajojo! Realmente não vou sair de casa. Agora não por não querer, pelo menos, não só por isso, também não posso. Me absorva mais, me absrova mais, na minha inércia...Seu sorriso é um paraíso e no ar vou em transe ao sol.
Já não sei se restou algo no ar, já não sei se restou algo a perdeeeerrrrr...

25 de set. de 2007

O que te envergonha?

Já escrevi quase tudo nestes textos até agora, sem muitas frescuras, não me preocupo em falar das bebedeiras, dos fiascos, do uso de drogas, dos traumas, das transas, dos amores, desamores, dissabores, vitórias, euforias, até mesmo, do meus atributos físicos não muito animadores. Toda essa falta de pudor pode dar a impressão de que sou altamente descolado, bacana, um legítimo boa praça. Nada disso, sou retraído, tímido, tenho medos bobos, daqueles bem infantis.
Sabe aquela coisa, interna, que te dá um suadouro quando vai ligar pra alguém? Tenho isso direto e não só com garotas, são raras as pessoas para as quais ligo sem titubear, sem pensar que estarei sendo inoportuno, sem pensar que não tenho muito o que dizer e, portanto, não deveria ligar. Outra coisa que me atemoriza é iniciar uma conversa com alguém não seja muito próximo, realmente próximo, fico adiando por qualquer motivo bobo, até perder a oportunidade e botar a culpa no acaso, nunca na minha falta de iniciativa. Jamais, minha falta de coragem nunca me atrapalhou!
Até quando vou continuar mentindo pra mim mesmo? Bom, talvez, para sempre! Quem sabe com o tempo eu vá invertendo a ordem natural das coisas, serei mais comedido por aqui nestas linhas públicas da web e, pelo contrário, tomar a frente no dia-a-dia. Algo que me traga a felicidade, ou melhor que eu encontre dentro de mim. Não serão pílulas, nem elas, nem mesmo o trago...Vou ali falar com fulana, discutir com cicrano e ligar para o beltrano.

19 de set. de 2007

- E quanto aquela ali?
- Não.. muito alta.

E voltou a beber o pobre alpinista com medo de alturas.

12 Casas

Disperso em pensamentos confusos ele perpassa as páginas do jornal sem nenhum interesse em particular, bate os olhos no horóscopo, procura seu signo, vê boas notícias e não acredita, é claro. Não por desacreditar em horóscopos e sim por não acreditar em boas notícias, ele é pessimista, o mais pessimista de sua geração. Se sente como um uruca, carrega por sobre sua cabeça uma nuvem negra, seus dias são eternamente nublados, mas nunca chove, só fica na ameaça negra!
O telefone está em sua mão, dirige-se até a sacada, quer privacidade. Porém, congela e não liga, isso já virou rotina. É o seu medo, eterno medo do desconhecido, lhe falta coragem, lhe falta garra, em suma, hombridade! Vai passar o dia inteiro flutando pelos ambientes em seu trabalho sem fazer grande coisa, sem falar muito. Afinal, ele desistiu de pensar e agora, mesmo tentando, não consegue mais exprimir o que sente. Só há vazio e neste vazio específico não se ouve nem a palavra. Ele queria libertar sua mente para atingir as antenas no céu...
Joga as cartas mágicas, sai o enforcado, ele sorri, maroto, irônico, talvez até esteja feliz. É, mas seu regozijo dura pouco, seu desejo não vai acontecer, a morte não virá. Na última vez que a viu ela sublimou sua maldade, chegou bem perto, quase o tocou em seus lábios. Porém, deu meia volta e agarrou seu amigo rumo ao paraíso. No enterro, só pensava nela e na rejeição sofrida. Nem a morte o quer, há dias em que o sol não nasceu pra ele, turbilhão. Solidão, caminhar com sapatos novos por óbvio.
Mais um dia se passa e ele nota que está na mesma cama, com a mesma pessoa e vai enfrentar a mesma rotina, realmente não queria ter acordado, mas já que está aí, levanta, se banha, come, pega as fichinhas, desce, vai até a parada, espera, pega o ônibus, lê, lê, observa, lê, chega no campus, etc. Isso não vai acabar nunca!

