17 de nov. de 2009

Banzé

Ontem eu vi um cachorro no meio da rua perseguindo um carro.

Na verdade eram dois vira-latas, mas somente um cachorro perseguia o carro. O outro se contentava em apenas olhar o parceiro suicida. Ambos mancavam. Provavelmente, já foram atropelados por outros carros e persistem em persegui-los.

Na hora achei trágico e incrivelmente engraçado. A burrice daqueles cachorros, mas ao mesmo tempo, aquilo me fez sorrir. A alegria tola (praticamente infantil) que tão clara e maravilhosamente fazia a alma daquele banzé feliz. Ele queria, queria muito, correr atrás dos carros. Seu rabo (assim como de seu parceiro) balançava freneticamente. Bobos.

Então eu percebi.. eu sou um dos cachorros mancos. Sou o que persegue carros iguais aqueles que já me atropelaram e eu sinto aquela alegria tola. Enchendo meus pulmões, que me fazem gritar e suar de alegria e excitação. Se eu tivesse um rabo, estaria balançando-o nesse momento.

Bobo.

28 de set. de 2009

MARCUS

Quando eu tinha 5 anos lembro de ter me apaixonado por Bianca.. Ah, Bianca, morena, olhos castanhos.. ou seriam cor de mel? Bianca, muito mais madura que eu. Tinha 6 anos.. Quanta diferença podem existir em um ano? Talvez muitas, Bianca me tratava como um irmão mais novo.. disso, eu nunca esqueci. Os primeiros passos para minhas futuras frustrações;
Dos 12 aos 17 anos eu era o cara mais forte da turma, o atleta mais promissor, o adolescente revoltado, o mais criativo e o que bebia mais. Ao fazer 18 anos todas as qualidades se transformaram subitamente em defeitos. Eu estava defecando em toda a minha vida. Uma merda que estava sendo produzida por 18 anos;
Resolvi que inteligência não me levaria a lugar nenhum com nenhuma mulher. E tudo que me interessa nessa vida é mulher. Tentei tocar guitarra numa banda. Fracassei. Tentei deixar a barba crescer e ler poemas em bares e analisar filmes franceses. Fracassei nisso também. Entrei na academia, isso ajudou um pouco, mas não muito.. Por fim comprei um carro. Buceta necessita de um chofer;
Thais, a ninfomaníaca. Todos queriam Thais. Todos tinham Thais.. Ela saía com homens fortes, homens gordos, homens feios, homens bonitos, brancos, negros, asiáticos, mulheres.. Thais era uma piranha que todos diziam ser uma benção para um homem sem escrúpulos como eu. Transar com Thais não era o problema, o problema era não transar com Thais.. o que se pode fazer com uma mulher dessas, senão, transar? Thais era uma mentirosa, assim como eu. Dois mentirosos, numa relação de mentira. Unidos e separados pelo sexo. Mas no fim o sexo nem valeu a pena;
Sou o combinado de minhas frustrações. Eu sou Marcus. Não será um prazer em me conhecer.

(garota olhando para Marcus com olhar assustado; Marcus toma um gole de cerveja e SORRI)

2 de ago. de 2009

O visionário apaixonado

Por entre os dedos de suas mãos, eu decifro todo o seu futuro.
Por entre suas pernas ,eu me descubro perdido no presente.
Olhando em seus olhos, eu percebo que meu coração continua adoecido.
Meu passado se entrega por entre sua língua e dentes.
Minha condição de destino.

13 de jun. de 2009

Parada Agendada

Joguei meus papéis fora, minha blusa e meu violão.
Era verão e estava quente
Os meus dedos rijos não serviam para tocar uma viola
E minha falta de poesia não poderia ser perpetuada.

9 de jun. de 2009

O cachorro

Eu sou o cachorro que foi maltratado
Que passou fome, quando deverias ter me alimentado
Tenho pulgas e carrapatos
Um infeliz jogado ao descaso
Cachorro triste e solitário
Não importa quantos anos passem
Quando tu apareces, o cachorro sempre abana o rabo

6 de jun. de 2009

Sobre as leis das probabilidades (de te fuderem sempre)

- Quinze! Vai parar ou vai continuar?!

