31 de mar. de 2007

Inocência Perdida

Quando aos dois anos, vi a minha mãe colocando os presentes de Natal na árvore, no dia 23 de Dezembro de 1989, a inocência acabou pra mim. Metáforas nunca foram suficientes, nunca adiantaram para me ludibriar. Isso tudo fez com que nunca tivesse ilusões. Talvez, seja por isso que não tenha tido muitos sonhos. O que me resta de desejos é regado pela vaidade, que na verdade é a única coisa que me motiva a seguir em frente. Claro, ainda tenho a irrefreável vontade de viajar, cada vez mais longe. Até não voltar mais. De resto, não tenho nenhum interesse real e verdadeiro.
Meu grande problema está em não aceitar a matéria. Tudo que é matéria se extingue. E, portanto, não me interessa. Me cativam as idéias, que são perenes. Só elas irão sobreviver ao caos cibernético. Esse desapego ao físico é o que me faz sair tranqüilo de casa. Não me preocupo com meu aspecto molambento, minha barriga obscena, minha coluna fudida, minhas pernas tortas, meu pau pequeno. Tudo vai virar pó mesmo.
É impressionante como eu oscilo, meu humor é quase bipolar. Por vezes, sou anjo. Mas, também, sou diabo. Tudo depende do meu estado de espírito. Com certeza não é um estilo que agrade. E nem quero que isso ocorra. Gosto do ame–o ou deixo-o, quem me aprecia realmente o faz. Quem não gosta, nutre um ódio voraz. Daqueles que te faz gritar aos quatro cantos: O RODRIGO É UM FILHO DA PUTAAAAAAA !!!
Ai, ai, essa confusão. Tudo é cíclico. Minha mente é uma roda viva. Estou fazendo coisas demais ao mesmo tempo e ainda consigo me divertir, deveria abstrair este vocábulo do meu dicionário. Bem como, as idéias de trabalho e estudo. Quero ficar recluso. Uma fuga para o Tibet com uma mochila recheada de livros, um vinho, alguns fininhos e minha personalidade multifacetada não seriam uma má idéia...

28 de mar. de 2007

Os falsários

Eu sou uma farsa, eu vivo uma farsa, eu estudo uma farsa e ainda por cima eu vou manipular essa farsa. A mídia, distorce, torce, retorce, enxuga, engoma, manda prá lavar e bota prá secar. E faz muito mais. Claro que faz ! Nós não fazemos nada. Afinal, deixamos a mídia. Por que, deixamos nosso senso crítico em algum lugar além da imaginação. É tão fácil glorificar os meios de comunicação. Tão simples é apontá - los como culpados pelas distorções e mentiras da nossa sociedade. Não que a imprensa não minta ou maquie a realidade. Muito, mas muito longe disso. Porém, a nossa vilã favorita, só molda quem deixa ser moldado. É preciso acabar com a política do tirar o sofá da sala, botar a poeira debaixo do tapete. A culpa é nossa, só nossa, tão nossa !!!
Quem for ingênuo o suficiente para comprar o peixe global como ele é vendido não pode cobrar nada de ninguém. Jornais, revistas, rádios, televisões, etc... são negócios como qualquer outro. São extratos do pensamento de seus donos, os quais têm diretrizes, pensamentos e linhas de conduta. Eles também têm ideais, times, partidos, filosofias. E, além de tudo, são financiados por empresas que defendem apenas seu próprio lucro. Nada mais justo. Afinal, empresas são criadas para isto mesmo.
Em suma, cabe a nós o dever de informação. Temos o dever de querer a obtenção das verdades que estão encobertas. Basta buscarmos os canais certos. Estes, se encontram entremeados por nossos neurônios. Nenhum satélite vai mudar minha percepção. Não tem antena que modifique minha sinapse. Do caos a lama nós vamos em frente. A parabólica já chegou até no mangue, o pensamento sequer atingiu os campus universitários.
Bom, tem futebol hoje de noite, em horário de boate, por que antes temos de saber como ser felizes. Mesmo que tenhamos que comer merda flambada, ou beber água Dom Urinón com gás. Tudo, como sempre, muito nutritivo.