18 de set. de 2007

Sensorial

São curiosas algumas associações que fazemos por instinto, algumas palavras parecem exalar em sua sonoridade um gosto, uma forma, etc. Quando eu era pequeno tinha uma estranha atração pela palavra alpiste. Não sei explicar o motivo, só sei que pra mim alpiste por assim se chamar deveria ter um gosto bom, muito bom, diga-se de passagem e com certeza seria parecido com um Baconzitos. Eu sabia que era comida de passarinho mas gostava daquela ilusão que pra mim era bastante real. Confesso que me doeu quando finalmente atentei que por mais que eu quisesse, alpiste nunca seria bom de comer e nem se pareceria com Baconzitos. Hoje, nem me preocupo, enjoei de tanto comer o Baconzitos.
O conjunto palavra escrita, símbolo e objeto são bem fortes na nossa construção de Mundo. Porém a repetição de uma palavra faz com que essa perca o sentido. Sapato, Sa - pa - to, Sa, pa, to, sápato, sapatô, sapáto. Como é mesmo? Na verdade não há sentido em sapatos, calças, óculos, hastes. Prince resolveu ser um símbolo, eu quero ser chamado de Guinu e meu casaco é caquicó, nada mais que símbolos, signos inventados. Somos a invenção de nossa raça, somos invenção da invenção de um criador. Criador? Ele criou a dor. Agora me lembro do Tavo que tatuou palavra no braço, ou teria sido palavrá, arvalap, overlap, plic-plac...
Eu não acredito em Feng Shui, ou melhor, sequer conheço profundamente para desacreditar ou não. Sabe sou daqueles que segue a filosofia do ódio consciente, só odeie o que conhecer profundamente. Bom a questão é que o uniforme amarelo com detalhes vermelhos da Romênia na Copa de 94 me dava uma fome do cão! E os nomes tinham um que de comida exótica, Dumitrescu, Popescu, Hagi, que larica! Nomes, nomes são bacanas, nomes me faziam torcer! Sempre fui fã do Camanducaia e do Casiraghi, o primeiro era tosco, mas corria e tinha esse nome fantástico. Hoje, é ex-jogador em atividade, tem idade pra ser meu avô. Já o Casiraghi se aposentou antes que o meu primeiro dente-de-leite caísse, ele jogava na Lazio, time de Mussolini, bela referência. Bom mesmo era comer Lolo, vou tatuar Lolo no meu braço. Não, sou contra tatuagens! Como não tem Lolo, vou de Milkybar.

17 de set. de 2007

Era de Aquarius

Se formos nos informar sobre os grandes expoentes do momento, vamos ver que em sua grande maioria todos buscaram exílios particulares. Isso me faz pensar que realmente esse Mundo não é muito bom mesmo. Mas, convenhamos eles tem culpa nesse cartório. Por gostarem de ostentar essa aura de intocáveis quase castos que não se permitem conviver com os banais, deixam que as forças que não buscam uma melhoria dominarem. Enquanto García Marquez e Galeano, mesmo tendo origem jornalística, preferem silenciar, George Soros da vida palestram por todos os rincões espalhando seus ideais neoliberais. A covardia intelectual deixa a porta aberta para os nefastos corajosos de outras bandas tocarem em alto e bom tom.
Muito fácil é analisar de fora e dissertar sobre todos os erros da humanidade sem acompanhá-la. Por que não viver ao lado dos companheiros? Muito fácil é ser comunista como Niemeyer, tendo muito dinheiro. Isso, claro, não invalida sua genialidade e seu idealismo. Mas com todo o conforto não dói ser socialista. É contraditório mas, com certeza, é muito mais difícil querer o socialismo sendo pobre. Afinal, quem está preocupado com Marx quando se sente fome e não se tem nem um mísero pão dormido para comer. O dia-a-dia nos consome e assim vamos flutuando no que está posto.
O Tom Zé diz que o trabalho deve ser a grande paixão do homem, queres algo mais alienante? Acho que não! Mas o Tom tem razão. O trabalho nunca te trai, nem te surpreende, é algo mecânico, calculado, com a rotina bem definida e essa obsessão te leva a um nível de excelência a certo ponto que tu consegue gozo em algo tão espúrio quanto o trabalho, tem-se aquela sensação de leveza, de fluidez de pensamentos, aquele estágio orgásmico sem sê-lo. Ao atingir a felicidade com algo tão pequeno o ser rompe com suas agruras para viver livremente em êxtase inconcebível, reprovável. Porém, recompensador para uma alma perdida em desilusões. Tudo parece fantasia quando perdemos o senso crítico e nos despimos da vontade em buscar algo melhor para o todo. Afinal, temos que relembrar o amor próprio e nos entregar para nós mesmos. Depois, não, não há depois. Os alquimistas estão chegando...

