3 de jan. de 2009

Miss Janeiro

JANEIRO

Não sei pontuar a minha lembrança mais remota. Muito menos, a minha paixão mais antiga. Apenas, posso teorizar sobre o assunto e tentar descrever da melhor maneira possível. Os fatos e a ordem deles não ocorreram assim, mas, é como eu me lembro deles (não será preciso citar a frase de Ethan Hawke sobre os chavões novamente, certo?).

O nome dela é Bianca. Era minha vizinha de apartamento. Lembro muito pouco dela, do seu rosto, da sua voz e o que fazíamos. Lembro que tinha um cabelo escuro e longo, que o prendia com um rabo de cavalo. Mas a maneira que a descrevo, pode ser completamente mentirosa, quão acostumado estou com as peças que minha mente me prega e constantemente me traí.

Lembro de estar levemente apaixonado e não saber o que sentia. Uma vez, no terraço do prédio, perguntei inocentemente se ela me aceitava como seu namorado. Lembro que a resposta nunca veio. Lembro não ter ficado incomodado, nem ter tocado mais no assunto. Embora isso tudo possa ser mentira, quem poderá saber?!

Certa vez, ela havia ganho uma pasta de dente. Para mim viria ser uma novidade impressionante. Não era um pasta Colgate, isso já seria uma das coisas mais impressionantes (existiam outras pastas de dentes!). Era uma pasta Tandy, tinha um esquilo desenhado no tubo, o sabor era de morango. Lembro disso apenas por que ela, na inocência de uma criança, tinha lambuzado o dedo e me dado para provar a pasta. Talvez ela me visse como um irmão mais novo (ela tinha um ano a mais que eu) ou talvez não.

Como todo bom relacionamento; brigas! Nossa briga mais marcante foi no quarto dela. Estávamos brincando, eu tinha um urso e ela um palhaço de plástico que ria quando se dava corda. O motivo da briga? Não recordo. Apenas lembro de estar puxando freneticamente a corda do palhaço até ela não voltar mais, ela gritava e rasgava as orelhas do meu urso. Eu joguei o palhaço na parede, o que fez ele se desmontar. Mas ela só chorou de raiva, quando eu arranquei meu urso das suas violentas mãos, mãos torturadoras de pelúcias, e fui embora batendo a porta de seu apartamento. Algumas horas mais tarde estávamos no parque, convivendo, como se nada tivesse acontecido.

Janeiro, é o mês das novidades. Mesmo que as novas estejam velhas, é a oportunidade de conhecer e tentar (até buscar), pelo novo. Talvez, nesse caminho, consigamos nos descobrir enquanto lambemos as feridas dos meses passados.

Ou talvez não.