28 de ago. de 2007

Colóquio Repentino

Lá pela qurta cerveja...

- Sabe, tava pensando esses dias no meu ideal de morte. Não, não é nada de papo suicida. Mas só uma viagem de como gostaria de morrer...Tu gostaria de morrer como?
- Ah, dormindo, ora. Sem sofrimento para mim e pros outros. De quebra ainda morro com uma cara serena, com uma certa dignidade.
- Como se a tua cara póstuma fosse enganar alguém!
- Ah, não fode!
- Mas, na boa, que chatice, morrer durante o sono, por favor! Eu quero morrer num acidente de carro, algo trágico, espalhafatoso, causar comoção!
- Ah, por que eu sempre começo as frases por ah, ?, Na real isso aí é só mais um traço da tua megalomania.
- Pode ser, mas o que eu quero é glorificação. Essa vida não vale de muito, dificilmente vamos marcar nossos nomes acho que uma morte traumática seria o ideal para uma perpetuação...
- Não fala merda. A morte deve ser nosso descanso, se morrer assim, quando muito vai mostrar que era mais um inconsequente dirigindo pinguço por aí.
- Tá mas ouça o meu plano B. Talvez, tu goste. O - VER - DO - SE! Em mais uma farra uma cheirada depois de beber e queimar tudo e pronto, morro felicíssimo da silva. Por sinal, eu não me conformo em nunca ter cheirado.
- Putaquepariu! Começou tudo outra vez!!! Tu não tem jeito né? Será que toda aquela maconha e o LSD não foram suficientes? Quem tu conhece que tenha usado e abusado de drogas e seja bem sucedido?
- Ah, o, o, o Wesley Snipes!
- Não, um cara branco porra!
- O Wesley Snipes? Tá, mas eu não sou o que pode se chamar de um jovem mal sucedido, posso?
- Depende de qual ângulo vamos analisar...Grana, talvez não. Mas acho que tu não quer que eu fale do teu problema com relacionamentos, quer? E nem tô falando de namoro e sim de qualquer relação interpessoal. Eu sou um dos teus poucos amigos e sei que não dá pra encher uma mão com os outros...
- Ah, mas vivemos numa era de poucas amizades...
- Isso é desculpa, tu não faz nenhuma questão em ser bacana, em tentar ser simpático. De vez em quando um sorriso na cara não faz mal, viu?
- Ah, tá bom, tá bom. Vamos descer mais uma?
- Vamo!

26 de ago. de 2007

Rousseau

O sol ilumina aquela tarde de quase quarenta graus. Enquanto isso, o rio segue seu curso tranquilo, lá Tapuia se banha para tirar o cansaço pós-caçada. O Índio que nem é velho, nem é moço, está no meio do caminho, está satisfeito por ter garantido a comida por um bom tempo ao abater uma simpática onça que jaz há alguns metros da água límpida que o purifica. Calmamente passa a mão pelo braço esquerdo, depois pelo direito, pelas pernas e assim segue retirando o sangue jorrado pelo animal quando da batalha dos fortes contra os fracos.
Terminado o banho sua pele seca ao natural devido ao calor que só aumenta. Tapuia talvez não saiba mas agora são 13 horas. Sua lança, objeto de orgulho e de trabalho, passa a ser a peça central do dia de Tapuia. Curiosamente a dedicação em limpar sua companheira é muito maior do que no próprio asseio, o que antes era um instrumento quase rubro devido ao acúmulo de sangue parece estar novo em folha recobrando sua coloração amadeirada natural.
Lança limpa na mão e alimento às costas assim ele seguiu sua marcha rumo ao encontro da tribo. Sim, aquela mesma velha tribo, com as mesmas pessoas de sempre e os mesmos rituais de todos os santos dias. Lá chegando, começa a carnear a onça para em seguida assá-la. Depois de feito isso, o beijo na testa amargurada de sua Iracema (sua Iracema! Não aquela chata do José de Alencar!!!). Tudo o que ela queria era uma comunidade de crianças para criar. Mas alguma maldição, algum trabalho em alguma encruzilhada qualquer ou excesso de canabbis sativa lhe impedem de ter um rebento sequer. Mas afinal para que servem os filhos? Para comer em um buffet quando você passa mal?
Chega a noite Tapuia e Iracema não fazem mais sexo. Então, ligam a televisão para ver a novela das oito. Incoerência? Eles também merecem se alienar.