24 de mar. de 2007

Beatnik

Talvez Tio Jack e Vovô Charlie estejam me fazendo mal, incutindo uma demasiada inconseqüência na minha cabeça. Mas, eu estou determinado a viver como um beat. Apesar de que eles foram extintos há uns 70 anos, quiçá. Ou não, afinal, vivo na cidade mais européia do Brasil. Deve ser por isso que é uma das mais chatas, também. Assim é Porto Alegre. Bom aqui temos a Cidade Baixa. Lá, todos os leitores de Kerouac, Ginsberg, Bukowski, etc, e não - leitores também, experimentam em partes a vida que estes autores um tanto quanto autobiográficos viveram. Infelizmente, não podemos cruzar nosso país de trem, ou de qualquer outra forma, já que no Brasil até atravessar uma rua é perigoso. Tampouco, podemos ir ao México ou a algum outro país vizinho bizarro, por que nossos bolsos estão vazios. Quer dizer, até viajamos. Mas, naquelas excursões enlatadas, típicas da pequeno burguesia que esqueceu seu cérebros em algum lugar antes do Big Brother. Mochila nas costas não existe para eles.
De qualquer maneira uma noite não termina sem muita bebida, sem que alguém tenha fumado. Algum traficante te oferece a cocaína que você nunca vai usar e muitos estranhos seres são vistos, ou você é o estranho que eles olham...
Mas, não para por aí. Podemos fazer muito mais. Quanto mais perigoso e non - sense melhor. Não temos nenhum apego a nossas malditas vidas mesmo. Ninguém se importa, muito menos entende. Então, que se foda !
Eu só queria ser filósofo. Mas, tenho que ganhar dinheiro...

14 de mar. de 2007

Um dia no hospital

Entrei naquele hospital.. algo no ar, cheiro de álcool e desinfetante ligam-me à morte. Não existe lugar mais deprimente que um hospital, ou pelo menos, não existe lugar que consiga me deprimir mais que um hospital.
Por motivos de saúde de um parente, estava preso naquele maldito portão dos males obrigatórios. Estava mal acompanhado, eu digo isso pelo simples fato de perceber as companhias sentadas ao meu lado; a vida é frágil.. Difícil lembrar disso quando se tem 20 anos e se reclama porque alguma fulana de tal o largou por outro cara que tinha um carro, emprego e um cacete de 20 centímetros...
Esqueci um pouco de sentir um desconforto quando eu fiquei realmente.. extremamente.. desconfortável. Uma menina, não mais velha que eu. Cabelos escuros, pele branca e mesmo com o rosto vermelho de choro era impressionantemente bonita. O médico estava ao seu lado de pé; ela sentada ouvia num desespero controlado pela sua exaustão que iria morrer e nada poderia ser feito.. Não digo em 10 anos ou uma filosofia barata de "todo mundo morre um dia", ela ia morrer, e logo. Me esforcei para conter lágrimas alheias, um completo desconhecido, talvez, fragilizado pelo momento.. nunca irei saber.. e eu pensava que eu tinha problemas.. agora penso em egoísmo.

11 de mar. de 2007

Aspanú

Quem são seus amigos ? Seriam eles verdadeiros ? Confiáveis ? Parceiros para todas as horas ? Sem dúvida esta é uma das coisas mais difíceis de se determinar num mundo tão individualista como o nosso. As decepções são muitas. Por outro lado, as vezes, pessoas com as quais não nutrimos grande relacionamento nos surpreendem com atitudes da mais pura camaradagem.
Há quem diga que as personalidades são moldadas por suas circunstâncias. E isto é verdade. Quem nunca notou que seu amigo ou amiga mudou radicalmente com um namoro ou uma outra amizade, uma mudança de colégio, a entrada na faculdade, etc. Ai é quando mais dói, a amizade vai se desconsruíndo, perdendo o sentido. Quando encontra o velho amigo depois de um tempo, não há que dizer. Não existe vontade em contar nada. A cena é gélida, despida de intimidade. E, afinal, o que aconteceu ? Esta é uma pergunta sem resposta. A falta de tempo, de contato, acabou com a fraternidade.
Nos restou o vácuo. Mas, é assim mesmo poucos ficam contigo nas boas e nas ruins. Alguns supervalorizam certos relacionamentos, que na verdade eram superficiais. Amizade de ocasião, por puro interesse. Porém, sempre tem aqueles poucos, que podem não encher uma mão. Mas, ficam pra sempre, te carregam, tanto no sentido literal quanto no figurado. Ouvem teus lamentos, comemoram tuas vitórias. Saem cidade a fora bebendo e fervendo. De qualquer maneira, vale a pena aproveitar todos os momentos. Afinal. não sabemos se quem está ao nosso lado agora vai nos virar a cara na semana seguinte. Ainda bem que o samba está sendo diluído na minha mente a essas alturas...