Filho da puta, fica aí todo grandão só porque não é o dele que tá na reta. Não posso mais sobreviver de fiado. Quando comprei minha primeira mercadoria fiado eu paguei no dia seguinte. Depois vai relaxando, quando se vê, tá na merda. Nem um pacote de pães você consegue lograr.

- Quinze!
- Manda!

Que jogo estúpido, que jogo estúpido.

- Cinco!

Ele já ia dar por encerrado, ia virar as cartas. Esse merda armou a última pra ele, eu tinha certeza disso. Aquela última carta eu VI! EU VI! Ele tirou de baixo do baralho. Eu que não sou tapete velho já fui pra cima. O problema de enfrentar essa bocas brabas sozinho é que não tem ninguém pra te ajudar a segurar os amigos deles.

Porra! Eu tinha vinte! VINTE!

O filho da puta estava com um doze naquela maldita mesa e aquela cartinha que ele tirou de baixo do baralho ia fazer a diferença. Filho da puta!

Joguei toda a minha grana na mesa e insultei o cara, chamei de frouxo e covarde. Desafiei o sacana a pegar uma carta de cima do baralho. Obviamente ele não quis. LADRÃO! Lutei novamente. Me derrubaram. Então resolvi que não valia a pena perder meus dentes. Queria ver aquela carta, eu sabia, ele tinha sacaneado. Virou a carta:

- Oito!

É assim que eles te deixam sem grana. Agora eu não sabia se ele armou a próxima jogada ou guardava a carta certa pra me pressionar. E naquela altura eu não podia simplesmente bater na mesa. EU DEVERIA, mas NÃO QUERIA!

Eu pensei. Tentei ser racional. Ele cortou esse baralho em dois. Provavelmente dividiu ele em dois na hora de embaralhar e manipulou com as cartas necessárias para um empate. O que ele NUNCA faria, é deixar o Ás na próxima, vai que eu sou um maluco que acredita na sorte? Não, ele deixaria um seis ou algo violento como um valete e ainda iria rir de mim. Se eu bater na mesa, ele dá um jeito de pegar aquele Ás pra ele. Eu me fodo legal. Pedir um baralho novo está fora de questão. Isso é só em filmes ou em jogos decentes. Eu tirei a conclusão que eu estava onde nenhum homem na madrugada gostaria de estar. Num lugar que te deixam fudido.

Pulei na mesa e tentei acertar um chute no queixo do infeliz. Eu iria perder, mas ia com estilo.

Apanhei. Me acalmei e sentei na cadeira de novo.

- Manda logo esse valete, ladrão – eu disse.

Ele riu e lançou a carta. E era um maldito valete de copas.

A casa sempre ganha.

2 de jun. de 2009

Ciborgue Juvenil

Perdido num mundo que só pede e não devolve
Você é pisado e é pisado
Ofendido para não poder reclamar e brigar por seu lugar
Num mundinho esquecido para nunca se alinhar

Pára tudo que tens que fazer e conta os dias para estudar
Você é pisado e é pisado
Largado num mundo que só pede e te devora
você é pisado e é pisado

Pensa com cuidado com o que vai trabalhar menino!
só pensa em estudar?
Pensa com trabalho num cuidado que você vai ter encarar!

O perigo é se achar num lugar que você não quer ficar.


(já q o irmão rocha e eu estamos relembrando os tempos de juventude embriagada, revoltada e etcétera e tal.. vai uma letra de uma banda que nunca existiu )

15 de mai. de 2009

A árvore

Ele parou na frente de seu amigo de infância. Cresceram juntos e agora eram dois estranhos. Ele desamarrou sua gravata e apontou para o seu amigo desleixado, deitado embaixo de uma árvore antiga.

- Sabe qual é o problema nisso tudo?!
- Qual? – disse tragando seu cigarrinho de palha e baforando alguns anéis de fumaça – qual o problema?
- Você fica aí parado, apenas observando a sombra que a árvore faz das oito da manhã até as seis da tarde, fuma seu cigarro de palha tranqüilamente sem nenhuma preocupação real. Apenas está aí, respirando e sorrido para as formigas e nuvens. Você se ocupa em não pensar em nada do que as pessoas decentes pensam, desse jeito você irá virar um vagabundo!
- E qual é o problema de estar fazendo o que me agrada neste momento?
- É que isso me incomoda!
- Mas, por quê?!
- Porque EU queria estar fazendo isso!