21 de ago. de 2007

A CULPA É TODA SUA!!!


agora vai embora daqui...

Língua de Sogra

O meu remédio favorito para cicatrizar feridas sempre foi o álcool, deve ser por isso que no sábado comecei a ingerí-lo logo a uma e meia da tarde. Tá certo que o álcool sempre de uma forma ou outra é encaixada na minha rotina, não existe papo sem ele, não existe festa, comemoração, etc. Bom, nesse sábado eu estava precisando mesmo...Fazia muito tempo que não ficava um sábado inteiro longe de casa, mas não tinha outro jeito. Felizmente, depois de alguma procura encontrei quem me acompanhasse no tradicional ato de afogar as mágoas. Andando meio cabisbaixos pela Cidade Baixa, notamos que não há bares abertos. Então, fomos pra Lanchera. Atravessar a Redenção em um dia chuvoso é de fazer o mais valente tênis tremer, pobre Puma surrado.
Conversa vai, conversa vem e eu provando mais uma vez meu dom em consolar os outros. Sim, eu numa merda, consolando outra pessoa, típico. Eta nuvem negra! Bom não posso reclamar, o papo foi bom, muito bom. Até risadas dei! Logo eu que não mostro muito os dentes. Fui apresentado a uma agradável livraria ali na Garibaldi, quase no Pietro, um ambiente classsicamente pseudo-intelectual, casinha de madeira, livros novos de editoras estranhas, som bacana, mesinha para chá, etc. O problema de quando fico mal é que meu lado consumista aflora. Saí mais pobre do recinto, fazer o que? Afinal, não posso dispensar um Kerouac novo - uma peça - um Caio Fernando e claro um Fante.
Às vezes coisas parecem cair do céu. Eu em uma festa de criança? Pois é, que momento interessante. Voltei alguns anos no tempo e lembrei dos meus aniversários. Retornei a realidade e vi aquela vivacidade infantil, fiquei entusiasmado ao ver um coloradinho uniformizado dos pés a cabeça, a número nove às costas, taí o nosso artilheiro para a segunda década do milênio! Lá pelas tantas me pego em uma vibrante disputa de vôlei, um contra um, com balão rosa. A garotinha simpatizou comigo, fico um tanto quanto perplexo. Pois, pensei que a minha maldade e rancor fossem indisfarçáveis...Me lembro dos bons tempos de piá, nos quais minha vó, mesmo muito doente, em seu leito, me fazia correr de um lado para o outro numa brincadeira semelhante.
Aos poucos a agitação diminui, as crianças aquietam, as mães suspiram aliviadas e eu volto para downtown, só passo em casa para pegar a grana e um pedaço de pizza. Táxi para que? Vamos a pé, é pertinho! Mais umas cervejas, algumas risadas, alguns silêncios constrangedores e doídos e, também, agradáveis encontros surpreendentes. Depois de filas, indecisões e pernadas e afins e etc e tals, entramos em uma noite qualquer com músicas que não tocam ao meu coração ou minha mente eternamente lisérgica...Basta uma pequena parada para que fique remoendo o que me atormenta, sem clima para festa vou embora. No fim, valeu a pena, um sábado que não foi perdido, mesmo que às quatro da manhã esteja em posição fetal com lágrimas nos olhos.

19 de ago. de 2007

Murió

Lá estava ele, compenetrado em sua eterna reclamação, ninguém me nota, ninguém me quer, ninguém me olha, ninguém fala comigo. Ele não percebe mas está se excluindo, se tornando insuportavelmente chato, ao ponto de acabar com qualquer sentimento que alguém por ele pudesse nutrir. Nada mais faz e por óbvio não tem nada a dizer, seus diálogos se repetem, sempre em tom depressivo de total desilusão e com séria dificuldade de exprimir o que realmente está sentindo. Passa os dias como se fosse um moribundo zumbi, até seus irrefutáveis dons estão opacos, ofuscados por sua terrível falta de vontade de viver.
Sua cara de pau é tanta que mesmo sem nunca ter um sorriso para dar, sem ter uma palavra bonita para dizer, sem ter a capacidade de empatia com os outros, quer que estes o tratem bem, como ele acha que merece. Ele quer ser amado sem amar, ele quer ser notado sem notar os outros, ele quer reconhecimento sem merecê-lo. Muita pretensão para quem pouco faz a não ser resmungar pelos cantos e chorar internamente. Todos tem problemas mas para ele só o seus importam.
A inércia desses últimos tempos já lhe custou muito, lhe custou amigos, festas, dias de felicidade no estádio Beira-Rio, etc. Até o golpe fatal vir nada lhe fez despertar para o problemas consigo mesmo. Finalmente o tapa seco em sua face fez acender o alerta vermelho, talvez seja tarde demais. Mas ao fim e ao cabo ele percebeu que ninguém olha para quem está morto. Portanto, só lhe resta viver...