6 de mar. de 2007

A Janta

Enquanto as pessoas na sala de jantar comem tranquilamente, eu vomito idéias. Idéias não muito bem compreendidas. Um dia ainda vou escrever um texto que não receba críticas. Pensando bem, espero que este dia nunca chegue. Por que quando isso ocorrer terei me tornado parte do senso comum, serei igual a todos, defensores do coro dos contentes. Que se critique então meu negativismo, minhas críticas ferozes. Por acaso querem que eu fale de flores ? Bom, mesmo que queiram, não falarei ! Não nasci com essa vocação. Gosto de meter fundo, bem fundo o dedo nas mais diversas feridas. Odeio tapar o sol com a peneira, e seguirei assim.
Percebo que minha verborragia pessimista não é bem aceita. Mas, não irei mudar meu estilo, minhas atitudes, serei como sempre fui. Temos mesmo que expor os erros, de maneira nenhuma devemos mascará - los.
Tenho verdadeiro ódio dos amorfos, eles estão nos destruindo, destroçando nossa sociedade com sua ausência de pensamento. Justo o pensar que é nosso bem mais valioso, vem sendo descaradamente jogado no lixo pelas gerações mais novas. Não bastasse isso, quem foge a este paradigma é atacado. Boa parte desta catástrofe filosófica advém da cultura que propaga o vazio ideológico. Como diria Nenê Altro: " música popular deve anestesiar as mentes em refrões atóxicos". E, infelizmente, não apenas na música esta sentença se mostra verdadeira. Isto ocorre nos mais diversos campos de atuação artística e cultural. A consagração vem para os politicamente corretos, ou pior: Para os que versam sobre o nada. E são muitos que assim agem.
E a quem tanto interessa esta situação posta ? As elites claro ! As mais diversas camadas do poder. Eles não querem que as pessoas possam ir além. Este é um pecado supremo para eles. Pelo menos de minha parte seguirei sendo um pecador. Um legítimo herege.

5 de mar. de 2007

Rótulos

" Tu sabe que o Rodrigo é meio intelectual", hoje de manhã ouvi esta frase, e não é primeira vez que ouço tal sentença. Quem começou a ler o texto deve estar se perguntando, e eu com isso ? Esse idiota por acaso resolveu ficar se autolouvando ? Não, nada disso ! É que eu discordo deste "elogio", estou muito mais próximo de ser um "pseudo - intelectual", como gosta de dizer o Tiago ( pra quem não sabe: Tiago = Anticontrole ). Mas, de qualquer maneira este maldito rótulo me persegue. E, com certeza, não me trouxe nada de bom. Esta pecha só tem me dificultado a vida. Ah, como é difícil para um "meio intelectual" arranjar namoradas, amigos, ficantes, parceiros, etc. Afinal, parece que ando com uma placa em neon em minha testa dizendo: ESTRANHO !
Sem falar que este título imputa uma pressão e uma responsabilidade bem complicadas de se lidar. É uma merda ter que ser perfeito gramaticalmente ou culto o tempo inteiro por que os outros esperam isso de ti.
Tudo isso me leva a pergunta fatal: Por que nos dividimos tanto ? Por que somos tão sectários ? Tudo é separado em castas. Peretencemos a diferentes classes. Todos temos que ser alguma coisa pré - definida, e assim sempre seremos. Pelo menos é isso que eles querem. Vivemos a grudar etiquetas uns aos outros. Com isso, não permitindo que as verdades venham à tona. Realmente somos autofágicos. Afinal, todos assistem a novela das oito, e tudo dá certo na tela da "plim - plim". Pois bem, vamos nos moldando para a sociedade imutável. Enquanto Durkheim comemora debaixo da terra, eu ergo meu copo de chopp e tento me esquecer disso tudo.