24 de out. de 2007

Pelo seu "cú"

TU

Tu é um fudido!
É preconceituoso, mentiroso, manipulador e ator de arena.
Tu é o culpado!
Tu e tu!
Egoísta, egocêntrico filha da puta!
O mundo gira em torno de sua casa e tu gira nesses calcanhares de velho sábio quando a coisa fede pro teu lado.
COVARDE!

TU É COVARDE!

26 de set. de 2007

Ganesh

Acendo um incenso de canela para disfraçar o indisfarçável cheiro da leveza de meus pensamentos. Estou me sentindo tão bem agora, que até acredito em tua existência, mesmo que, eu nunca tenha te visto estando sóbrio ou sem nenhum outro alterador de minha percepção.
Parado aqui tomando um chá de morango, comendo umas Trakinas para aplacar a fome e ouvindo um Coltrane, simplesmente uma tarde perfeita. Eu podia passar meses assim, sem ver a cor do sol.
Agora estou mal, meio bobo, disperso, confuso. Minha BEATficação parece estagnada, estou passando uma fase difícil sem saber muito bem nem o que não sei, nem o que não quero, muito menos o que almejo. Preciso me acalmar, diminuir a inquietação, a ansiedade. Talvez parar com tudo que é sincopado ou bebop e voltar aos berros, grunhidos, etc.
Que ajojo! Realmente não vou sair de casa. Agora não por não querer, pelo menos, não só por isso, também não posso. Me absorva mais, me absrova mais, na minha inércia...Seu sorriso é um paraíso e no ar vou em transe ao sol.
Já não sei se restou algo no ar, já não sei se restou algo a perdeeeerrrrr...

25 de set. de 2007

O que te envergonha?

Já escrevi quase tudo nestes textos até agora, sem muitas frescuras, não me preocupo em falar das bebedeiras, dos fiascos, do uso de drogas, dos traumas, das transas, dos amores, desamores, dissabores, vitórias, euforias, até mesmo, do meus atributos físicos não muito animadores. Toda essa falta de pudor pode dar a impressão de que sou altamente descolado, bacana, um legítimo boa praça. Nada disso, sou retraído, tímido, tenho medos bobos, daqueles bem infantis.
Sabe aquela coisa, interna, que te dá um suadouro quando vai ligar pra alguém? Tenho isso direto e não só com garotas, são raras as pessoas para as quais ligo sem titubear, sem pensar que estarei sendo inoportuno, sem pensar que não tenho muito o que dizer e, portanto, não deveria ligar. Outra coisa que me atemoriza é iniciar uma conversa com alguém não seja muito próximo, realmente próximo, fico adiando por qualquer motivo bobo, até perder a oportunidade e botar a culpa no acaso, nunca na minha falta de iniciativa. Jamais, minha falta de coragem nunca me atrapalhou!
Até quando vou continuar mentindo pra mim mesmo? Bom, talvez, para sempre! Quem sabe com o tempo eu vá invertendo a ordem natural das coisas, serei mais comedido por aqui nestas linhas públicas da web e, pelo contrário, tomar a frente no dia-a-dia. Algo que me traga a felicidade, ou melhor que eu encontre dentro de mim. Não serão pílulas, nem elas, nem mesmo o trago...Vou ali falar com fulana, discutir com cicrano e ligar para o beltrano.

19 de set. de 2007

- E quanto aquela ali?
- Não.. muito alta.

E voltou a beber o pobre alpinista com medo de alturas.

12 Casas

Disperso em pensamentos confusos ele perpassa as páginas do jornal sem nenhum interesse em particular, bate os olhos no horóscopo, procura seu signo, vê boas notícias e não acredita, é claro. Não por desacreditar em horóscopos e sim por não acreditar em boas notícias, ele é pessimista, o mais pessimista de sua geração. Se sente como um uruca, carrega por sobre sua cabeça uma nuvem negra, seus dias são eternamente nublados, mas nunca chove, só fica na ameaça negra!
O telefone está em sua mão, dirige-se até a sacada, quer privacidade. Porém, congela e não liga, isso já virou rotina. É o seu medo, eterno medo do desconhecido, lhe falta coragem, lhe falta garra, em suma, hombridade! Vai passar o dia inteiro flutando pelos ambientes em seu trabalho sem fazer grande coisa, sem falar muito. Afinal, ele desistiu de pensar e agora, mesmo tentando, não consegue mais exprimir o que sente. Só há vazio e neste vazio específico não se ouve nem a palavra. Ele queria libertar sua mente para atingir as antenas no céu...
Joga as cartas mágicas, sai o enforcado, ele sorri, maroto, irônico, talvez até esteja feliz. É, mas seu regozijo dura pouco, seu desejo não vai acontecer, a morte não virá. Na última vez que a viu ela sublimou sua maldade, chegou bem perto, quase o tocou em seus lábios. Porém, deu meia volta e agarrou seu amigo rumo ao paraíso. No enterro, só pensava nela e na rejeição sofrida. Nem a morte o quer, há dias em que o sol não nasceu pra ele, turbilhão. Solidão, caminhar com sapatos novos por óbvio.
Mais um dia se passa e ele nota que está na mesma cama, com a mesma pessoa e vai enfrentar a mesma rotina, realmente não queria ter acordado, mas já que está aí, levanta, se banha, come, pega as fichinhas, desce, vai até a parada, espera, pega o ônibus, lê, lê, observa, lê, chega no campus, etc. Isso não vai acabar nunca!

18 de set. de 2007

Sensorial

São curiosas algumas associações que fazemos por instinto, algumas palavras parecem exalar em sua sonoridade um gosto, uma forma, etc. Quando eu era pequeno tinha uma estranha atração pela palavra alpiste. Não sei explicar o motivo, só sei que pra mim alpiste por assim se chamar deveria ter um gosto bom, muito bom, diga-se de passagem e com certeza seria parecido com um Baconzitos. Eu sabia que era comida de passarinho mas gostava daquela ilusão que pra mim era bastante real. Confesso que me doeu quando finalmente atentei que por mais que eu quisesse, alpiste nunca seria bom de comer e nem se pareceria com Baconzitos. Hoje, nem me preocupo, enjoei de tanto comer o Baconzitos.
O conjunto palavra escrita, símbolo e objeto são bem fortes na nossa construção de Mundo. Porém a repetição de uma palavra faz com que essa perca o sentido. Sapato, Sa - pa - to, Sa, pa, to, sápato, sapatô, sapáto. Como é mesmo? Na verdade não há sentido em sapatos, calças, óculos, hastes. Prince resolveu ser um símbolo, eu quero ser chamado de Guinu e meu casaco é caquicó, nada mais que símbolos, signos inventados. Somos a invenção de nossa raça, somos invenção da invenção de um criador. Criador? Ele criou a dor. Agora me lembro do Tavo que tatuou palavra no braço, ou teria sido palavrá, arvalap, overlap, plic-plac...
Eu não acredito em Feng Shui, ou melhor, sequer conheço profundamente para desacreditar ou não. Sabe sou daqueles que segue a filosofia do ódio consciente, só odeie o que conhecer profundamente. Bom a questão é que o uniforme amarelo com detalhes vermelhos da Romênia na Copa de 94 me dava uma fome do cão! E os nomes tinham um que de comida exótica, Dumitrescu, Popescu, Hagi, que larica! Nomes, nomes são bacanas, nomes me faziam torcer! Sempre fui fã do Camanducaia e do Casiraghi, o primeiro era tosco, mas corria e tinha esse nome fantástico. Hoje, é ex-jogador em atividade, tem idade pra ser meu avô. Já o Casiraghi se aposentou antes que o meu primeiro dente-de-leite caísse, ele jogava na Lazio, time de Mussolini, bela referência. Bom mesmo era comer Lolo, vou tatuar Lolo no meu braço. Não, sou contra tatuagens! Como não tem Lolo, vou de Milkybar.

17 de set. de 2007

Era de Aquarius

Se formos nos informar sobre os grandes expoentes do momento, vamos ver que em sua grande maioria todos buscaram exílios particulares. Isso me faz pensar que realmente esse Mundo não é muito bom mesmo. Mas, convenhamos eles tem culpa nesse cartório. Por gostarem de ostentar essa aura de intocáveis quase castos que não se permitem conviver com os banais, deixam que as forças que não buscam uma melhoria dominarem. Enquanto García Marquez e Galeano, mesmo tendo origem jornalística, preferem silenciar, George Soros da vida palestram por todos os rincões espalhando seus ideais neoliberais. A covardia intelectual deixa a porta aberta para os nefastos corajosos de outras bandas tocarem em alto e bom tom.
Muito fácil é analisar de fora e dissertar sobre todos os erros da humanidade sem acompanhá-la. Por que não viver ao lado dos companheiros? Muito fácil é ser comunista como Niemeyer, tendo muito dinheiro. Isso, claro, não invalida sua genialidade e seu idealismo. Mas com todo o conforto não dói ser socialista. É contraditório mas, com certeza, é muito mais difícil querer o socialismo sendo pobre. Afinal, quem está preocupado com Marx quando se sente fome e não se tem nem um mísero pão dormido para comer. O dia-a-dia nos consome e assim vamos flutuando no que está posto.
O Tom Zé diz que o trabalho deve ser a grande paixão do homem, queres algo mais alienante? Acho que não! Mas o Tom tem razão. O trabalho nunca te trai, nem te surpreende, é algo mecânico, calculado, com a rotina bem definida e essa obsessão te leva a um nível de excelência a certo ponto que tu consegue gozo em algo tão espúrio quanto o trabalho, tem-se aquela sensação de leveza, de fluidez de pensamentos, aquele estágio orgásmico sem sê-lo. Ao atingir a felicidade com algo tão pequeno o ser rompe com suas agruras para viver livremente em êxtase inconcebível, reprovável. Porém, recompensador para uma alma perdida em desilusões. Tudo parece fantasia quando perdemos o senso crítico e nos despimos da vontade em buscar algo melhor para o todo. Afinal, temos que relembrar o amor próprio e nos entregar para nós mesmos. Depois, não, não há depois. Os alquimistas estão chegando...

12 de set. de 2007

Superstar Suicide

Vontades que vêm do nada. Nunca imaginei que eu subitamente fosse tomado da irremediável necessidade de sair de casa e tomar um ar puro. Logo eu, um defensor contumaz do concreto, do urbano, dos apartamentos. Um cidadão claramente contra praias, matos, animais, etc. Mas algo me sufoca e preciso sair daqui. Só me resta um chuveiro rápido, umas roupas leves e uma caminhada até à redenção. Preciso pensar um pouco, espairecer, evitar a rotina da ilusões.
Debaixo de uma chuva de rosas roxas caminho tranquilamente. Porém, ainda me falta a serenidade para as devidas reflexões. Acho que é por medo de descobrir coisas que eu sei e não admito. Esse ambiente que cheira a bucolismo tem paisagens agradáveis que acalentam as almas mais vis.
Passo a passo e eles não dizem nada. Eu sigo sem saber os meus porquês. Sai de mim letargia, xô! As palavras não fluem naturalmente seja via oral ou através da digitação. Não sei o que se passa. Meus pólos que viviam em conflito desistiram da batalha. Ele venceu, o triste venceu, não há mais sorrisos, nem choros, só há o blazê, o sem sal. Sei que os problemas estão em mim. Eu só queria te encontrar te tirar aí do fundo e pegar na tua mão para te ver feliz. Eu ti vi cantar, pular, torcer, sentir, viver. Sai da morte, sai nenêm. Por favor, por nós! Me salva como sempre. Me tira do desencanto.
Obstinação e garra, o que eram características, agora são estranhos. Parecem aqueles primos do interior que tu uma vez a cada cinco ou seis anos. Demora tanto para o reencontro que você esquece que eles existem. Devolva minha língua, recarregue minha caneta, encha o meu copo.

6 de set. de 2007

Rádio

Sentado em um dos bares da rua da praia tomando sua cerveja calmamente. Na verdade, mais preocupado em observar aqueles que por ali passam. Como de costume enquanto bebe, lê. Esse vai ser mais um livro que não vai terminar, vai ler um capítulo, talvez dois e parar. Ele se deixa ficar preso por uma metodologia criada por si próprio e essa amarra conduz seu dia-a-dia que não faz jus a sua capacidade. Absorto em pensamentos ele quase não pensa no que vai responder pro garçom, seu velho conhecido, sósia do irmão daquele cara que eu sei, ele sabe, tu sabe e vocês não sabem.
Ainda se pergunta por que traiu sua ideologia por causa de uns trocados. Mas afinal, o que essa ideologia lhe deu? Dor, só dor. Seu mundo é impossível e nem aqueles que supostamente defendem o seu mundo lhe ajudaram. Por vileza do destino só seus inimigos lhe estenderam a mão. É sempre assim! Não consegue respostas, erra e sabe por que. Mas não muda. O que está acontecendo? Por que a derrota, se a vitória seria tão fácil? Talvez, seja a necessidade de fazer humor com sua própria tragédia, deve ser por isso esse momentos comédia pastelão.
Amanhã nada vai ter mudado, vai chegar em seu trabalho, em cima do horário como de praxe e repetir seu discurso ensaiado quando fizer a tradicional saudação comicamente ameaçadora que faz tremer os homens de pouca fé! Sua carga horária se destina a cumprir seu papel. Ser apenas mais um personagem desse cotidiano à lá Praça é Nossa. Personagem essa que um dia interpretou por acaso e não mais conseguiu se livrar da maldita. Maldita, mardita! Sempre ela! Se não fosse a cachaça... Medo de vencer nos impede de ganhar.