“ Mas, de qualquer forma, eu não queria ser nada na vida. E nisso, certamente, eu estava sendo bem sucedido.” Charles Bukowski

Jonathan Rodriguez (reciclado)

DIÁRIO DE BORDO:
08/02/09 – Exatamente 23 horas.


A corrida é insana. Meu amigo sabe disso. Eu sei disso. O cachorro sentado em meu colo sabe disso. Estamos todos frígidos. Todos "ensaboados". Nossos botões de nossas calças engorduradas de nosso próprio sêmen não nos implicam como modelos atraentes, garotos de propagandas da Ford.
?!!
Aqui estamos.
!!
Balú, lambe minhas calças. "Cachorro feio! Cachorro feio!".
Alemão gira o volante e sorri, seu bigode grosso e seus dentes amarelos o deixam peculiarmente registrado como apenas uma grande figura. Alguns de nós nascemos para tal feito, sermos apenas uma figura.
Mais um selo destes e minha traquéia fechará para sempre.
Alemão engasga-se. Alemão tem ranho escorrendo de suas narinas abertas. Como estamos nos mantendo na estrada é umas das maravilhas de Deus. Uma lata de cerveja na mão direita, uma chave enferrujada com uma branca mais misturada que 30 reais puderam pagar. Ranho.
Balú está pulando na janela, penso que queira ir ao "banheiro". Balú está livre agora.
....
...
..
.
"Cortinas interessantes que vocês têm por aqui". Operei meu megafone. Juliana está presente no momento certo. Ela tem ranho escorrendo de suas narinas abertas. Juliana em breve abrirá outra parte de seu corpo. Todos nós sabemos. "Viajando legal, bonitão!", exclama Juliana com seus 80 quilogramas. Sabiamente, sabia viajar sobre tais circunstâncias. Obviamente, sabia encarar uma gorda dessas escrotas. Ainda assim teria que pagar por essa piranha. A cerveja acaba num momento não planejado. Alemão sumiu e com ele foi-se minha carona para o litoral. Vou atrás de uma ninfomaníaca que faria de tudo.. na verdade atrás de uma recompensa, oferecida por uma ninfomaníaca. Mal sabe ela que seu cachorro perdido foi levado pelo acaso no banco do carona e até o cachorro é viciado em porra. Onde foi parar aquele maldito cachorro?
....
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Minhas sementes se espalhando pelo bar "Tropical".
E a vida não poderia ser melhor do que está.

Jonathan Rodriguez

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DIÁRIO DE BORDO

09/02/09 - 23:48

Paramos na frente da casa de Estéfani. Sim, Estéfani. Grandes tetas e um largo sorriso. As tetas dela, o sorriso meu.
Alemão analisa as paredes, testa o interruptor e vai direto para o disjuntor. Uma casa mofada, asquerosa. Os malditos gatos não param de roçar em meu jeans. Estéfani poderia roçar em meus jeans. É! Aquelas tetas deliciosas, suculentas.
Alemão me obriga a trabalhar. Incrível o que se faz para não permanecer no estado em que nos encontramos... sem dinheiro. Alemão mexe nos disjuntores e provoca um curto, as luzes se apagam. Como um bom profissional que sou, deixo para o chefe de elétrica cuidar do assunto. Como bom cavalheiro que sou, protejo as tetas de Estéfani. Ah sim. Aquelas tetas!
!!!!!
Estéfani solta gemidos de prazer, minha calça jeans está perdida em algum lugar daquela casa fedida. Piso em gatos no meio do caminho.
Estalidos pela noite, minha calça novamente está suja. Não mais suja que Estéfani. Esta nasceu suja. Mas, mesmo ela, não é tão imunda quanto aquela casa.
Subo no forro, encontro ratos mortos e um gambá em decomposição. O cheiro é horrível, amarro minha camiseta para filtrar o ar. Deveria ter trazido as luvas, eu sempre esqueço das luvas. Volto correndo em busca de ar puro, mas meus pulmões encontram o ar da casa e meus olhos encontram Alemão montado em Estéfani. “Fiação completamente podre”, sentencio a morte de todos aqueles fios em apenas uma frase curta. “Consegues remendar?“, tenta a mulher com as tetas para fora. Minha calça está em algum lugar lá em cima e a vida ainda é boa. Mas aqueles fios não têm conserto.

