20 de nov. de 2008

O caçador de pererecas

“O mestre das respostas vazias”, toda vez era assim. Ela me olhava, aqueles olhos verdes, aquele cabelo liso, aquele rosto angelical e delicado, aquela vagabunda desgraçada. Talvez a única coisa que fazia com perfeição era justamente, me irritar. Era boa em decifrar as charadas e perceber quanto de mentira eu dizia em cada mastigada e goles. Era uma pessoa muito difícil de se conviver, aquela piranha. Uma coisa que aprendi muito tempo atrás quando caçava pererecas, é que as coisas não são tão difíceis quanto aparentam ser (ou pelo menos não devem).

Tinha uns sete anos, quando percebi a incrível facilidade de capturar pererecas. Sim, tão fácil que chegava a ser ridículo. Eu apenas precisava de um tubo e uma tampa. Só. Tem gente que usa rede, tem gente que usa iscas, tem gente que se embrenha no mato. Eu apenas precisava de um tubo e uma tampa. Ia no pátio dos fundos de minha velha casa e levantava algumas cascas de árvores podres que mantinham a umidade em seu fundo. Sempre estava lá, a perereca. O segredo é ter calma em todos os teus movimentos, não bastava apenas saber mexer nas tábuas da forma apropriada, é saber que para prender a perereca será necessário aproximar o tubo por trás dela, pronto! Uma nova prisioneira acabara de nascer.
Caçar moscas para alimentação da perereca, também uma missão ridiculamente fácil. Eu só precisava de uma tampa de ralo. Às vezes eu jogava tantas moscas de esgoto no tubo que a perereca simplesmente cansava-se de pensar em fugir e ficava ali, inerte olhando as moscas baterem no tubo e algumas tomadas por uma letargia incrível, ou por simples instinto suicida, pousavam na perereca e ali descansavam suas asas. O difícil era manter uma perereca feliz. Mesmo com toda a minha atenção e dedicação, aquilo apenas era uma patética figura de algo que um dia poderia pensar, sobre qualquer coisa que envolveria o espírito de uma perereca. Então eu soltava a infeliz e procurava outra que mereceria o meu cárcere, mas, pererecas não nasceram para ser presas. Quanta ironia! Ela, a perereca, a mais fácil de ser caçada e a mais difícil de ser agradada.

E então vem ela, não conhecedora da obra de arte que é caçar pererecas, me chamar de “mestre das respostas vazias”, quanta ousadia!