28 de ago. de 2007

Colóquio Repentino

Lá pela qurta cerveja...

- Sabe, tava pensando esses dias no meu ideal de morte. Não, não é nada de papo suicida. Mas só uma viagem de como gostaria de morrer...Tu gostaria de morrer como?
- Ah, dormindo, ora. Sem sofrimento para mim e pros outros. De quebra ainda morro com uma cara serena, com uma certa dignidade.
- Como se a tua cara póstuma fosse enganar alguém!
- Ah, não fode!
- Mas, na boa, que chatice, morrer durante o sono, por favor! Eu quero morrer num acidente de carro, algo trágico, espalhafatoso, causar comoção!
- Ah, por que eu sempre começo as frases por ah, ?, Na real isso aí é só mais um traço da tua megalomania.
- Pode ser, mas o que eu quero é glorificação. Essa vida não vale de muito, dificilmente vamos marcar nossos nomes acho que uma morte traumática seria o ideal para uma perpetuação...
- Não fala merda. A morte deve ser nosso descanso, se morrer assim, quando muito vai mostrar que era mais um inconsequente dirigindo pinguço por aí.
- Tá mas ouça o meu plano B. Talvez, tu goste. O - VER - DO - SE! Em mais uma farra uma cheirada depois de beber e queimar tudo e pronto, morro felicíssimo da silva. Por sinal, eu não me conformo em nunca ter cheirado.
- Putaquepariu! Começou tudo outra vez!!! Tu não tem jeito né? Será que toda aquela maconha e o LSD não foram suficientes? Quem tu conhece que tenha usado e abusado de drogas e seja bem sucedido?
- Ah, o, o, o Wesley Snipes!
- Não, um cara branco porra!
- O Wesley Snipes? Tá, mas eu não sou o que pode se chamar de um jovem mal sucedido, posso?
- Depende de qual ângulo vamos analisar...Grana, talvez não. Mas acho que tu não quer que eu fale do teu problema com relacionamentos, quer? E nem tô falando de namoro e sim de qualquer relação interpessoal. Eu sou um dos teus poucos amigos e sei que não dá pra encher uma mão com os outros...
- Ah, mas vivemos numa era de poucas amizades...
- Isso é desculpa, tu não faz nenhuma questão em ser bacana, em tentar ser simpático. De vez em quando um sorriso na cara não faz mal, viu?
- Ah, tá bom, tá bom. Vamos descer mais uma?
- Vamo!

26 de ago. de 2007

Rousseau

O sol ilumina aquela tarde de quase quarenta graus. Enquanto isso, o rio segue seu curso tranquilo, lá Tapuia se banha para tirar o cansaço pós-caçada. O Índio que nem é velho, nem é moço, está no meio do caminho, está satisfeito por ter garantido a comida por um bom tempo ao abater uma simpática onça que jaz há alguns metros da água límpida que o purifica. Calmamente passa a mão pelo braço esquerdo, depois pelo direito, pelas pernas e assim segue retirando o sangue jorrado pelo animal quando da batalha dos fortes contra os fracos.
Terminado o banho sua pele seca ao natural devido ao calor que só aumenta. Tapuia talvez não saiba mas agora são 13 horas. Sua lança, objeto de orgulho e de trabalho, passa a ser a peça central do dia de Tapuia. Curiosamente a dedicação em limpar sua companheira é muito maior do que no próprio asseio, o que antes era um instrumento quase rubro devido ao acúmulo de sangue parece estar novo em folha recobrando sua coloração amadeirada natural.
Lança limpa na mão e alimento às costas assim ele seguiu sua marcha rumo ao encontro da tribo. Sim, aquela mesma velha tribo, com as mesmas pessoas de sempre e os mesmos rituais de todos os santos dias. Lá chegando, começa a carnear a onça para em seguida assá-la. Depois de feito isso, o beijo na testa amargurada de sua Iracema (sua Iracema! Não aquela chata do José de Alencar!!!). Tudo o que ela queria era uma comunidade de crianças para criar. Mas alguma maldição, algum trabalho em alguma encruzilhada qualquer ou excesso de canabbis sativa lhe impedem de ter um rebento sequer. Mas afinal para que servem os filhos? Para comer em um buffet quando você passa mal?
Chega a noite Tapuia e Iracema não fazem mais sexo. Então, ligam a televisão para ver a novela das oito. Incoerência? Eles também merecem se alienar.

21 de ago. de 2007

A CULPA É TODA SUA!!!


agora vai embora daqui...

Língua de Sogra

O meu remédio favorito para cicatrizar feridas sempre foi o álcool, deve ser por isso que no sábado comecei a ingerí-lo logo a uma e meia da tarde. Tá certo que o álcool sempre de uma forma ou outra é encaixada na minha rotina, não existe papo sem ele, não existe festa, comemoração, etc. Bom, nesse sábado eu estava precisando mesmo...Fazia muito tempo que não ficava um sábado inteiro longe de casa, mas não tinha outro jeito. Felizmente, depois de alguma procura encontrei quem me acompanhasse no tradicional ato de afogar as mágoas. Andando meio cabisbaixos pela Cidade Baixa, notamos que não há bares abertos. Então, fomos pra Lanchera. Atravessar a Redenção em um dia chuvoso é de fazer o mais valente tênis tremer, pobre Puma surrado.
Conversa vai, conversa vem e eu provando mais uma vez meu dom em consolar os outros. Sim, eu numa merda, consolando outra pessoa, típico. Eta nuvem negra! Bom não posso reclamar, o papo foi bom, muito bom. Até risadas dei! Logo eu que não mostro muito os dentes. Fui apresentado a uma agradável livraria ali na Garibaldi, quase no Pietro, um ambiente classsicamente pseudo-intelectual, casinha de madeira, livros novos de editoras estranhas, som bacana, mesinha para chá, etc. O problema de quando fico mal é que meu lado consumista aflora. Saí mais pobre do recinto, fazer o que? Afinal, não posso dispensar um Kerouac novo - uma peça - um Caio Fernando e claro um Fante.
Às vezes coisas parecem cair do céu. Eu em uma festa de criança? Pois é, que momento interessante. Voltei alguns anos no tempo e lembrei dos meus aniversários. Retornei a realidade e vi aquela vivacidade infantil, fiquei entusiasmado ao ver um coloradinho uniformizado dos pés a cabeça, a número nove às costas, taí o nosso artilheiro para a segunda década do milênio! Lá pelas tantas me pego em uma vibrante disputa de vôlei, um contra um, com balão rosa. A garotinha simpatizou comigo, fico um tanto quanto perplexo. Pois, pensei que a minha maldade e rancor fossem indisfarçáveis...Me lembro dos bons tempos de piá, nos quais minha vó, mesmo muito doente, em seu leito, me fazia correr de um lado para o outro numa brincadeira semelhante.
Aos poucos a agitação diminui, as crianças aquietam, as mães suspiram aliviadas e eu volto para downtown, só passo em casa para pegar a grana e um pedaço de pizza. Táxi para que? Vamos a pé, é pertinho! Mais umas cervejas, algumas risadas, alguns silêncios constrangedores e doídos e, também, agradáveis encontros surpreendentes. Depois de filas, indecisões e pernadas e afins e etc e tals, entramos em uma noite qualquer com músicas que não tocam ao meu coração ou minha mente eternamente lisérgica...Basta uma pequena parada para que fique remoendo o que me atormenta, sem clima para festa vou embora. No fim, valeu a pena, um sábado que não foi perdido, mesmo que às quatro da manhã esteja em posição fetal com lágrimas nos olhos.

19 de ago. de 2007

Murió

Lá estava ele, compenetrado em sua eterna reclamação, ninguém me nota, ninguém me quer, ninguém me olha, ninguém fala comigo. Ele não percebe mas está se excluindo, se tornando insuportavelmente chato, ao ponto de acabar com qualquer sentimento que alguém por ele pudesse nutrir. Nada mais faz e por óbvio não tem nada a dizer, seus diálogos se repetem, sempre em tom depressivo de total desilusão e com séria dificuldade de exprimir o que realmente está sentindo. Passa os dias como se fosse um moribundo zumbi, até seus irrefutáveis dons estão opacos, ofuscados por sua terrível falta de vontade de viver.
Sua cara de pau é tanta que mesmo sem nunca ter um sorriso para dar, sem ter uma palavra bonita para dizer, sem ter a capacidade de empatia com os outros, quer que estes o tratem bem, como ele acha que merece. Ele quer ser amado sem amar, ele quer ser notado sem notar os outros, ele quer reconhecimento sem merecê-lo. Muita pretensão para quem pouco faz a não ser resmungar pelos cantos e chorar internamente. Todos tem problemas mas para ele só o seus importam.
A inércia desses últimos tempos já lhe custou muito, lhe custou amigos, festas, dias de felicidade no estádio Beira-Rio, etc. Até o golpe fatal vir nada lhe fez despertar para o problemas consigo mesmo. Finalmente o tapa seco em sua face fez acender o alerta vermelho, talvez seja tarde demais. Mas ao fim e ao cabo ele percebeu que ninguém olha para quem está morto. Portanto, só lhe resta viver...

12 de ago. de 2007

Epaê

O final de semana está terminando e cá estamos nós altamente compenetrados em nosso compromisso jornalístico, já faz cinco dias que nos encontramos nessa pousada e a fumaça no ar de maneira alguma diminui a seriedade de nosso trabalho. Apesar de fazer um belo dia estou enxergando tudo cinza, estou ouvindo a batucada que ele faz, seus uivos primitivos me confirmam a idéia de que ele é um elo perdido entre Xapanã e os aborígines da Austrália. Não entendo exatamente o que está acontecendo, só sei que nós cinco estamos conectados por essa sinfonia animalesca, ou talvez, isso seja tudo viagem do absurdo consumo de canabbis dos últimos minutos, segue a batucada e os outros esmurrugando, eu só fecho e toco fogo, fazendo fumaça.
Que alívio sinto em minha alma desprovida de bons sentimentos, estou livre para odiar, me sentindo uma diva, meus braços flutuam no ar comemorando os dias comuns em que ninguém é especial. Como sou belo, pareço um retrato esculpido por Deus. Ah, coitados estão tão abaixo de mim, pobrezinhos. Mas não tenho pena, não merecem. Pobres mortais não merecem a piedade de entidades superiores. É impossível acreditar que ele siga invocando os espíritos malignos da liberdade, por que ele faz isso? Chega! A grande verdade é que estou cansado de ser quem eu sou, sem sequer sentir vergonha de ser assim, me impressiona minha própria disfaçatez. Quem diabos eu penso que engano? Eles sabem, eu sei que eles sabem e finjo não saber.
Não, eu não consigo ser uma boa pessoa, eu não consigo ser corajoso, eu não consigo ser homem, eu não consigo ser nada. É o fracasso potencializado sabe-se lá em quantas vezes. Já me perdi em todas as bocas, já não ouço mais nada, me sinto violado, usado, sujo. Mas mesmo assim sigo inerte. Não consigo nem limpar minha face, sequer posso juntar minhas mãos para pedir o supremo perdão. Logo eu que sempre te neguei, cá estou de joelhos, te pedindo clemência. Me desculpe, mas por favor, me purifique...
Ah, acho que no final das contas isso é só a falta de uma boa transa.

9 de ago. de 2007

Kurt Vonnegut será lembrado!

..Tudo começou à melhorar quando o terceiro Papa do novo milênio foi raptado por um grupo de terroristas urbanos, eles cortaram o corpo em quatro grandes pedaços e distribuíram as partes pelas praças da Itália.

A sociedade começou à questionar sobre a ordem no Reino de Deus.

Os Estados Unidos, sempre eles, decidiram que a política e a ciência não deveria mais ligar a mínima para os valores e preceitos daquela antiga religião, já há tempos moribunda. Não que eles ligassem para isso antes, mas agora era oficial. E se os EUA tinha liberado, o mundo poderia ao menos tentar..

Cientistas da Alemanha abriram uma espécie de fábrica de “galinhas”. Na verdade, eram seres humanos produzidos sem pedaços do cérebro e vendidos para laboratórios com custos baixíssimos.

Assim: quando os Estados Unidos proibiram a igreja de manifestar-se contra qualquer avanço tecnológico, as pessoas começaram se revoltar contra o governo americano. Então eles jogaram bombas.. então todos concordaram. A igreja não servia mais para nada mesmo, então a religião passou a ser oficialmente um hobby. Humanos vinham sendo cobaias de experiências e mutações genéticas por anos. Mas as pessoas se chocaram muito facilmente quando a notícia que a cura para o câncer já existia, porém, custava muitas vidas de crianças acéfalas. A sociedade ainda estava em choque, quando outros cientistas da América propuseram um exercício criativo. Agora era permitido brincar de Deus (se escrevia “deus”), já que “deus” era um hobby e não mais um ser sobre-humano e que poderia vingar-se à noite. Pois bem, foi quando cientistas da Alemanha descobriram uma maneira de manipular geneticamente fetos humanos para aparentarem superficialmente uma galinha.