Jonathan Rodriguez

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DIÁRIO DE BORDO
05/05/09 - 03:37

Balú, o cachorro, está de volta. Nós estamos de volta.
Na verdade, somente eu voltei. Estive um pouco perdido depois que Estéfani me tirou o último centavo para pagar a primeira prestação numa banheira de um plástico extremamente vagabundo. Dinheiro não é o problema, a falta dele é o meu problema.
Balú rondava a cidadela junto com um garoto franzino, branco até a ponta de seus fios em seu couro cabeludo, penso que até o sangue daquele moleque seja branco. Seu olhos, pelo amor de Jussara, eram brancos!
Alemão simplesmente sumiu após ir buscar mais cigarros para um possível fim do mundo. Alemão disse que voltaria com um Bacú que duraria por três refeições inteiras. O seu carro foi encontrado num lixão, desmontado. Talvez a única coisa que não conseguiram tirar do carro foi o adesivo do Rock in Rio patrocinado pela Batavo. Imagino que tenha sido lá onde ele teve seu contato com uma das brancas mais brancas jamais vistas e/ou experimentadas. Ele sempre falava dela,porém, não se lembrava exatamente de onde tinha surgido tal fascinação pela branca mais branca jamais vista. Não recebi o meu Bacú aquela noite, mas ainda tinha Estéfani, que secretamente planejava me chupar até o último centavo para pagar a primeira prestação da banheira mais vagabunda, de plástico e cor de rosa, que jamais, alguém poderia imaginar e/ou descrever. Mas que tetas!
Seguindo o bom exemplo de meu professor, o Alemão, resolvi tomar a mesma estratégia. Peguei minha mochila, toda a comida em lata da maloca de Estéfani e uma saia longa e preta que transformei em um kilt (minhas calças sumiram). “Como se transforma uma saia em um kilt?”, você deve imaginar e talvez ousar em perguntar. Apenas a chamo assim e portanto ela não é saia é um kilt. Admiro tal liberdade de meu kilt, minhas calças manchadas não estão me fazendo tanta falta quanto eu pensei que me faria. Talvez por que agora eu não precise de bolsos, mais tarde, talvez, bolsos me façam falta.
Balú, o cachorro mais feio do mundo. Viu uma figura mais do que conhecida naquela noite em que resolvi voltar para a cidadela da piranha gorducha. Balú, o cachorro viciado, estava de volta para o seu guia torto, macambúzio e desatinado. Enquanto Balú continuar latindo para aqueles que tentam roubar nossos “suprimentos” nós estaremos bem.

Jonathan Rodriguez


* só para explicar pro chefe (Irmão Rocha) que abandonei o outro blog e resolvi puxar este personagem para o Di Profundis. então, explicado..hahahaha

Sangue e uísque (reciclagem)

Meus lábios ficam rachados no frio. Sempre que chega o inverno, eles ficam embotados. Um gosto de sangue na boca, portanto, para mim o inverno tem gosto e é de sangue e uísque.

Eu tinha meus bons 18 anos. Bebia como sempre. Estava sentado virado para a pista e com os lábios rachados. Banhava-os no meu velho e companheiro Natu. Sentia uma dor amortecida e estranha. Parado e bêbado como sempre.
Tinha chegado com uma garota morena com uma mecha cor de laranja na frente, baixinha (as baixinhas são as melhores), de olhos claros e com uma tatuagem acima da cintura.. perto lá do rabo. Junto com ela mais dois caras dos quais nunca fui muito com a cara. O problema é que estávamos unidos pela maldita noite.
A música como sempre era uma merda. A morena estava dançando. Ela dançava com uns manés. Eu era o senhor “cool”. Não dançava em absoluto. Quem passou a adolescência inteira bebendo e reclamando não sabe dançar, fato. Eu bebo, é isso que faço (ou fazia).
Um ilustre panaca sentou-se ao meu lado. Pegou uma garrafa de cerveja e falou algo para mim. Eu não dei a menor bola. Ele me cutucou e voltou a falar:

- Cara! Ela tá afim de ti!
- Eu percebi algo – disse.
- É.. é.. ela tá afim sim.