12 de ago. de 2007

Epaê

O final de semana está terminando e cá estamos nós altamente compenetrados em nosso compromisso jornalístico, já faz cinco dias que nos encontramos nessa pousada e a fumaça no ar de maneira alguma diminui a seriedade de nosso trabalho. Apesar de fazer um belo dia estou enxergando tudo cinza, estou ouvindo a batucada que ele faz, seus uivos primitivos me confirmam a idéia de que ele é um elo perdido entre Xapanã e os aborígines da Austrália. Não entendo exatamente o que está acontecendo, só sei que nós cinco estamos conectados por essa sinfonia animalesca, ou talvez, isso seja tudo viagem do absurdo consumo de canabbis dos últimos minutos, segue a batucada e os outros esmurrugando, eu só fecho e toco fogo, fazendo fumaça.
Que alívio sinto em minha alma desprovida de bons sentimentos, estou livre para odiar, me sentindo uma diva, meus braços flutuam no ar comemorando os dias comuns em que ninguém é especial. Como sou belo, pareço um retrato esculpido por Deus. Ah, coitados estão tão abaixo de mim, pobrezinhos. Mas não tenho pena, não merecem. Pobres mortais não merecem a piedade de entidades superiores. É impossível acreditar que ele siga invocando os espíritos malignos da liberdade, por que ele faz isso? Chega! A grande verdade é que estou cansado de ser quem eu sou, sem sequer sentir vergonha de ser assim, me impressiona minha própria disfaçatez. Quem diabos eu penso que engano? Eles sabem, eu sei que eles sabem e finjo não saber.
Não, eu não consigo ser uma boa pessoa, eu não consigo ser corajoso, eu não consigo ser homem, eu não consigo ser nada. É o fracasso potencializado sabe-se lá em quantas vezes. Já me perdi em todas as bocas, já não ouço mais nada, me sinto violado, usado, sujo. Mas mesmo assim sigo inerte. Não consigo nem limpar minha face, sequer posso juntar minhas mãos para pedir o supremo perdão. Logo eu que sempre te neguei, cá estou de joelhos, te pedindo clemência. Me desculpe, mas por favor, me purifique...
Ah, acho que no final das contas isso é só a falta de uma boa transa.

9 de ago. de 2007

Kurt Vonnegut será lembrado!

..Tudo começou à melhorar quando o terceiro Papa do novo milênio foi raptado por um grupo de terroristas urbanos, eles cortaram o corpo em quatro grandes pedaços e distribuíram as partes pelas praças da Itália.

A sociedade começou à questionar sobre a ordem no Reino de Deus.

Os Estados Unidos, sempre eles, decidiram que a política e a ciência não deveria mais ligar a mínima para os valores e preceitos daquela antiga religião, já há tempos moribunda. Não que eles ligassem para isso antes, mas agora era oficial. E se os EUA tinha liberado, o mundo poderia ao menos tentar..

Cientistas da Alemanha abriram uma espécie de fábrica de “galinhas”. Na verdade, eram seres humanos produzidos sem pedaços do cérebro e vendidos para laboratórios com custos baixíssimos.

Assim: quando os Estados Unidos proibiram a igreja de manifestar-se contra qualquer avanço tecnológico, as pessoas começaram se revoltar contra o governo americano. Então eles jogaram bombas.. então todos concordaram. A igreja não servia mais para nada mesmo, então a religião passou a ser oficialmente um hobby. Humanos vinham sendo cobaias de experiências e mutações genéticas por anos. Mas as pessoas se chocaram muito facilmente quando a notícia que a cura para o câncer já existia, porém, custava muitas vidas de crianças acéfalas. A sociedade ainda estava em choque, quando outros cientistas da América propuseram um exercício criativo. Agora era permitido brincar de Deus (se escrevia “deus”), já que “deus” era um hobby e não mais um ser sobre-humano e que poderia vingar-se à noite. Pois bem, foi quando cientistas da Alemanha descobriram uma maneira de manipular geneticamente fetos humanos para aparentarem superficialmente uma galinha.