A sociedade ainda se chocava facilmente, por isso os Estados Unidos decidiram que esse tipo de informação não sairia daquele círculo. O mais difícil foram as penas, os seres humanos – galinhas saíam completamente pelados. Com muita dificuldade conseguiram aplicar um químico que transformava os pêlos em algo poroso e branco, visto de longe pareciam penas, ainda mais visto pela televisão. Mais tarde eles tirariam esse químico porque era muito mais barato “galinhas” peladas. Nenhuma máquina precisaria depená-las, mais barato. Seus cérebros não eram completos, manipulados geneticamente com pequenos pedaços faltando. Isso permitia que as “galinhas” nascessem com um cérebro que não recebia informação de dor. Por exemplo, os cientistas fatiavam as “galinhas” e elas nem batiam as asas, na verdade ficavam tão aborrecidas e de saco cheio que muitas dormiam enquanto eram brutalmente assassinadas.

Isso barateava o custo novamente. O governo podia ter mais dinheiro para investir, já que agora era praticamente impossível roubá-lo todo, eles se viam obrigados à investir em algo urgente.

Casas de burlesco gratuitas foram instaladas em praticamente todas as esquinas. Era mundialmente conhecido os benefícios do sexo casual. E cidadãos felizes produzem mais. Era o que os cientistas falavam sem parar.

As DST’s foram extinguidas, graças às “galinhas”. Existia uma mulher na África que era imune à essas doenças, ela nasceu assim. Ninguém dava bola, nem ela, todos eram imunes agora, grande coisa. A África era o continente mais rico do mundo, os americanos decidiram que lá tinha muito mais espaço. Levaram todo o sonho americano para os africanos. Metade dos animais foram mortos para as cidades nascerem. A seca não era mais um problema porque agora era incrivelmente fácil manipular o tempo e os animais não fariam falta mesmo.

A Mc Donald’s decidiu retirar-se do ramo dos hambúrgueres quando surgiram boatos de que estes eram feitos de “galinhas”. Isso deu início ao que todos chamaram de “comida de astronauta”. Chamaram assim no começo, depois os astronautas viraram tão patéticos e mundanos, que ninguém mais chamava as comidas de laboratório assim.

E isso tudo em um ano...

5 de ago. de 2007

Não Era Dose Dupla

Depois que a goteira seca é que nos encontramos de verdade, nós dois podemos perceber quem somos e se realmente gostamos um do outro. Quando a luxúria cessa, nos resta a conversa, aí mora o perigo. Afinal existem pontos em comum? Ou teremos que conversar sobre coisas que não podemos mudar trabalho, dinheiro, pessoas, etc. Aqueles momentos pós-êxtase são bastante estranhos, não é a toa que muitos se viram e põem-se a dormir, depois do clímax resta algo? Deve ser por isso que os casamentos andam em crise, se baseiam no sexo e convenhamos quem sente real atração por pessoas pelancudas, gordas, desgastadas pelo tempo...
É, por isso, que eu não durmo e não te deixo dormir, preciso saber de ti, saber de nós. Não quero ser um retrato que nunca envelhece e, portanto, tenho que saber se queres algo mais, se consegues dar algo mais, ser mais do que movimentos, mordidas, beijos e libido. Já tive quem nada me acrescentasse, já teve quem me encantasse mas não causasse desejo físico e, até mesmo, quem tivesse sabor fantástico mas de conteúdo opaco. Por isso de ti nunca esqueço, foste tudo, o antes, o durante e o depois. A diversão como deve ser, lúdica, quase infantil, com uma conexão além do químico, beirando o esoterismo. Na conversa não há assunto que não possa desenvolver e melhor de tudo tens opinião, não és mais uma, és única.
Agora só queria tomar um chá e dividí-lo contigo para depois passear nesse friozinho provinciano que encanta, andar por esses parques tipicamente portoalegrenses abraçado contigo, sem ter hora para voltar, sem ter para onde ir, sem obrigações despidas de vontade. Mas não é possível, estou aqui longe, bem longe, trabalhando em uma causa infundada, em uma casa funesta. Quando tiver um tempo vou ler alguma coisa útil, só para não ficar com a impressão de que esse Domingo foi em vão...
Por entre os buracos da cortina me encanto com essa vista bucólica, esse frio de mármore e essa saudade que me dói.

1 de ago. de 2007

C-3

É impossível escapar do paradoxo destino/acaso, quem nunca pensou nisso, quem nunca se introjetou nesses pensamentos? Mas aquele abraço fraterno, aquele encontro surpreendente, aquele carinho inesperado de onde vieram? Combinado não foi, é claro. Mas seria realmente obra de algo maior, não sei, provavelmente não. Isso somos nós que precisamos justificar tudo, criar um sentido na rotina que passa e nos leva sem paradas ao fim que não desejamos.
Maior do que isso, é tentar descobrir o que afinal é vida. Tudo parece tão inadequado. Então, o que é vida? O que é viver bem? Diante da letargia me parece que só queremos afeto e, é isso que buscamos, por vezes de forma bem inquietante, numa antítese do que queremos. Quando os dias se tornam cinzas é impossível diferenciar o bem do mal, é difícil pensar, reagir, atacar, etc.
Por vezes me sinto um passageiro de mim mesmo, de minha existência que no momento parece sem sentido. Nada vem para motivar, nada melhora nem piora, simplesmente não muda. Tudo é igual, indiferente para mim. Assim vou, me acordo mesmo não querendo, levanto, vou trabalhar, estou aqui, volto pra lá, vou pra casa, evito sair, sair pra quê? Janto, não sinto gosto, engulo como quem come papel. Monossilabo um pouquinho para manter as aparências. Até sermão dos mudos ouço. É, não tem como ficar pior, durmo, não me acordem...

24 de jul. de 2007

Sobre o temido jantar

...

Sempre depois colocava aquelas meias. Umas meias rosas e velhas. Fazia parte de seu ritual. O meu se consiste em ir no banheiro, mijar, pular na cama e fingir que durmo.

Eu acordo feito um filho-da-puta. Bafo, cabelo ruim e mais desgrenhado que o de costume. Remela. Direto pro maldito banheiro mijar.

Ela acorda. Aqueles olhos azuis brilham, seus cabelos claros e lisos. Tira as meias e depois as roupas. Senta na beira da cama, coloca um chinelo de pano, um calção e uma camiseta velha.

Sempre me sentava na mesa vazia e ela me servia o café. Só tomava o meu suco de caixa. Perguntava se o pai dela tinha saído. Ele sempre, SEMPRE, estava se arrumando para sair.

Eu saio.

Coço o saco até o final da tarde.

Nos encontramos depois do seu trabalho. Eu odiava não ter um emprego para ELA esperar por mim na saída.

Bar..

Ela pergunta quando conhecerá meus pais.

Bebo..

Ela reclama que bebo demais..

Conta.. adeus pouca grana que me resta.

Casa (a dela naturalmente)..

Pergunto se o pai dela chegou do trabalho. Ela diz que sim. MALDITO HORÁRIO PARA SE CHEGAR!

Entro. Um cachorro feio pra cacete pula em mim. Uma daquelas raças de pêlo curto e com cara amassada. Ele tem uma gosma nos cantos da boca. Fede. FEDE!!!

Ela beija o cachorro. Que nojo. Depois disso não achei grande coisa que ela me beijasse.

A mãe dela saí da cozinha. Faz uma cara de feliz aniversário quando me vê entrando pela porta.

Eu sei que ela me odeia.

O pai dela levanta-se de sua cadeira, e me cumprimenta. Eu SEI que ele me ODEIA PROFUNDAMENTE.

Sua irmã deitada no sofá sorri. É uma puta sacana, daria na hora. Se eu fosse um outro com um pouquinho menos de escrúpulos e pudor...

Ela toma um banho.

Não tomarei banho. Tá frio e fiz um monte de nada o dia inteiro.

Janto. Ó céus.. o temido jantar. Como eu odeio esses jantares.

Sobrevivo o jantar.

Vou para o quarto somente quando os pais dela adormecem.

Ela toma outro banho.

Irmã no quarto, sorrindo e mascando um chiclete. Entra no banheiro e diz que vai sair. Pega as chaves do carro. Deita-se na cama e me beija (no rosto, calma). Ela saí.

Entro no banheiro. Minha intenção é tomar um banho. Sempre mudando de idéia.
Endureço. Entro no box, ela prende-se em minhas pernas. Quase escorrego no piso. Ela ri.

Mais ou menos um banho tomado.

Cama..

Outra..

Ela levanta. Nua. Coloca suas meias e um pijama.

Levanto e vou mijar.

Volto..

Ela com seus enormes olhos azuis brilhantes olhando para mim. Eu sorrio. Pulo na cama.

Ela vira-se para um lado e suspira. Eu não me mexo. Estou ocupado demais em fingir estar dormindo.

14 de jul. de 2007

1987

O despertador toca, sua mulher levanta, ele fica lá fingindo que dorme. Afinal, para que acordar? O sol nem deu as caras para comemorar seu quadragésimo aniversário e ele já está prestes a se atrasar para seu trabalho, sim aquele mesmo trabalho, aquele que remonta a sua adolescência. Ele não pensava que seria assim, que acabaria onde começou, que continuaria ganhando um salário de miséria. Pois, lá não existe aumento, sua sorte se é que pode ser assim denominada, são os reajustes do mínimo. Mas não é o trabalho seu único incômodo. Aquela gorda com quem divide as cobertas também é um estorvo. Pensando bem, mesmo que fosse uma deusa televisiva, seria por ele odiada. Sofre! Quem mandou ser covarde? Agora fica aí remoendo seu amor nos pensamentos, se tivesse coragem de ter ido atrás dela não estaria se lamentando neste instante. Como ele está há mais de cinco minutos na cama além do que deveria, a essas alturas, a gorda está com a mesa posta e o piá (com aqule marra característica da puberdade) deve estar comendo, como de costume, igual a um ogro. O guri foi uma felicidade quando nasceu. Mas só quando nasceu! Por que ele não podia ser puto, ser nazista, filiado ao Democratas, sei lá, fã do Galvão Bueno. Porém, o vermezinho, é GREMISTA! Para piorar a situação eles são campeões do Mundo (pela quinta vez! Isso, sem contar a friagem da Toyota), já o Internacional dele se esforça pra ganhar do Zequinha e a sala de troféus não é aberta desde 2007, quando ganharam a Recopa (dia mais feliz da vida dele!).
Depois de vinte minutos o pobre infeliz resolve finalmente se levantar, vai ao banheiro, faz a barba com cuidado, com barbeador manual, sem frescuras, assim como era nos bons tempos da primeira década do século XXI. De banho tomado ele adentra a cozinha, o piá com um enorme sorriso no rosto - e vestindo a camisa do Grêmio - lhe abraça com toda a força, aquele abração de Urso. Diz pro pai que o ama. As lágrimas escorrem na cara do filho da puta emocionado com o rebento. A esposa os abraça também e envolve o marido com uma seqüência cinematográfica de beijos apaixonados. Depois, lhe mostra o café da manhã especialmente feito, com direito a bolo, vela, etc. Todos sentam se servem e choram, o guri e a mulher de alegria, ele por odiar aquilo e por se odiar por não conseguir amá-los.

8 de jul. de 2007

Marcus

É o décimo dia do sétimo mês de dois mil e oito.
Ele acorda, o que não quer dizer que é de manhã. Seu nome é Marcus. Ele tem idade suficiente para estar de saco cheio. Caminha com sua perna lesionada até o banheiro e escova os dentes.


- Eu não sei o que farei.. não dou a mínima pra falar a verdade, cara.

Ele tem esse costume de falar sozinho sobre nenhum assunto. As respostas são dadas em sua mente adoecida.

- Não sei, talvez cinco.


Ele não sabe o que responde, nem sobre o que fala. Não tem nenhuma imaginação especialmente criativa para criar alguma personalidade para conversar com. Apenas fala sozinho e percebe isso. Mas não pára de falar sozinho.

-É assim que as pessoas enlouquecem.


Marcus não penteia o cabelo, mal tem cabelo. Ele saí de casa pensando sobre vidas em outros planetas. Os problemas terrenos não o atingem por simplesmente não o interessar em absoluto. A gasolina pode subir ou baixar, ele não tem um automotor próprio.
Seu maior dom é não ter nenhum dom. Ele tem sua altura listada como a média da população branca. Não é fudido da vida e não é rico também. Sua figura é representada por um homem de cabelos e olhos castanhos, que não canta e nem sabe dançar, não se mantém num emprego, muito novo e em breve será muito velho.
Atravessa a rua no sinal vermelho. Mesmo assim, quase é atropelado. Ele tem uma sensação estranha que a cena se repetiu. Nada demais. Toda a população tem sua parcela de Déjà Vu.
Sua explicação para esse estranho fenômeno, não é físico ou psicológico (biológico ou tanto faz quantas porras lógicas).
Marcus acredita que quando um ser vivo morre, ele volta para sua janela temporal.


Marcus nasce em oitenta e tantos. Vive sua vidinha como um ratinho em laboratório, sendo o cara mais comum que consegue ser. Se não é um ser comum se fode legal. Em mil novecentos e noventa e oito, ele perde seu primeiro amor.
Marcus é atropelado por um Chevrolet azul de placa IBF – 4342, dando uma ré num estacionamento de um mini-mercado no ano de dois mil e dez. Ele nasce em oitenta e tantos.. e tudo de novo.


É assim que explica um Déjà Vu. Tão burro e amnésico que repete sempre as mesmas coisas e vez em quando seu cérebro tem essas descargas elétricas (defeitos). Nunca iremos saber, tão pouco Marcus.