Mordi o lábio. Estava grosso e seco. Eu podia cortar qualquer língua com aqueles lábios. Sangue e uísque.

Ele disse mais uma porção de coisas que não ouvi direito.. Minha condição surda o fez tomar a importante decisão de levantar-se e ir cheirar no banheiro. Ao menos o espelho lhe garantiria algum contato visual.

Ela voltou, com um brilho de suor na testa e com sede. A vadia atacou meu Natu.

- Bah! – fez uma careta – que coisa forte!
- É pra ser. Isso é bebida de homem! – mordendo os lábios.
- Tu tá sangrando!

Ela atacou minha boca áspera. Saímos dali. Não paguei as bebidas. Ninguém nos parou na porta. Me levou aos tropeços a sua casa. Eu morava perto e ninguém precisava saber disso. Entramos naquela moradia pequena, fria, escura, feita de madeira. Uma casa bem bonita e fria. Um cachorro anão e peludo pulou em mim. Ela ficou todo abobalhada e ficou beijando o cachorro.

- Onde fica o banheiro? – perguntei.
- Ali, atrás daquela porta, querido.

“Querido”?!

Mijei.

Voltei.

Ela tirou a roupa, era mais velha que eu. Talvez uns 3 ou 4 anos. Sua tatuagem revelada por inteiro. Um coração com asas e alguma coisa escrita no meio. Me sentei no sofá. Ela fez quase todo o trabalho. Eu mordia o lábio.

Sangue e uísque.

O tempo e os malditos olhos

Minha barriga não pára de crescer.
Meu cabelo não pára de cair..
A boca continua gritando para todos que não se interessam em absoluto...

O meu tempo está passando...

Os olhos não mudam.

23 de abr. de 2009

Feliz Páscoa

Estava em perplexidade, não poderia ser. Tudo naquele momento havia mudado. Eu era outra pessoa. Todos meus preceitos e noção de mundo real haviam caído por fim em terra. Tudo tinha se esvaído. Nenhuma esperança.. quando descobri que o coelho da páscoa e papai Noel não existiam, eu senti o gosto amargo da realidade e a fumaça marejou meus olhos. Só me restavam os gols em preto e branco de garrincha e o Grêmio de Felipão.
Desde então sou um cético, e espalho minha visão de mundo instável e sem Deus ordenhando sua vaca para dar requeijão.

Miss Abril

A primeira vez é inesquecível.
A primeira namorada , mesmo com seus olhos verdes, é perecível..
O primeiro de abril é retroativo... saudades dos olhos verdes.

17 de mar. de 2009

Sobre a alegria tola

Segurava um saco de pipocas grande em minha mão direita. Na esquerda um copo de plástico de refrigerante. Com algum gene malabarístico com as duas mãos (ainda que ocupadas) segurava minha carteira, um ticket, o troco e meu celular.

E ela não sabia o que fazer com minhas duas bolas.

Mas ninguém nega um passeio no parque, mesmo quando todos os brinquedos estão estragados, ainda existem os carrinhos de bate bate. Isso, meus amigos, é uma alegria efêmera e tola, mas sempre compramos nosso ingresso.

E quem gostaria de entender metáforas para a vida?

MISS MARÇO

Tinha o toque, tinha a suavidade e maciez. Lindos lábios, lindo sorriso, cheiro maravilhoso, olhos castanhos e grandes, pele rosada. A mais linda de todas as misses.

Inteligente, sarcástica, esperta e debochada. A mais interessante dentre todas as misses.