12 de set. de 2007

Superstar Suicide

Vontades que vêm do nada. Nunca imaginei que eu subitamente fosse tomado da irremediável necessidade de sair de casa e tomar um ar puro. Logo eu, um defensor contumaz do concreto, do urbano, dos apartamentos. Um cidadão claramente contra praias, matos, animais, etc. Mas algo me sufoca e preciso sair daqui. Só me resta um chuveiro rápido, umas roupas leves e uma caminhada até à redenção. Preciso pensar um pouco, espairecer, evitar a rotina da ilusões.
Debaixo de uma chuva de rosas roxas caminho tranquilamente. Porém, ainda me falta a serenidade para as devidas reflexões. Acho que é por medo de descobrir coisas que eu sei e não admito. Esse ambiente que cheira a bucolismo tem paisagens agradáveis que acalentam as almas mais vis.
Passo a passo e eles não dizem nada. Eu sigo sem saber os meus porquês. Sai de mim letargia, xô! As palavras não fluem naturalmente seja via oral ou através da digitação. Não sei o que se passa. Meus pólos que viviam em conflito desistiram da batalha. Ele venceu, o triste venceu, não há mais sorrisos, nem choros, só há o blazê, o sem sal. Sei que os problemas estão em mim. Eu só queria te encontrar te tirar aí do fundo e pegar na tua mão para te ver feliz. Eu ti vi cantar, pular, torcer, sentir, viver. Sai da morte, sai nenêm. Por favor, por nós! Me salva como sempre. Me tira do desencanto.
Obstinação e garra, o que eram características, agora são estranhos. Parecem aqueles primos do interior que tu uma vez a cada cinco ou seis anos. Demora tanto para o reencontro que você esquece que eles existem. Devolva minha língua, recarregue minha caneta, encha o meu copo.

6 de set. de 2007

Rádio

Sentado em um dos bares da rua da praia tomando sua cerveja calmamente. Na verdade, mais preocupado em observar aqueles que por ali passam. Como de costume enquanto bebe, lê. Esse vai ser mais um livro que não vai terminar, vai ler um capítulo, talvez dois e parar. Ele se deixa ficar preso por uma metodologia criada por si próprio e essa amarra conduz seu dia-a-dia que não faz jus a sua capacidade. Absorto em pensamentos ele quase não pensa no que vai responder pro garçom, seu velho conhecido, sósia do irmão daquele cara que eu sei, ele sabe, tu sabe e vocês não sabem.
Ainda se pergunta por que traiu sua ideologia por causa de uns trocados. Mas afinal, o que essa ideologia lhe deu? Dor, só dor. Seu mundo é impossível e nem aqueles que supostamente defendem o seu mundo lhe ajudaram. Por vileza do destino só seus inimigos lhe estenderam a mão. É sempre assim! Não consegue respostas, erra e sabe por que. Mas não muda. O que está acontecendo? Por que a derrota, se a vitória seria tão fácil? Talvez, seja a necessidade de fazer humor com sua própria tragédia, deve ser por isso esse momentos comédia pastelão.
Amanhã nada vai ter mudado, vai chegar em seu trabalho, em cima do horário como de praxe e repetir seu discurso ensaiado quando fizer a tradicional saudação comicamente ameaçadora que faz tremer os homens de pouca fé! Sua carga horária se destina a cumprir seu papel. Ser apenas mais um personagem desse cotidiano à lá Praça é Nossa. Personagem essa que um dia interpretou por acaso e não mais conseguiu se livrar da maldita. Maldita, mardita! Sempre ela! Se não fosse a cachaça... Medo de vencer nos impede de ganhar.