Uma loira de um metro e oitenta passa por Marcus. Ela é a típica gostosa. Um pouco alta para o gosto dele. Como é um ser humano mediano, prefere mulheres menores que a sua estatura. Uma maneira implícita de seu machismo, sua busca eterna de superação. Como todas as loiras gostosas são mascaradas e Marcus é um homem comum, a loira não percebe a existência de Marcus. Como um bêbado que não percebe uma reta, as loiras gostosas (morenas gostosas, mulatas gostosas, negras gostosas, asiáticas gostosas, qualquer tipo de mulher gostosa) não percebem homens como Marcus. Para não dizer que ojerizam.


Marcus segue seu caminho. Como todo o homem comum, está acostumado com a rejeição. Marcus pensa sobre o Universo e se ele realmente é infinito, sobre viagens no tempo, o que as mulheres pensam, alienígenas, Deus e mulheres virgens.


Marcus nunca irá saber a resposta dessas perguntas, nós nunca iremos saber.

7 de jul. de 2007

Mãos (Recuerdos escolares)

Não fosse a demagogia, a incompetência e o fisiologismo de nossos governantes, essas preciosas mãos poderiam tudo, tocariam da mais singela folha caída no outono até a mais bela joiá, abraçariam a pessoa amada sempre, como se fosse a última vez, pois quem já perdeu alguém sabe que a dor é incomensurável.
Talvez, não tivesse uma vida de contos de fada. Mas, pelo menos, teriam a chance de suar e ganhar calos em busca de uma existência digna.
Ah, se tivessem dado chance para essas mãos, se elas tivessem a oportunidade de estudar, de brincar, se cortar e curar, como deveria ser praxe a todo ser humano.
Onde estão nossos representantes, que deveriam proporcionar essa chance a todos que recebem a vida, eles nos enganaram como sempre, com suas vãs promessas e seus prolixos discursos que não dizem nada. Mas essas mãos quando libertadas não vão se calar, lutarão e farão protestos pelas ruas pedindo um Mundo mais justo, com uma justa distribuição de renda.
Eu verei aquelas mãos triunfarem em meu camarote, que fica debaixo da ponte e lá darei um efusivo aperto de mãos para essas guerreiras.

PS: Bons tempos nas aulas de redação do colégio. Eu sempre soube que tinha algo errado. Mas era idealista. Hoje, sou cético....

4 de jul. de 2007

Rotina de Ilusões

Tudo já foi feito, já foi escrito, já foi dito. O que nos resta afinal ? Estou em um momento da vida em que me questiono por tudo, principalmente me persegue a eterna indagação de se vale a pena, ou não, viver desta forma ? Acho que já é mais do que hora para repensar o ritmo impresso por nós mesmos contra nós mesmos.
Talvez seja a hora de retrair, diminuir a tecnologia, rever o conceito de trabalho, acabar com os mitos e com os ídolos. Temos que nos aceitar como seres primordialmente maus, só assim viveremos em paz com nossa própria natureza. Chega desse jogo sujo, desse ódio velado, dessa compaixão falsa. Vamos jogar fora nossas muletas, vamos acabar com a Internet, vamos esquecer da TV a cabo, do Playstation, etc. Por favor acordem ! Desistam de ler esse post quando estiverem na metade, não por terem achado ruim e sim por perceberem que estão morrendo em frente a uma máquina que separa. Uma máquina que te coloca em uma rede que só serve para consolidar e glorificar as ligações fortes. A Internet está aí com um claro objetivo: Acabar com tudo que é epidérmico !
Grande parte do texto não é meu por excelência, é uma confusão de tudo que já foi dito, escrito, contado na mesa de jantar das famílias do século XIX, por aí vai...O que me apavora é que nada aprendemos ou se aprendemos preferimos não aplicar os conceitos percebidos. Acho que é culpa da preguiça, do medo de ser realmente feliz, de se aceitar, se permitir. Como é possível o Anticristo datar de pré-1900 e ainda existirem católicos. Pior, agora temos evangélicos e outras deturpações do já nefasto império religioso romano. Quando diabos as massas vão abrir seus olhos cansados de trabalhar para a invenção de Deus. Se a igreja católica dissese que Deus é uma cadeira de balanço roxa com bolinhas verdes, teriamos uma réplica gigante em algum ponto turístico do Rio de Janeiro ! Deus é a maior enganação criada para controle de massas. Mas não posso culpar quem o criou. Pois, infelizmente, o ser humano é demasido fraco (humano) para se manter vivo por si só. São poucos os que tem capacidade para entrar em tais questionamentos sem ceifar a própria vida. Trata-se de um exercício duríssimo que beira o masoquismo, mas no final liberta. Não liberdade plena (outro mito !), apenas aquele sentimento de: eu sei que isso é impossível e não tenho vergonha do meu egocentrismo.
Pro intuito do blog, talvez este texto esteja longo. Porém, para a discussão que deve ser aberta, isto aqui não passa de um início de prefácio de um livro de lamento, que não necessariamente vai envolver bares, botecos, butequins, etc.

1 de jul. de 2007

It´s Deja Vu All Over Again

Essa frase do impagável Chris Berman demonstra bem toda a genialidade dos estadunidenses. Mas, realmente, tudo é tão repetitivo que uma redundância não faz mal a ninguém. Tipo canja de galinha, manja? O ser humano não se cansa de se decepcionar e de decepcionar aos outros. Estamos fadados a filhadaputice. Hobbes que o diga.
Não tem escapatória, um dia o teu grande amigo vai enfiar uma vara de 35cm no meio do teu cu e não vai se sentir nem um pouco culpado. Tu também já fizestes isso não se faça de hipócrita. Tudo depende da tolerância. Se formos nos guiar pela retidão. Bem, azar, você vai odiar todo mundo. Com isso, nos resta a hipocrisia, o tapinha nas costas, o bruxismo, a bebida, o dinheiro, etc. Na hora do bem bom somos todos felizes para sempre. Na hora ruim nos resta nossa própria mente doentia.
É tão difícil, mas tão difícil, ter de se aturar. Nada mais desafiador do que passar uma tarde de sábado em casa arrumando as tralhas e se embebedando em pensamentos e Patricias. Não, nenhuma Pati ronda meu coração, tô falando da loira uruguaia!!!
Ao final dos tempos nos resta o ódio e o amor para com aqueles que nos foram úteis, úteis no final. Pois, todos os outros eu nem lembro mais. Ah, tem também os malditos parentes, que por mais idiotas que sejam, são impossíveis de ser apagados de nossa memória. Maldita falta de coragem!

Gorilas e médicos

Bato com as costas na merda da parede de tijolos. Dessa vez senti que foi um pouco mais sério que o normal. Sempre bato ali com alguma parte do corpo.. dessa vez ouvi um estalo estranho. Deveria ir ver um médico, mas nunca vejo médicos. Quando eu atropelar algum por aí eu peço para examinar meus pulsos, joelhos e costelas.. mas ainda não é urgente.
Bebi. Bebi pra cacete. Não peguei ninguém.. hoje foi um dia normal. Nenhuma morena gata deu pra mim hoje. Um dia normal.

Bolas inchadas.

Procuro as chaves.. eu não encontro as merdas das chaves!!

Vou para a varanda, a rede imunda ainda está lá. Deito.. minto.. desmaio.

Morena com olhos verdes dança em meu colo. Grandes tetas! Grandes tetas mulher!!! Inexplicavelmente estou com sede. Saio da transação e caminho calmamente para a cozinha. Meu cachorro rosna para mim. Eu jogo água nele. Ele foge.

Maldito.

Vou atrás do cachorro. Ele tem três patas. No restante está O.K. O mando para dentro. Não bebi a água. Volto para a transação. Ou intento voltar. Ninguém lá.
Saio na rua. Com o pau para fora cumprimentando as pessoas. Elas não se importam, não protestam. Compro um jornal (de onde diabos saiu o dinheiro?!). Procuro notícias do Grêmio.

Nada demais.

Entro num colégio. Decido colocar uma calça.

Estou um pouco mais moço sem a barba mal feita.

Ela está lá. Fudidamente linda. Alguém passa com o rádio no volume máximo na rua da frente "You really got me now. You really got me!". Eu a beijo (quase um ataque), ela não reclama. Eu saio, um fodão no meio do colégio, sem camisa, mais moço, acabei de pegar a guria mais cobiçada (por mim).

Avisto outra. Morena, lábios carnudos e rosados.. grávida!!

Eu me escondo no banheiro. Acendo um cigarro. Saio.

Compro uma caixa de fitas cassetes.

Volto para casa. Meu cachorro com suas quatro patas rosna para mim.
Observo o corredor. Escuro. Eu fico paralisado. Não consigo me mexer. Eu tento, não me mexo.
Eu forço, não me mexo.

A escuridão me engole.

Acordo. Ressaca e fungando. Maldito resfriado. Desço da rede. Acho as chaves no bolso do casaco. Entro, deito, tento dormir mas as paredes não ficam paradas.

26 de jun. de 2007

Xará

Fazia anos que não trocavam uma palavra sequer quando se encontraram na rua, sim aquela rua, aquela mesma rua que os viu beber juntos, cantar juntos, chorar juntos, etc. Tudo juntos como fazem os grandes amigos, tão amigos que até parecem um casal. O mais engraçado é que agora ao passar por esse fantasma não me lembro minimamente do motivo que nos fez brigar, não sei se foi por causa de mulher, de bebida, de jogo, de dívida, de futebol, de maconha, de puta, sei lá...
Mas é claro que foi algo muito forte. Só pode ter sido, não brigaríamos desta forma se não fosse por um motivo extremo, tão extremo que não consigo fazer com que ele perpasse meu consciente de forma alguma, tem que ter sido algo forte, muito forte...foi forte, né?
O bom dos seres humanos é isso, tudo é muito intenso, mesmo não sendo. Assim como nossa briga foi intensa, meu primeiro amor o foi também. Tá certo, hoje não lembro o nome dela, não lembro se era preta, amarela, branquela, se tinha tetas grandes ou uma bunda grande, etc. Mas com certeza não era magrinha, apesar de eu ter uma leve queda por palitos ambulantes...
Dez minutos depois de ter te visto e aindo me atormenta ter te visto...
Idéias cíclias, fantasmas vivos, vida não vivida.
Ainda bem que foi por um motivo forte, muito forte!

23 de jun. de 2007

Trem da Alegria, Jaspion, e o sempre maldito domingo.. tem coisas que não mudam.

Televisor ligado.

Miss Honduras acena e sorri. Sua pele tão morena e brilhante, monumento.Seu corpo é exibido como uma boneca Barbie recém saída do bronzeamento artificial em seu maiô azul. Linda. Cabelos longos e cacheados, sorriso branco e lábios carnudos. Exibe sua faixa orgulhosa, enquanto o júri faz anotações (o que tanto anotam afinal?!).

Canal 12...

Junior Baiano consegue roubar a bola de Cuca, ele desajeitado consegue passar para Fabinho...Fabinho passa o pé por cima da bola e entrega para Nélio que perde a bola para Gallo. Gallo entrega a bola de graça para Renato Gaúcho (naquela época apenas nominado de Renato)..avança com velocidade.. chuta forte e a bola bate no peito de Ricardo Rocha que tenta dominar a bola mas Casagrande entra pelo meio e chuta fazendo o gol no canto de Veloso. Flamengo tem 1 no escore e Cruzeiro tem nada.

Canal 05...

Gretchen berra e esperneia. Um fiasco. Liminha aparece com um pote cheio de minhocas pelo lado oposto de uma estrutura que está na frente da morena escandalosa. Gretchen não quer enfiar a mão no buraco. A platéia ri e a encoraja.Ela enfia a mão chorando e tremendo. Liminha lambe a mão de Gretchen. Gugu, ri que nem um babaca (como sempre). Gretchen tira a mão.

Canal 02

Guaíba fora do ar...

Canal 10

Uma criança de no máximo 7 anos grita uma conhecida música sertaneja. Ela pula de um lado para o outro. Está vestido como um produto exportação de Barretos. Raul Gil sorri e abraça a criança.Ri que nem um louco (ri da criança talvez..).Raul Gil me assusta..

Canal 07

Maldita tv mal sintonizada!

Canal 04...

Propaganda de novela..Uma mulher sobe numa árvore e vira uma onça..Já vi milhares de vezes...


Canal....canal....canal....12...

"Fausto Silva vêm ai!"

Canal...05...

Propaganda.. Um garoto com gel no cabelo e óculos escuros, exibe uma tatuagem no braço esquerdo. A embalagem do chicle "Ping Pong" toma conta da tela. Uma loirinha sorridente exibe uma tatuagem de um palhaço. "Quem é da nossa galerinha, usa a nossa tatuagem! É Ping é Pong!"... (eu tive uma queda por essa loirinha da beira da piscina).

Canal 07...

Estática...

Mexo na antena...

Estática...

Maldita tv mal sintonizada!

Canal.....04...

Miss Brasil chora..tsc tsc..que descompostura! Miss Porto Rico sorri e ostenta uma coroa branca e cintilante. Morena de sorriso falso (mais plástico quanto possível para algo feito de carne, pele e osso), porém inegavelmente bonita... mas não tanto quanto a Miss Honduras..Que mulher bonita!

Canal...canal... 03..

Estática..

Ligo meu Dactar (o Atari do final dos anos 80)...

Cartucho...cartucho...