Não minto, ela intimidava. A mais completa jamais vista. Ela estava ali, ela estava. Infelizmente faz alguns anos que Miss Março perdeu sua coroa.

Sempre me lembrarei com tristeza e carinho, aquele Março de 1999.

O mês da mais bela, inteligente, interessante, enfim, completa dentre todas a misses.

E ainda assim, mesmo tão completa e perfeita, sentia o tempo todo que lhe faltava algo.

5 de fev. de 2009

Mauá

Lembro da vez em que estive no paraíso, sim, já passei as férias por lá.

Cruzada ingrata, essa minha, descrever o paraíso.

Creio que tudo começa com a estrada de chão batido, caminho para os portões de entrada principal. Um caminho arborizado, onde prostitutas escorrem de suas folhas e deitam-se, nuas, pelo seu caminho. A estrada para o paraíso não deve ter mais que cinco quilômetros, mas, como devem imaginar, o caminho parece ficar cada vez mais longo. O cheiro inconfundível de sexo, toma o ar, o longo e arborizado caminho deste paraíso. Existem outras rotas que se pode seguir para chegar até lá, mas, este me foi ensinado assim e não arrisco tomar nenhum outro caminho desde então.

Ao chegar aos portões do paraíso, mulheres esculpidas em bronze e decoradas com flores lhe oferecem vinho e cerveja. Sim, cerveja. Longos caminhos de espelhos percorrem um grande vale, o maior jamais visto. Neste vale de espelhos, encontrei a última pessoa que poderia imaginar por ali: eu.

Entre tantos reflexos, achei aquele que estava me faltando, há muito. Minha imagem escarrada, com um sorriso largo e fixo, quase como se alguém tivesse rasgado meu rosto e remodelado daquela maneira. “Ai está você!”, exclamei. Minha imagem sorria. Alguns dizem que obtiveram respostas de seus reflexos, obviamente não poderia acreditar em malucos. Todos sabem que os reflexos não respondem com palavras, N-U-N-C-A!

Gibraltar, o aborígene. Tinha o tamanho de um átomo e a sede de saber de uma criança de 3 anos. Ele descansava em minhas botas de couro ressecadas. Pensei estar com o calçado errado para perambular pelo paraíso. Minha sombra paquerava borboletas as esmagando com os polegares. É assim que as sombras costumam dizer “eu te amo”. Excelente tática.

Mais tarde percebera que Gibraltar descansava em paz. Não se distribuíam talco no paraíso (pude perceber), e cara, estava quente lá.

Palhaços aspiravam as nuvens feitas de cocaína, as únicas virgens que restavam, tentavam modificar suas datas de nascimento. A maioria no paraíso era de Sagitário ou Leão, percebi que astrologia tinha um grande impacto na cultura local, lá, no paraíso.

Por fim, exausto, deitei na grama repleta de conchas brancas. Observava uma nascente de espumas e bolhas, apenas alguns metros de distância. Uma sereia me dizia que tudo ficaria bem. Eu acreditei, enquanto as prostitutas vendiam meus órgãos pela internet.

Aaah, saudades do paraíso.

3 de fev. de 2009

Miss Fevereiro

Fevereiro

Estou observando a minha vida no espelho. Ossos fortes, traços firmes, rugas, trapézio, barriga desleixada, cicatrizes. Algumas cicatrizes não são visíveis ao olho do ser humano, mas, estão ali.

Fevereiro, existe algo nisso que me incomoda, o mês de fevereiro. Talvez por ele ser tão peculiar entre os doze. E ser tão diferente entre doze semelhantes, é algo louvável e intrigante. Fevereiro tem a vida curta, porém, não menos intensa. Nada impede que grandes acontecimentos ocorram entre seus 28 ou 29 dias. O mês que nos deixa mais velhos, com eficiência e rapidez impressionantes.

Eu a conheci logo após a Bianca. Mas, lembro ter me apaixonado muito depois. Sim, lembro do exato momento em que me apaixonei. Mas não uma paixão boba, passageira. Uma paixão intensa, um amor verdadeiro e incondicional. Talvez, o sentimento mais puro e genuíno que um dia terei. Alguns podem dizer com quantos anos ou em que época de suas vidas sentiram o amor pela primeira vez, pouquíssimos podem determinar com tamanha precisão, quase que cirúrgica, o momento em que PERCEBERAM que estavam de frente a um dos sentimentos mais assustadores e dolorosos da vida de qualquer ser humano. Eu sei quando me apaixonei, eu estava lá!