River Raid...Spider Man...Krull...




PS: E para comentar.. passou o tempo já; mas comentando.. A miss Japonesa nunca ganharia da Miss Venezuela ou mesmo da Brasileira.. e não.. não torci pelo Brasil... a minha preferida desse ano era a Miss Angola... só comentando.

19 de jun. de 2007

Toda criança tem que ler e escrever...

Acorda
Bebe
Cheira
Destrói
Exclui
Fomenta
Grava
Hiato
Introverte
Joga
Ludibria
Manipula
Normatiza
Oportuniza
Produz
Quantifica
Rebusca
Sincretiza
Tormenta
Umbanda
Valoriza
Xintoísmo
Zaratustra

17 de jun. de 2007

Aquele maldito jantar

- Então, o que tu faz?
Eu mexi nas ervilhas com meu garfo.
- Edison? O que você faz?
Tive que parar de brincar com a comida e encará-lo.
- No momento nada – disse sorrindo.
Ela me olhou com uma certa reprovação, percebi que minha pequena brincadeira não tinha vindo em um bom momento.
- Ele faz faculdade de cinema! – ela disse.
De repente me senti ridículo quando ela disse isso na frente de um advogado.
- Que legal! – disse sua mãe tomando um suco de tomate (quem bebe isso?!!).
Ele não comentou nada. Não precisava. Sabia exatamente o que ele pensava. Pensava que eu era um vagabundo.

E eu era (sou).

- Tu quer ser ator? – perguntou a irmã.
- Não, não. Eu quero ser roteirista e com o tempo e experiência, diretor.
Me senti mais ridículo. Tomei o último gole de coca. Eu era o único que bebia refrigerante. Tive vergonha de pedir mais.
- Por quê?
Aquelas ervilhas eram horríveis, detestei o tempero. A irmã levantou-se e a mãe saiu para pegar uma sobremesa.
- Acho que eu quero passar a minha vida fazendo algo que eu goste. Eu gosto de escrever... não sei.

Eu não consegui pensar em nada mais profundo que isso. Ele engoliu o último pedaço de galinha.

- E você é bom? Quanto ganha um roteirista no Brasil?
- Não sei.. depende.
- Isso não é resposta que se dê – disse o infeliz sorrindo.
Estava começando a odiar aquele cara.
A sobremesa chegou. Era uma musse de chocolate. Eu estava cheio. Aquelas ervilhas não tinham me feito muito bem. Ela sorriu e apertou minha mão.
- Pai, pára de assustar ele.
- Só estamos conversando querida. Só conversando.
Eu realmente estava odiando aquele cara.
- Nunca pensou em outra profissão? Como tu vai te sustentar daqui alguns anos?
A mãe dela me empurrou uma tigelinha florida cheia de musse. Eu agradeci e comi. Estava enjoado.

Desejei estar em casa vendo televisão e nunca ter aceitado ir naquela maldita casa. Eu achava que essas perguntas só se faziam em filmes americanos de comédia. De uma certa forma, ele lembrava meu pai; as mesmas perguntas que eu nunca respondia em casa.

Os pais não gostam dos filhos dos outros, pensei.

Sorri e respondi de boca cheia de musse de chocolate alguma coisa engraçada e não mais tocamos no assunto. Ele foi para a sala assistir sua televisão e ela ficou me perguntando o tempo todo sobre quando ela iria jantar na minha casa e conhecer meus pais... e eu só desejava ir ao banheiro.

Tá rebocado...

11 de jun. de 2007

Burguesia Rotineira

6h da manhã
- triiinnnnn, triiiiiiiinnnnnnnnnnnn, triiiiiiiiiiiiiiinnnnnnnnnnnnnnnnnnnnn
Despertador toca. Ele levanta. Sem abrir a boca, sem mostrar os dentes. Na mesa ele pergunta ao pó. Em time que está ganhando não se mexe. Portanto, meu CPF e meu beija-flor abençoado em forma de cilindro estão na minha cabeceira, esta é a única do dia. Mas é ela que me faz levantar. Pára de escorrer maldito nariz. Pra quê isso ? Por que fazer isso comigo caro companheiro ?
Bom, vai assim mesmo ! Banho rápido, mal dá tempo para saciar minha vontade. Meu desejo de alguém que não existe. Saio apressado, o sanduíche ainda resvala em minha garganta. Pelo horário vou ter de ir pra perimetral, na Salgado eu não pego mais. Que loucura !
To subindo o morro, olhando pra baixo, devorando mais um livro. Como eu sou chique, como eu sou intelectual, uuiuiuiui. Aula chata, gente burra, impertinente, gente falsa, decadente, sou demente, sou doente, nariz escorre...
Ai que vontade de sair correndo !
Trabalho, estranho, estranho, trabalho. Gente difícil. Boçais de bom coração. Mau caráter, isso não existe ! Sabe aquela do português ?
Jogo meu silêncio, espero uma resposta. Me encaminho para o último contexto do dia. Multifacetado, hospício acadêmico, risos inúteis. Eu não aguento, eu não aguento ! É de noite, é de dia. So me resta ir ao banheiro. Prometi que seria só uma. Mas não dá, não tem como. Talvez uma outra coisa fosse melhor. Mas tô sem. O cheiro é foda ! Azar, vamo nodesempre. 23 horas, até que enfim, acabou. Tô voltando. Já é amanhã. Vou dormir. Descansar, por que hoje tem mais !!!

10 de jun. de 2007

Sobamarve

Nós três ali naquela sarjeta, eu tapando os olhos, ela tapando os lábios e ele tapando os ouvidos. Estamos esperando este dia que não quer amanhecer. Há dias em que o sol não nasceu pra nós. Mas hoje ele nasceu pra mim, pros outros não.
Quantas peças este maluco desvairado chamado destino pode me pregar. Se não fosse uma festa de 15 da amiga da vizinha do cachorro do peixinho dourado da Xuxa que via Xaxa na xoxa televisão que nos liberta.
Nunca foi tão estranho. Nunca tinha te visto bêbado estando sóbrio. Maldito sono. É nisso que dá ficar cinco dias seguidos bebendo e dormindo que nem um porco que põe gravata e se enforca. A gente tem uma ligação tão forte que é difícil explicar. Também é raro aprofundarmos nossas diferenças mas elas existem. Eu sou tão estúpido que esqueço que sou extramamente liberal e tu és tão descolado e despreocupado com o próximo passo que esqueces teu lado direitista, que é enrustido. Mas nem tanto.
- Peraí. E o nosso motora onde anda ? Nosso Senna está bem ? Medo de perder quem é verdadeiro, quem é de carne e osso e coração bom. É só um teto, uma bad trip. Felizmente não passa de preocupação boba. Agora me volto para ti pessoa que insisto não acreditar que seja um ser humano. Só pode ser um ente superior. Esta tua aura cigana me fascina. Quando aperto tua mão vou para tão longe que esqeuço quem sou. Quero mais é desplugar. Por ti tirei meu relógio, joguei fora meu caderno, queimei minha agenda, esqueci de ser infeliz. Como reclamar ? Para quê reclamar ?
Só espero não perder minha inspiração. Este post está estranho, está feliz, está sem nenhuma continuidade. Não tem o menor sentido a não ser celebrar a estupidez humana, de todas as nações. Tudo que aliena salva. Tudo que aliena mata. Tudo que aliena aliena. Aliena que aliena aliena. Aliena aliena aliena. Ó meu amor. Pedaço arrancado de mim.

1 de jun. de 2007

Homens

Bicho incompreendido, incompreensível e que não entende o que se passa. O mais sagrado para um macho humano é sua genitora. Nosso sonho máximo seria certo dia descobrir que nossa mãe é virgem, que a gravidez tenha sido obra do Espírito Santo.
Nós peludos esquecemos ou conscientemente nos enganamos ao glorificar nossas ascendentes. Apagamos de nossa mente a possibilidade de lembrar, que antes de nascermos, nossas mães não eram nem um pouco diferentes da guriazinha que nos deu bye-bye, por que acaba de conhecer um lindo e simpático garoto, que é ainda mais simpático por que segura uma chave e anda com dificuldade por que sua calça pesa com a carteira abarrotada.
Na Grécia o bissexualismo não só era aceito como era obrigação. Hoje não amamos homens. Nem mesmo nossos pais. Afinal, somo machos, muito machos. Não choramos, não temos fraquezas, encaramos tudo.
Nossa virilidade entra no prumo nos estádios de futebol. Atrás do gol, trago, fumo, coca, bala e alento. Todos abraçados. Torcendo por uma instituição, um time, o time. Notem bem "O", artigo masculino. Amamos O TIME. É a nossa forma abichornada de sermos homens, machos, feras. Os valores já estão por demais equivocados. Machos até a encochada na torcida organizada. Amor nunca. Só, talvez, pela reencarnação de Maria, que nos gerou. Bichos escrotos, pança de mamute. Temos como ser mais patéticos ? Acho que não !
Brigado Medina Reyes. Pois escrevestes as maiores verdades da maneira mais dura e cínica possível.

30 de mai. de 2007

Eu, eu mesmo (ou quando da ação dos alucinógenos)

Este espaço se destina para confundir ainda mais os que não me entendem. Vocês que não sabem por que me irrito, por que me afasto, por que me aproximo, por que me deprimo, por que me amo, por que me odeio, por que odeio vocês, por que amo vocês.
Não me acho o máximo por estar trabalhando em uma rádio. Não me acho o máximo por cursar duas faculdades. Não me acho o máximo por ser considerado gênio em potencial. Não me acho o máximo por fazer provas em cinco minutos. Não me acho o máximo por ter mel em meu corpo e ter alguns bons relacionamentos.
Me acho o máximo por não me contentar com isso. Eu quero mais. Cada vez mais. Confesso, que por vezes invejo quem pode se dar ao luxo de passar uma tarde de domingo em frente a uma televisão. E, ainda por cima, se divertindo com a inércia de tutano. Porém, paro e penso: Pra que invejar ? Onde diabos eles querem chegar ? Sem dúvida não é o mesmo local que eu almejo e vislumbro. A felicidade medíocre é um bálsamo o qual eu não me permito usufruir. Sou um Fausto. Sempre insatisfeito. Mas não preciso de pacto com Mefisto. Pois, sou DIABO de mim mesmo.

25 de mai. de 2007

Doutrina e/ou Ideologia

Estou no ônibus que por milagre não está lotado. Só para variar estou puto da cara. Eis que entra uma ceguinha. Lá vem aquele discurso que todos nós conhecemos. Me soa tão estranho aquele script tão bem decorado, mecânico, saindo quase por transe de seus lábios. Eles são todos assim quando oferecem seus bilhetes da Quina. Eu tenho pena. Queria ajudar. Mas não o faço. Não por não ter o tostão pedido. Mas por não querer contribuir com o que está por trás daquilo. Algo totalmente obscuro. Sequer imagino que ramificaçõs ali residem ou quem vai receber meu beija-flor enquanto ela se veste à lá Guerra dos Farrapos. Quem a doutrina ? Quem ensinou este texto ? Mais algum agente do submundo ou pior do Estado de Direito ? Bom, deixa pra lá, sigo lendo meu Goethe. Só uma pessoa compra o bilhete qua a deficiente apregoa ser, segundo o que diz seu fictício Deus, o premiado. Olho a senhora: Cabelos ralos, sorriso feliz. Está feliz. Mas aquela falsa alegria que disfarça uma alma e uma vida amarguradas. Seu um real foi rapidamente para o bolso direito da pedinte. A senhora não queria receber o bilhete em troca de sua ajuda. Não fosse a insistência do ganancioso e digamos inquietante cobrador o jogo da loteca ainda estaria em posse de nossa tradicional amiga dos coletivos porto-alegrenses. Sigo observando a dona generosa. Vejo em seus olhos o motivo de tanta bondade. É culpa ! Culpa por ter criado seus filhos como manda o manual básico da burguesia ocidental. Ou seja, incutir o medo, a pena e o ódio aos deficientes; o medo, a pena e o ódio aos negros; o medo, a pena e o ódio aos homossexuais; o medo, a pena e o ódio aos drogados. E, é claro, o medo, a pena e o ódio aos pobres.
Toda essa pesquisa de campo e essa análise são feitas enquanto eu devoro O Fausto. Ao mesmo tempo, penso na minha falta de grana que me impede de sair hoje à noite. Penso, também, no novo rumo que vou dar a minha vida. Estou de saco cheio quero me matar para ver o que acontece...O que aconteceria ? Nada, eu acho ! Me aflige também minha crescente cegueira, minha amigdalite que está dando no saco em questa setimana. Tudo isso está me deixando intolerante mais uma vez. Estou de saco cheio de ouvir pessoas que tem renda per capita de 5 mil reclamarem de dificuldades. Venham ganhar 700 conto. Sem sequer imaginar o que seja feriado ou final de semana.
Só fica uma dúvida para mim: Quem é seu Apollo ? Mas, de uma coisa tenho certeza, ele é doutrinador !!!
Chega de Porto Alegre: eu quero é mais ! Destino: Capital das Araucárias. Um sonho. Mas tudo pode acontecer no meu bipolarismo funcional.
PS: Fodam-se vocês ! Sem exceção fodam-se !!!

19 de mai. de 2007

O sangue era espesso. O mais espesso que já vira sair de mim. Não enxergava meus dentes debaixo daquela gosma vermelha. Você sabe como se sente depois de nocautear o vice-campeão de boxe brasileiro?

Sai daquela porcaria de bar. Era a quinta noite consecutiva que não conseguia sair com ninguém. Entrava sozinho e saía acompanhado por alguma garrafa de vinho barato, já vazia. Estava apenas começando a ficar, realmente, puto da cara. Cambaleei até a esquina para pegar o ônibus da madrugada. Nunca o pegava, acabava desmaiando na parada e acordava sujo e com gosto de cinzeiro recém usado; numa manhã desgraçada e com um sol irritante socando meus olhos vermelhos. Por algum milagre, o ônibus apareceu antes d’eu chegar a deitar no chão. Tive alguma dificuldade para passar a roleta, o cobrador enfiou as mãos em meus bolsos e tirou algumas moedas e colocou o troco na minha mão.. eu perdi aquelas moedas. Caminhei até o fundo do ônibus e percebi um cigarro no chão. O peguei e coloquei na boca, ninguém tinha uma merda de isqueiro ou fósforo.

Desci numa parada desconhecida. Estava pronto para vomitar, resolvi sair antes de fazê-lo no colo de alguém. Me ajoelhei no lado de um prédio que fedia a mijo e vomitei todo o vinho barato e meu cigarro acabou indo junto. Levantei com uma certa dificuldade e caminhei em direção à parada novamente.

- Seu puto!

Vi uma gorda com uma roupa minúscula vindo na minha direção gritando um bocado. Percebi que havia vomitado em seu ponto de trabalho.

Resolvi andar até outra parada, enquanto ela me xingava na sua esquina. Só parou quando um carro buzinou para ela.

Eu estava muito bêbado.

Parei num posto de gasolina e entrei no banheiro. Vomitei. Sai e me encostei num carro. Eu estava adormecendo quando um cara me deu um empurrão. Não queria problemas. Me afastei, ele entrou no carro me xingando e jogando um cigarro pela metade aceso em mim. Saiu cantando pneu. Uma morena bonita no banco do carona o acalmava, enquanto ele cuspia e me xingava a todo instante. Me abaixei e peguei o cigarro, o traguei. Era um cigarro muito bom. Não consegui reconhecer, muito menos lê-lo.

Sentei na calçada e observei uma loira. Era gostosa.. feia, mas gostosa. Ela não parava de olhar para mim. Estava tão bêbado.. fiz um movimento com minha mão e ela sorriu.

Branco...

... ela sentada do meu lado. A beijei. Não queria beijá-la, queria despi-la. Mas, não estava tão bêbado assim. Mais tarde descobriu que eu não tinha um tostão furado e me deixou sentado sozinho na calçada.

Levantei e fui até um barzinho bem bacana, que minha vista turva acusava. Não tinha ninguém na entrada para dar comanda ou coisa parecida. Entrei. Dei em cima de todas as mulheres do bar. Continuei sozinho.. e não tinha mais dinheiro para um vinho. Resolvi que era hora de ir embora. Na saída um cara grandalhão me parou segurando minha camisa com sua mão direita e estendendo a mão esquerda.

- Comanda por favor.

Eu estava fudido.

- Comanda por favor – ele repetiu, estava pronto para me bater.
- Tchê, eu acho que perdi por aí.

Ele rosnou.

- Qual o seu nome?

Eu disse. Ele me arrastou até o balcão.

- Você estava aqui, não é?!

Eu disse que sim. Ele perguntou para o barman se vira alguma comanda perdida. Isso é comum de acontecer, bêbados esquecerem suas comandas nos balcões. O barman fez um sinal de negativo.

Eu estava fudido.

- Quanto você tem aí?!
- Nada.
- Nada?!
- Nada.

Eu estava fudido.

O brutamontes me jogou porta afora, eu tentei correr. Mas, estava MUITO bêbado para correr. Ele deu três passos largos e me puxou pelos cabelos e deu um soco seco nas minhas costas. Virei com alguma dor (nem perto da dor real), então me deu um chute no estômago.
Eu fazia academia, levantava pesos, era um cara fudido, não era pequeno. Mas.. esse puto era grande demais! Resolvi revidar, ele não esperava por isso. O segurei pelo pescoço e lhe dei uma testada. Eu caí instantaneamente. Sentia como se tivesse levado uma raquetada na testa. Eu o acertei no queixo, seu maxilar estava destruído. Ele estava no chão. Eu derrubei o puto. Ele se levantou, eu pulei. Me deu três socos consecutivos no nariz, eu caí. Ele continuou a me bater com movimentos curtos e secos.

- Eu fui vice-campeão brasileiro de boxe, seu bosta!

Naquele momento eu agradeci à Deus que o segurança daquele bar não era o campeão.

Então, ele notou seu maxilar mole e disforme. Passou a mão incrédulo e entrou correndo no bar.

Peguei o primeiro ônibus da manhã, não estava mais com sono.

Branco...

.. acordei em minha cama. Como havia chegado lá, não sei.

Caminhei até o banheiro e me olhei no espelho. Minha sobrancelha esquerda era um trabalho de artes da pré-escola, meus olhos eram bolsas de sangue e pus. Meus cabelos estavam escuros e grudentos. O rosto parecia de alguma criança com um problema terminal de cachumba (se isso existe). Abri minha boca com uma dificuldade impressionante, meus lábios pareciam colados. O sangue era espesso. O mais espesso que já vira sair de mim. Não enxergava meus dentes debaixo daquela gosma vermelha. Você sabe como se sente depois de nocautear o vice-campeão de boxe brasileiro?

A mesma sensação de sair de um bar cinco noites consecutivas sem nenhuma acompanhante...

...REALMENTE, preciso mudar de bar.

13 de mai. de 2007

Veneza

" What a beautiful wedding..."
- Que festa linda ! Assim todos repetiam. Gente alegre, enlouquecida, assoberbada pelo próprio momento de luxúria de felicidade. As luzes, as cores, a ribalta e as fantasias. Na pista brilha aquele jovem que pensa estar em Veneza com sua máscara à lá carnevale. Dentes cerrados, trincados no pó de animação. Volúpia nos passos. Alguns exageram. Passam vergonha. Dão a impressão de jogaram em times diferentes. Assim são as festas chiques: No começo a vergonha. Depois são servidos os cálices - Bate o calor - Sai casaco; arregaça manga; desabotoa camisa; alivia gravata; levanta povo; dança comportada; dança alegre; dança chula. Mas ainda paira um ar de superioridade. Não caímos na realidade. Isto ocorre mais adiante. Por mais lindo que tudo isto seja, a noite termina como sempre termina para todos nós falsos burgueses imoralmente morais ou até moreiras....
Cruzamos impacientes a garagem buscando sair rápido do país das maravilhas. - Vamos pras bocas !
E vem cachaça da pura que te quero. - Olha lá aquela garota trabalhadora, ô menina esforçada, orgulho do papai !!! Poisé de volta ao futuro. Garagem suja em rua duvidosa, hotelzinho caindo aos pedaços, sexo casual. Cara feia. Complemento bom. Sem empolgação, muito menos amor. Apenas o movimento mecânico...Tão divertido como um campeonato de golfe para veteranos. Fica na cabeça martelando... - Ah, se fosse de verdade ! Ah, se houvesse sentimento...seria tão bom ! Só fica a dor na consciência por voltar sem dinheiro para casa e a lembrança daquela bela e aritificial visão.

8 de mai. de 2007

Pais e Filhos (ou como Kafka chorou as verdades do Mundo)

Se eu não for igual a você, se eu não seguir teus passos...o que irá acontecer ? Vais me perdoar ? Não nos aceitam. Não sou teu espelho, sou teu filho. E se não refletir em mim, você não gosta ? Queres que te repita. Se assim for, não irei além. Quando muito chegarei próximo e serei frustrado. Por que somos assim ? Se a beleza humana está nas diferenças por qual motivo buscamos fotocópias de nós mesmos ??? Nossos egos nos colocam nesta roda viva. Somos todos frustrados e queremos transformar rebentos em robôs. Falsa ilusão de que eles venham a realizar o que não fizemos. Queria Gregor virar barata ? Queria eu ter nascido humano ?
Presunção. Ele quer direito, ela vai ser bailarina, eles vão casar na igreja, eles não serão gays, elas não serão lésbicas, todos serão cara limpa, teu time será o meu, seremos de esquerda...
Deixa acontecer, sem saber porque, o que acontecer, eu só vou morrer....
Aquela noite fui fugir e voltei, circulei, circular filosofia, vou ser confuso e não me entender...eu so quero ver, ver você cair e então vou rir...Só quero saber de você aqui...
Deixa eles brincarem, se sujarem, pegar chuva, quebrar unhas jogando bola, feridas no joelho (as do coração vem mais tarde...) Vou me divertir, eu vou chegar lá, vou me distrair....

7 de mai. de 2007

Sobre a admirável raiva idosa

Eu sabia sobre as futuras gerações. Eu os esperava.. esperava com os olhos bem abertos.

Seres dotados de uma força impressionante, geneticamente superiores. Sem erros em seus corpos moldados pela perfeição científica, todos eles e elas, perfeitos... ou melhor... seriam o mais perfeito que um ser humano poderia ser e seriam um pouco mais. Mesmo ultrapassando nosso senso de perfeição, nunca seriam perfeitos, mas seriam uns fodões com certeza.

Estaria velho, gordo, fraco, careca e barbudo. Estaria usando uma roupa rasgada,fudida, fora de moda e fedendo à cigarro e bebida barata. Estaria parado na varanda, com minha arma carregada.

Estaria pronto para todos esses filhas-da-puta!

4 de mai. de 2007

Cartola

Mestre Angenor. Tenho que saudar também Carlos Cachaça graças a ele e a tantos outros adoráveis bons vagabundos te conheci melhor Dom Cartola. Depois de sair da confortável mini-sala de cinema do Santander, estava bem brasileiro, muito mais brasileiro. Brasileirinho, brasileiríssimo, deixei de ser Brazil. Vi o samba de verdade, aquele que transpira boemia, cheira a irreverência e amor por nós mesmos. E pensar que até isso nos foi roubado pela Globo. A vênus platinada vulgarizou e "hi-techzou" o carnaval. Tudo para buscar mais dólares no exterior. Mas prestou um favor ao imortalizar pelos quatro cantos a noção de que Brasil é puta, pobre, índio e selva.
Acabou o espírito da roda, dos risos e lampejos de loucura genial. O samba era o nosso rock. Virou um arremedo, indigno de assim ser chamado. Esta é só mais uma prova da autofagia nossa de cada dia. Não é a toa que Nélson Rodrigues é imortal. Afinal, mesmo no século XXI continuamos cuscos. Vamos latir cada vez mais baixo. Não servimos nem para pastores, somos yorkshires super afeminados.
" Eu vou correndo buscar a glóriaaaaahaaaaaaa " Mas vamos revitalizar o Brasil. Mombojó está aí, Cordel também. Podemos ser modernos antiquados. Vamos ser brechó, contra-cultura, pseudo-brasileiros. Saibamos beber de outras fontes, sem necessariamente copiá-los, ou esquecer nossas origens...Os garotos mineiros já ensinavam " we shall find our roots, bloody roots "
Queria voltar ao Zicartola. Viver aquele tempo, estar naquele time, fazer aquele samba. Como não posso, venho aqui para escrever minhas frustrações. Sento em frente a este pc que chamo de Buteco. E lamento, só lamento, como lamento....

1 de mai. de 2007

Antônio Conselheiro

Cansei de buscar a felicidade nos outros, nas garrafas, nos papéis,etc. Mas, também, cansei do seus conselhos rica criança. Ainda mais agora que teu olhos não mais miram o céu. Toda forma de amor será entendida ou não. Toda a atitude será normal ou não. Desde que seja aprovada por mim quando diz respeito a minha pessoa e seja aprovada por ti, quando em ti tiver efeitos. Estás feliz mesmo retrocendo ??? Que bom ! Antes te via e enxergava uma mulher. Hoje, mesmo olhando com toda a força de minhas vistas, enxergo um feto. Veja bem, não estou te julgando. Estou constatando apenas. Assim como fizeste ao dissecar minha psique. Que passa longe, bem longe de ser óbvia. Não fostes a primeira, não serás a última. Todas vocês incorrem no mesmo erro: Vamos mudar ele ! Isto, é impossível !!! Só irei mudar quando eu quiser, quando esta minha faceta atual não me causar regozijo. Aí sim, eu mudo !
Aprendam com e sobre a minha pessoa: Quero me amar, me amo, sou narcisista. Não preciso dos outros. Mas gosto de tê-los ao meu lado. É tudo uma questão de opção. Assim como voltarei a ser regrado quando e como bem entender. Mas no momentao, não ! Agora é necessário, tão necessário que reencarne um beat, um noir, um bossa nova qualquer. Busco inspiração na tragédia. Um dia prometo: Vou me alienar na felicidade ! Por ora, me compreendam. Fico aqui no meu canto, rosnando alto.
Viva Las Vegas !!!

Não se incomodem tanto agora, vai piorar amigos...

Verdades sobre um possível fim do mundo...