Terceira série. Descia as escadas do colégio, ia beber água. Ela na cantina, esperava a merenda. Algo de estranho acontecia, eu olhei para ela, em sua calça de abrigo, cabelos castanhos lisos e olhos que mudavam de cor, e eu sentia algo diferente. Estava nervoso pela primeira vez perto dela. Uma amiga comum, de todos os dias e de tantas brincadeiras e brigas. Deveria continuar em frente, mas, algo me disse para ir beber água. Eu o fiz, e olhei novamente para ela. Seu sorriso fez meu coração pulular, minha respiração estava mais forte, senti uma eletricidade em todo o meu corpo, uma adrenalina.. o que haviam colocado naquela maldita água?!
Enfim, ela me chama. Pede ajuda com sua mochila. Os poucos anos seguintes, que muito se passaram, maravilhosos.
Tudo isso por causa de alguns segundos. Os segundos, tão displicentemente menosprezados, me marcaram muito mais do que 22 anos. O que daria para voltar aqueles poucos segundos, onde senti que estava vivo e pensava que tudo ia ficar bem.

Sinto sua falta, miss Fevereiro.

3 de jan. de 2009

Miss Janeiro

JANEIRO

Não sei pontuar a minha lembrança mais remota. Muito menos, a minha paixão mais antiga. Apenas, posso teorizar sobre o assunto e tentar descrever da melhor maneira possível. Os fatos e a ordem deles não ocorreram assim, mas, é como eu me lembro deles (não será preciso citar a frase de Ethan Hawke sobre os chavões novamente, certo?).

O nome dela é Bianca. Era minha vizinha de apartamento. Lembro muito pouco dela, do seu rosto, da sua voz e o que fazíamos. Lembro que tinha um cabelo escuro e longo, que o prendia com um rabo de cavalo. Mas a maneira que a descrevo, pode ser completamente mentirosa, quão acostumado estou com as peças que minha mente me prega e constantemente me traí.

Lembro de estar levemente apaixonado e não saber o que sentia. Uma vez, no terraço do prédio, perguntei inocentemente se ela me aceitava como seu namorado. Lembro que a resposta nunca veio. Lembro não ter ficado incomodado, nem ter tocado mais no assunto. Embora isso tudo possa ser mentira, quem poderá saber?!

Certa vez, ela havia ganho uma pasta de dente. Para mim viria ser uma novidade impressionante. Não era um pasta Colgate, isso já seria uma das coisas mais impressionantes (existiam outras pastas de dentes!). Era uma pasta Tandy, tinha um esquilo desenhado no tubo, o sabor era de morango. Lembro disso apenas por que ela, na inocência de uma criança, tinha lambuzado o dedo e me dado para provar a pasta. Talvez ela me visse como um irmão mais novo (ela tinha um ano a mais que eu) ou talvez não.

Como todo bom relacionamento; brigas! Nossa briga mais marcante foi no quarto dela. Estávamos brincando, eu tinha um urso e ela um palhaço de plástico que ria quando se dava corda. O motivo da briga? Não recordo. Apenas lembro de estar puxando freneticamente a corda do palhaço até ela não voltar mais, ela gritava e rasgava as orelhas do meu urso. Eu joguei o palhaço na parede, o que fez ele se desmontar. Mas ela só chorou de raiva, quando eu arranquei meu urso das suas violentas mãos, mãos torturadoras de pelúcias, e fui embora batendo a porta de seu apartamento. Algumas horas mais tarde estávamos no parque, convivendo, como se nada tivesse acontecido.

Janeiro, é o mês das novidades. Mesmo que as novas estejam velhas, é a oportunidade de conhecer e tentar (até buscar), pelo novo. Talvez, nesse caminho, consigamos nos descobrir enquanto lambemos as feridas dos meses passados.

Ou talvez não.