Bananas caíam do céu, o aviso de falsos governantes furtando bolsas e penhores enlouquecidos não me incomodavam naquela manhã do dia 30 de fevereiro. Tomei meu banho de lama e alimentei minhas vacas com o mel que me tinha sobrado da última colheita. As picadas em meus braços inchados pela alergia não me incomodavam.
Andei um bocado até a loja de alfinetes que ficava na divisa da cidade, como todos sabem é ilegal vendê-los em época de soltura das senhoras já muito idosas e sem gosto na boca. Maníacas. Tentei evitar o pensamento de passar mais uma noite na prisão, mas, minhas meias precisavam de reparos imediatos. Tudo causado pela briga na noite anterior, malditas unhas mal cortadas. Apesar das minhas meias furadas e sujas de sangue.. eu não me incomodava.. não tanto.
Quando descobri que me tinham sobrado apenas 3 centavos por conta de uma aposta com uma prostituta do norte da Argélia, não me incomodei. Fui a loja de penhores e dei como garantia minha alma. Voltei para minha casa e costurei minhas meias, o rádio anunciava o fim do mundo, não me incomodei tanto. Tinha ainda meus 3 centavos e minhas meias consertadas enquanto um penhor louco tinha uma alma que não valia mais nada.
Enquanto isso as minhas vacas eram atacadas por idosas malucas munidas de agulhas de crochê e bengalas em suas mãos sardentas e quase sem vida. E não me incomodei.

30 de abr. de 2007

Censura

O judiciário brasileiro tomou mais uma decisão de suma importância para nossa sociedade: Foi proibida a venda da biografia não autorizada do "Rei" Roberto Carlos. Que grande serviço o magistrado que proferiu tal decisão presta aos cidadãos brasileiros ! E digo isso sem um pingo de ironia, temos de dar graças A-SEJA-LÁ-EM-QUE-VOCÊ-ACREDITA por sermos privados de mais um campeão da audiência. Afinal, que diabos acrescentaria uma biografia desta que é uma das mais chatas figuras públicas da nossa história. Putaquepariu ! Roberto não é boêmio, não é polêmico, não tem bom gosto, não tem manias - a não ser as religiosas, que são detestáveis - não tem amantes, não tem rompantes, repentes, fulguras. Ficaria preocupado se um dia nos negassem a aprender sobre Niemeyer que é gênio em tudo. Não só na arquitetura, como no seu pensamento e, até mesmo, na sua volúpia sexual mesmo beirando os três dígitos...Problema será o dia no qual calarem o Chico Buarque, que não relembrarem o Nélson Robdrigues, o Cartola (graças a você sou mais brasileiro hoje !), etc.
Nada vamos perder em não saber a história de alguém que tem seus méritos. Mas, não justifica a glorificação que reside sobre o próprio. Alguém que não sabe cantar, não tem um repertório cativante e surgiu numa geração claramente pré-fabricada com forte influência do pior da cultura norte-americana, não pode ser rei de nada. Por sinal, espero que nossa justiça não pare por aí. Quero que eles por antecipação nos privem das vindouras biografias da Xuxa, da Sandy, do Júnior, da Kelly Key, da Carla Perez e de tantos outros ícones criados pela mais pura nata da intelectualidade brasileira. Viva as elites, que na surdina nos deixam com cada vez mais tchan na cabeça e muito menos neurônios na mesma !!!

21 de abr. de 2007

Prazer, Rodrigo

Nasci e fui criado no Moinhos ( bairro mais esnobe de Porra Alegre...), minha vó de quem herdei muito do que sou, passou horrores com aqeuele maldito câncer...doença maldita ! Ela sugou minha vó, minha alegria, minha infância, a vitalidade da minha mãe e, até mesmo, nosso dinheiro...
Já faz mais de dez anos que ela se foi...mas ainda está aqui comigo ! Meu pai...bom, talvez, seja uma lenda urbana...meu referencial de homem na infância foi meu tio, o gordo...ele se separou, foi parar lá na 24, conosco, e ficou lá até 99...quando os três dormitórios e a garagem em frente à Champs Elysée foram pras cucuias no leilão... por um preço irrisório. Ele foi bastante importante, um ídolo, mesmo sendo gremista ( eca!)...pena que ele seja louco, pena que apesar de ter idéias geniais e fazer muito dinheiro com isso, ele acabasse por fumar e cheirar as notas !!! Até roubar o faqueiro de ouro da vovó ele roubou. Enquanto eu e minha mãe estávamos dormindo...aí é aquela coisa, ameaça de morte...ordem judicial de afastamento e parará...Sumimos, demos umas bandas, compramos um carro e vendemos logo em seguida....Pois, meu painho querido ficou mais de ano sem pagar a pensão. Afinal, ele estava mal das pernas - teve de vender dois de seus trinta carros de coleção - e eu e mamys estávamos com o dinheiro ínifimo de uma herança dilapidada...Bom foi tudo, adeus play, adeus PC, adeus bonecos dos cavaleiros...o que não foi vendido foi parar no depósito ( e o falcatrua do dono consumiu tudo, tudo ! Toda a minha infância junto !!! )...Sétima série, brigas e depressão me levaram de volta ao Léo - Alfa, como eu gostava daquele colégio...Mas as coisas não deram certo, o psicológico pesou, e eu, de aluno exemplar passei a repetente. Foi como se morresse um pouco. O estudo era tudo para moi (como eu era idiota ! ), mas não tava tudo perdido...colégio com dependência, lá na pqp, pagava van...óbvio que não ia dar certo e...não deu ! Sem grana larguei o colégio. O destino me pregou uma peça, mudança na idade pra fazer supletivo...aí, dá - lhe comida ! Depressão, choro, medo de sair de casa, medo de rirem de mim...fui preso por mim mesmo ! Um ano e alguns meses de reclusão...
- Tá garoto, o seguinte se tu não saíres dessa obesidade mórbida terás diabetes adulto em seguida... - Ok, doutora, não terei diabetes !... Resolvi voltar a viver !!! Tudo era muito difícil, até caminhar, parecia um ET....descobri que sou virtualmente cego dum olho, hehe que pilha !!! Viciado em futebol, o Inter é tudo ! Veio a Band, vieram os programas no shopping, vieram alguns olhos clínicos, veio um padrinho, veio um emprego...Guaíba = Família ! São tantos pais, mães, irmãos, irmãs, tios, primas que eu tenho naquela esquina...Eu fui crescendo, superando meus limites...Segundo grau, liberdade ! Deixei de ser nerd, mas não deixei de estimular minha mente, avancei vários sinais. Richardito e Perizzollo são os principais culpados...mas tem muita gente, muitíssima gente com culpa nesse cartório ! Não preciso dizer quem são meus irmãos...vocês sabem que são vocês ! Sentimos que nossos gens são iguais, nos deram sobrenomes diferentes só para nos confudirem...
Faculdade. Não foi na federal como eu imaginava que era meu destino...graças a seja lá quem é você, não fui pra lá ! Ritter, direito (mamãe coruja orgulhosíssima, sem ter pressão, segui teus passos...à minha maneira...mas segui !). Depois IPA, jornalismo . Nova fase, novos amigos, saudade dos antigos, novos pseudos, novos inimigos. Nova crise, mamãe doente, pílulas, alegria, prepotência...Agradeço a todos, todos seguem em meu coração ( muito piegas...mas eu sinto ). Vocês são e serão meu eterno fardo ! Felizmente é o fardo mais leve de todos os tempos, desde o neolítico...Só quero dizer que os amo, amo, amo, amo, amo !!!
E amo você, você mesmo, tão perto e tão longe...

18 de abr. de 2007

Aerials

Se a Lucy está no céu com seus diamantes, eu estou aqui neste plano chamado terreno com minhas idéias. Finalmente, pude compreender que ao perder minha mente liberto minha vida. Não vou mais me culpar pelos problemas do Mundo. Não vou tentar mudá-los. Se nossas vidas são impossíveis, ora que pena ! Mas eu serei feliz igual !!!
Algumas revelações se fizeram primordiais. Eu sei que é impossível viver desse jeito. Ao mesmo tempo, percebo, também, que não exsite outra forma plausível para levarmos nossas vidas. Estamos sendo vigiados. Aquilo que chamamos de Deus, Alá, Buda, Wesley Snipes, Alexandre Pato, Maomé,etc...Não passa de um grande punheteiro. Ele criou um brinquedinho tão legal, com tantos personagens...Pois bem, vamos viver esta farsa. Poucos sabem que somos iguais a ratinhos de laboratório. As coincidências não existem, a felicidade também não, muito menos a tristeza. Agora, ele nos regula com pílulas, sejam elas legais ou não....Temos que controlar nossos sentimentos, torná-los artificiais. O amor está sendo diluído com muita acidez na ponta de nossas línguas. O transe pode durar horas, dias ou para sempre...
Vontade de voltar é bem incompreensível. Mas...assim eu quis. Desta forma, posso compartilhar esta experiência, estes pensamentos, posso desfraldar meus enigmas e defender minhas teorias da conspiração. Pobre dos "normais", lhes falta a percepção, condição sine qua non para alcançarmos o real estado de graça, o nirvana do desapego...
- Tentem crianças, tentem ! A verdade vos libertará desta prisão !!! Beijos e até a nova viagem...

11 de abr. de 2007

Guernica Armagedônica do Trololó Maçônico Budista

Tão feliz. Estou amando. I'm in love with myself. Eu, estou me amando...quem diria ? Simplesmente feliz ! Porém, me culpo por isso. A felicidade é uma pena, toda pena acarreta uma sanção. O artigo da felicidade te leva a reclusão eterna na alienação. Impossível, triste, lascivo, pernicioso...
A loucura é um elogio, por que os verdadeiros momentos felizes ocorrem acalentados por ela. Por dentro de seus sinuosos fios de cabelo estamos tecendo algo nosso. Quando só nós entendemos, somos verdadeiramente felizes. Me causa gozo enxergar as caras incrédulas quando entramos em nosso transe, que é tão psicotrópico, mesmo sendo careta. A física quântica é laica. Por isso, me atrai. Vamos vitalizar as energias, trocá-las, sentí-las, vamos emergir de nosso submarino mental. Quero ser feliz. Mais que isso, quero fazer todos felizes. Conversas intermináveis, estas parceiras são para sempre. Viaje comigo.
" E por quê não... ? " Temos sorrisos iguais. Vamos abrir essas portas de esmaltes branquilíneos. Haha, good trippin' man !!!
Vamos permitir nada ser, nada querer, não ir, ficar, juntar, multiplicar, não reagir, desbundar, transgredir, agitar antes de beber, provar, usar, voltar...ou não...

10 de abr. de 2007

Dharma, we'll Rest In Peace

É tão fácil amar. Só eu sei como o é, amo por tantos motivos seja pelo jeito, pelo estilo, pela cabeça, pela forma, pelo disforme, pelo absurdo, pelo assustador, pelo diferente, pelo surpreendente...etc, etc. Mas o problema é a confusão. Não preciso ser um "shiny happy people" para amar, eu consigo amar por detrás da minha carranca, consigo continuar amando mesmo com os dentes cerrados, rangendo - os até fechar meu capacete protetor. Com ele, obtenho a liberdade de tudo o que é superficial. Porém, ao mesmo tempo, fujo da verdade, do carinho, da cumplicidade...
Apesar de tudo isso, conheço meu destino e gosto dele. Meu caminho está sendo e sempre será traçado com várias curvas, chicanes, freadas. Até, talvez, batidas. Quero descansar em paz, no meu zen irritadiço, só quero rir, rir até de chorar, sem ter motivo algum para tanto. Quero experimentar os altos e baixos e sorver cada gota de seus momentos. Depois de tudo isso, espero você vir, meu rompante criativo...Invadido por este que me é tão caro. Me sinto mais um Jack, frente a uma velha máquina de escrever que tem cheiro de café e gosto de boemia, escrevendo a base de pílulas de felicidade...Desvairados, todos somos !

9 de abr. de 2007

Noir

Aquela noite não precisava ter terminado...Como eu queria que ela fosse eterna...Eu poderia perfeitamente ficar perdido no meu transe inerte. Me diverti bastante, mesmo sem ter feito nada de especial. Aí reside o grande mistério. Busco a felicidade no mais simples. Como são aprazíveis os momentos puramente intediantes. Desde que estes sejam brindados por muita ironia, cerveja, fugas, viagens e conversas intermináveis sobre muita coisa e sobre o nada ao mesmo tempo.
A gente sabe como funciona, só não podemos contar pra eles. Se isso ocorrer. Bom...corra ! A cadeia pode ser interessante até. Eu, particularmente, não imagino que seja pior que uma clínica de desintoxicação ou La Pinel..." I just wanna beat'em, beat'em, beat'em..."
Não quero derreter no sol. Só quero ser Jeannie e ficar dentro de uma garrafa. Não temos muita opção. Sempre fazemos a mesma coisa. Auge do contrasenso. Conseguimos criar a rotina da loucura.
- Tio, não se preocupe, eu não vou tão longe, só vou até a esquina...Me conheço, sei do que gosto...Por isso, é só de vez em quando. Que perigo ! Tem gente que não volta, outros viajam por alguns meses, bad trip !
Ei, acorde ! Estamos chegando !!! Não sei como, mas estamos aqui de volta...Nem sabes, viemos ouvindo jazz e batendo palmas. -

6 de abr. de 2007

Morte e cigarros

()..Ele fez uma curva fechada e atropelou um mendigo. Foi horrível. A minha reação foi xingá-lo e colocar o cinto de segurança. Não sei porque, já que o carro estava inerte naquele momento. Ele desceu e levantou o mendigo do chão. O vagabundo estava bem, o colocou sentado no banco de trás e continuou a dirigir.
- Então –disse ele berrando por causa da chuva e do motor barulhento – o que você faz quando não está sendo atropelado?!
- Mato pessoas e mando elas pra lua!
- Sério?! Interessante. Olha só rapaz! – gritou ele me dando um soco no ombro – atropelamos um cientista!
- Eu tinha a cura do câncer, mas acho que vocês não merecem essa cura – disse o vagabundo.
- É mesmo?! - gritou ele.
- Eu me divorciei de minha mulher e fui pra brasília ver os discos voadores no planalto central..

Mesmo bêbado, aquele papo ainda era tão incompreensível quanto realmente parecia.

Deixamos ele no primeiro pronto socorro que apareceu na frente. Depois disso fomos para um boteco e ele se encarregou de arranjar umas companhias para nós. Eu até hoje não entendo como ele fez para entrarem no carro com a gente. Não por nós. Não parecíamos tão horríveis quanto realmente éramos. Mas, aquele carro. Era pior do que realmente parecia. Mas elas entraram. Elas sempre entravam, ele sempre as convencia. Você podia quase ter sido cúmplice de um homicídio no minuto anterior e no seguinte estava num carro velho e cheio de água e lama, mas estava acompanhado. E bem acompanhado. Não me lembro direito delas, mas eram bonitas, ele sempre arranjava as mais bonitas. Certa vez estávamos em uma turma de 7 homens e ele arranjou companheiras para todos. Não o levem a mal, foram todas de graça.

Quando entrou numa festa privada fingindo ser um figurão, era óbvio que não tinha um tostão furado no bolso. Mas ele entrou. Nós de roupas alugadas e sapatos apertados e gravatas desconfortáveis ficamos do lado de fora enquanto ele entrou e saiu nas páginas sociais acompanhado de uma loira incrível. No dia seguinte ele recompensara a turma fazendo uma festa apenas para seus conhecidos na frente de sua casa. A casa dele era horrível, mas ele sempre fazia elas entrarem, elas sempre entravam. Aquela casa era pior do que parecia. A rua ficou lotada de “conhecidos” e “conhecidas”. Foi a melhor festa que já vi na vida, e da qual participei.Mas, ele não pode superar aquilo.

Era um daqueles caras que você simplesmente não imaginava que iria um dia morrer. Apesar, de constantemente dar avisos barulhentos sobre a proximidade deste evento. No caixão ele não parecia ter tido um carro que caía aos pedaços, nem que fora viciado em heroína e livrou-se dela como se fosse um pacote velho de chicletes. Não estava com seu maço de cigarros em seu bolso esquerdo. Não, ele não fumava, “mas tem mulheres que fumam meu guri!”, ele sempre dizia. Era um amigo bom, mas não era tão confiável assim. Embora, nunca pudesse realmente fazer algum mal aqueles que chamava de amigo. Um cara pobre de alma e provavelmente está fazendo alguma festa no inferno. Não, caras como ele não vão pro inferno, mas passam as férias de verão lá. Lá estão muitas modelos de “estilo”. Ele não entendia muito bem as mulheres, mas ele sempre falava que não era preciso entender nada sobre esse assunto.

Eu me lembro que quando saía do carro acidentado procurei minha carteira, por um segundo tinha realmente esquecido quem eu era. Eu via imagens de uma infância que não parecia ser minha. Olhei para os lados, ninguém. Abri a carteira e nem precisei ler meu nome. Lembrei. Olhei dentro do carro. Nada. Andei alguns passos para trás, caminhei até um corpo no chão. Estava morto, com certeza. Por uma estranha ironia o seu maço de cigarros estava intacto. Dentro, guardava seu isqueiro Zippo, ele sempre achava que o Zippo lhe dava um ar elegante. Acendi um cigarro e esperei ajuda.

O enterraram numa cova barata. A mãe dele olhava para todos os “amigos”, “conhecidos” e “conhecidas” e seu olhar era de reprovação, para cada um deles. Eu nunca imaginei que ele tinha uma mãe.

5 de abr. de 2007

Muralha da China

Passo por minha morada, estou sentado numa confortável poltrona que se desloca velozmente nas curvas sinuosas. Não reconheço minha fortaleza, não sinto ela, não acredito que seja minha, que faça parte de mim. No caminho encontro vários amigos. Mas só cruzo por aqueles que conheço só por fora...Quem são eles mesmo ??? Fomos apresentados realmente ou estou apenas delirando ???
Sinto que não faço parte deste mundo, pareço estar deslocado nesta casta, estou perdido na estação. O expresso 222 passou, o 666 também. E, assim mesmo, sigo no meu fingimento, acreditando ser zen. Viva os budistas demi - sec ! Os Kerouacs burocratas, os comportados Keith Richards, os geniais Beto Jamaicas, os educativos Big Brothers. Não posso me esquecer do jornalismo verdade da Contigo, este sim é pura prestação de serviço...Ai, ai chega de ironia !
Estou negando meu charme, por que não quero me expor. Optei pela antipatia, esta ajudou a cimentar os muros medievais que criei, as máscaras que encobrem meus olhos, os cavaleiros que protegem meu coração, os yuppies que desorganizam meu cérebro, o bálsamo da aceitação que evita odiar a benção da burrice. Sou muito pouco. Mas, poderia ser muito. Isto me cansaria por demais, "...se fui rei, fui rei das chagas...", meu cadafalso onde está você ? Te procuro há anos, estás com o Wally ???
Gracias vieja !

4 de abr. de 2007

Numa Terra de Gigantes...

Tudo é tão triste. É tão desolador viver perdido nas mentiras, meias verdades, omissões, etc. Quantos mais descubro, menos sei. Assim funciona, maldita prisão filosófica. Somos apresentados a tantas perguntas. Até temos respostas. Mas, todas sem conclusão. Afinal, não passamos de um coro uníssono de verdades em separado. Jamais saberemos na totalidade o que se passa no nosso Mundo. A ficção tenta, bem que tenta nos mostrar a realidade. Mas, nos enganamos. Não suportaríamos encará - la de frente. Seria damasiado cruel.
Esta é a suprema ironia, glorificamos as "invenções" artísticas, quando na verdade, estas nada têm de fictícias. Os gênios tentam abrir os confins de nossas mentes. Tentam em vão, claro ! Até porque como Orwell nos lembra: A salvação virá dos proles ! Mas, ele e eu sabemos que os proles quando souberem que podem ser a salvação deixarão de ser eles mesmos. A verdade está na extinção dos colhões Bukowskianos. Ele alertou: vão nos sugar a coragem ! E nós, como sempre, fizemos ouvidos mocos para Uncle Charles. Pois bem, viva o século XXI ! Conseguimos finalmente nos entregar de corpo e mesmo de alma, que sequer existe.

2 de abr. de 2007

Pega no ganzê, pega no ganzá...

Eu li nos búzios que meus ascendentes são uma ficção criada pela numerologia. Estou rezando um pai nosso pro meu Buda. Tadinho dele, está tão puto da cara com sua mais nova encarnação. Ele voltou, no corpo de um burocrata da equipe da desgovernadora Crusius Credus.
Paguei o dízimo para a minha sinagoga. Meu rabino quer uma gravata Armani novinha em folha e, é bom que ele pague pela mesma, nem que seja com nosso dinheiro laico. Afinal, essa história de pegar artigos finos emprestados das lojas de grife nos Estados Unidos está ficando chato. Pelo menos, qualquer coisa, a Vovó Mafalda Sobel pode sempre pedir empréstimo, a não ser que a polícia federal esteja de mau - humor.
Sou um politeísta da monocultura do Inferno. Nossas mentes pequeninas são tão legais, os "Gulivers" adoram brincar com elas. Eles acariciam nossos cérebros com o ferrão cheio do veneno maniqueísta. Ainda bem que os tons de cinza não existem. São apenas e tão somente, lendas urbanas. Alguém aí viu o chupa - cabra ou foi pra Varginha no verão ?

Narciso

Eu sou tão lindo, eu sou tão belo. Estou tão apaixonadamente embevecido pela minha personalidade. Tão bêbedo por causa de minha inteligência...Só você que não nota, só mesmo você. Teus lábios seriam tão lindos e tão castos. Pena que eles já provaram muitos gostos, texturas, libidos, feridas.
A loucura nunca nos aproximou, au contraire, nos distanciou para sempre. Nosso autismo sobrepujou a vida à dois. Estamos reclusos em bolhas com proteção contra tudo que não for sectário e contra tudo que não seja relativo a nós mesmos. Agora que sou tão perfeito, só quero que a senhora jogue no chão este cálice cheio de alucinógenos. Vamos celebrar a minha estupidez. A dos outros não interessa, só a minha.
O espelho é meu fiel escudeiro. Ele sempre está lá a me admirar, você não ! Mas melhor ainda é minha mente. Discuto comigo mesmo. Discordo de mim muitas vezes, sempre estou me aconselhando, refletindo, apontando meus erros. Ah, o que seria de todos nós se não fosse a coragem. Maldito sentimento dos destemidos. A coragem que é tão boa pros que nada me acrescentam, seria por demais perniciosa para moi...
Já teria virado o fio, puxado o gatilho, esticado a carreira, fugido de casa...
Nós ainda vamos nos reencontrar. Vamos fugir juntos. Eu vou te salvar de ti mesmo, e tu farás o mesmo comigo... " ..e nem vou pensar se me chamar pra fugir contigo outra vez. Não vou pensar se amanhã a certeza será talvez.."

31 de mar. de 2007

Inocência Perdida

Quando aos dois anos, vi a minha mãe colocando os presentes de Natal na árvore, no dia 23 de Dezembro de 1989, a inocência acabou pra mim. Metáforas nunca foram suficientes, nunca adiantaram para me ludibriar. Isso tudo fez com que nunca tivesse ilusões. Talvez, seja por isso que não tenha tido muitos sonhos. O que me resta de desejos é regado pela vaidade, que na verdade é a única coisa que me motiva a seguir em frente. Claro, ainda tenho a irrefreável vontade de viajar, cada vez mais longe. Até não voltar mais. De resto, não tenho nenhum interesse real e verdadeiro.
Meu grande problema está em não aceitar a matéria. Tudo que é matéria se extingue. E, portanto, não me interessa. Me cativam as idéias, que são perenes. Só elas irão sobreviver ao caos cibernético. Esse desapego ao físico é o que me faz sair tranqüilo de casa. Não me preocupo com meu aspecto molambento, minha barriga obscena, minha coluna fudida, minhas pernas tortas, meu pau pequeno. Tudo vai virar pó mesmo.
É impressionante como eu oscilo, meu humor é quase bipolar. Por vezes, sou anjo. Mas, também, sou diabo. Tudo depende do meu estado de espírito. Com certeza não é um estilo que agrade. E nem quero que isso ocorra. Gosto do ame–o ou deixo-o, quem me aprecia realmente o faz. Quem não gosta, nutre um ódio voraz. Daqueles que te faz gritar aos quatro cantos: O RODRIGO É UM FILHO DA PUTAAAAAAA !!!
Ai, ai, essa confusão. Tudo é cíclico. Minha mente é uma roda viva. Estou fazendo coisas demais ao mesmo tempo e ainda consigo me divertir, deveria abstrair este vocábulo do meu dicionário. Bem como, as idéias de trabalho e estudo. Quero ficar recluso. Uma fuga para o Tibet com uma mochila recheada de livros, um vinho, alguns fininhos e minha personalidade multifacetada não seriam uma má idéia...

28 de mar. de 2007

Os falsários

Eu sou uma farsa, eu vivo uma farsa, eu estudo uma farsa e ainda por cima eu vou manipular essa farsa. A mídia, distorce, torce, retorce, enxuga, engoma, manda prá lavar e bota prá secar. E faz muito mais. Claro que faz ! Nós não fazemos nada. Afinal, deixamos a mídia. Por que, deixamos nosso senso crítico em algum lugar além da imaginação. É tão fácil glorificar os meios de comunicação. Tão simples é apontá - los como culpados pelas distorções e mentiras da nossa sociedade. Não que a imprensa não minta ou maquie a realidade. Muito, mas muito longe disso. Porém, a nossa vilã favorita, só molda quem deixa ser moldado. É preciso acabar com a política do tirar o sofá da sala, botar a poeira debaixo do tapete. A culpa é nossa, só nossa, tão nossa !!!
Quem for ingênuo o suficiente para comprar o peixe global como ele é vendido não pode cobrar nada de ninguém. Jornais, revistas, rádios, televisões, etc... são negócios como qualquer outro. São extratos do pensamento de seus donos, os quais têm diretrizes, pensamentos e linhas de conduta. Eles também têm ideais, times, partidos, filosofias. E, além de tudo, são financiados por empresas que defendem apenas seu próprio lucro. Nada mais justo. Afinal, empresas são criadas para isto mesmo.
Em suma, cabe a nós o dever de informação. Temos o dever de querer a obtenção das verdades que estão encobertas. Basta buscarmos os canais certos. Estes, se encontram entremeados por nossos neurônios. Nenhum satélite vai mudar minha percepção. Não tem antena que modifique minha sinapse. Do caos a lama nós vamos em frente. A parabólica já chegou até no mangue, o pensamento sequer atingiu os campus universitários.
Bom, tem futebol hoje de noite, em horário de boate, por que antes temos de saber como ser felizes. Mesmo que tenhamos que comer merda flambada, ou beber água Dom Urinón com gás. Tudo, como sempre, muito nutritivo.