A sociedade ainda se chocava facilmente, por isso os Estados Unidos decidiram que esse tipo de informação não sairia daquele círculo. O mais difícil foram as penas, os seres humanos – galinhas saíam completamente pelados. Com muita dificuldade conseguiram aplicar um químico que transformava os pêlos em algo poroso e branco, visto de longe pareciam penas, ainda mais visto pela televisão. Mais tarde eles tirariam esse químico porque era muito mais barato “galinhas” peladas. Nenhuma máquina precisaria depená-las, mais barato. Seus cérebros não eram completos, manipulados geneticamente com pequenos pedaços faltando. Isso permitia que as “galinhas” nascessem com um cérebro que não recebia informação de dor. Por exemplo, os cientistas fatiavam as “galinhas” e elas nem batiam as asas, na verdade ficavam tão aborrecidas e de saco cheio que muitas dormiam enquanto eram brutalmente assassinadas.

Isso barateava o custo novamente. O governo podia ter mais dinheiro para investir, já que agora era praticamente impossível roubá-lo todo, eles se viam obrigados à investir em algo urgente.

Casas de burlesco gratuitas foram instaladas em praticamente todas as esquinas. Era mundialmente conhecido os benefícios do sexo casual. E cidadãos felizes produzem mais. Era o que os cientistas falavam sem parar.

As DST’s foram extinguidas, graças às “galinhas”. Existia uma mulher na África que era imune à essas doenças, ela nasceu assim. Ninguém dava bola, nem ela, todos eram imunes agora, grande coisa. A África era o continente mais rico do mundo, os americanos decidiram que lá tinha muito mais espaço. Levaram todo o sonho americano para os africanos. Metade dos animais foram mortos para as cidades nascerem. A seca não era mais um problema porque agora era incrivelmente fácil manipular o tempo e os animais não fariam falta mesmo.

A Mc Donald’s decidiu retirar-se do ramo dos hambúrgueres quando surgiram boatos de que estes eram feitos de “galinhas”. Isso deu início ao que todos chamaram de “comida de astronauta”. Chamaram assim no começo, depois os astronautas viraram tão patéticos e mundanos, que ninguém mais chamava as comidas de laboratório assim.

E isso tudo em um ano...

5 de ago. de 2007

Não Era Dose Dupla

Depois que a goteira seca é que nos encontramos de verdade, nós dois podemos perceber quem somos e se realmente gostamos um do outro. Quando a luxúria cessa, nos resta a conversa, aí mora o perigo. Afinal existem pontos em comum? Ou teremos que conversar sobre coisas que não podemos mudar trabalho, dinheiro, pessoas, etc. Aqueles momentos pós-êxtase são bastante estranhos, não é a toa que muitos se viram e põem-se a dormir, depois do clímax resta algo? Deve ser por isso que os casamentos andam em crise, se baseiam no sexo e convenhamos quem sente real atração por pessoas pelancudas, gordas, desgastadas pelo tempo...
É, por isso, que eu não durmo e não te deixo dormir, preciso saber de ti, saber de nós. Não quero ser um retrato que nunca envelhece e, portanto, tenho que saber se queres algo mais, se consegues dar algo mais, ser mais do que movimentos, mordidas, beijos e libido. Já tive quem nada me acrescentasse, já teve quem me encantasse mas não causasse desejo físico e, até mesmo, quem tivesse sabor fantástico mas de conteúdo opaco. Por isso de ti nunca esqueço, foste tudo, o antes, o durante e o depois. A diversão como deve ser, lúdica, quase infantil, com uma conexão além do químico, beirando o esoterismo. Na conversa não há assunto que não possa desenvolver e melhor de tudo tens opinião, não és mais uma, és única.
Agora só queria tomar um chá e dividí-lo contigo para depois passear nesse friozinho provinciano que encanta, andar por esses parques tipicamente portoalegrenses abraçado contigo, sem ter hora para voltar, sem ter para onde ir, sem obrigações despidas de vontade. Mas não é possível, estou aqui longe, bem longe, trabalhando em uma causa infundada, em uma casa funesta. Quando tiver um tempo vou ler alguma coisa útil, só para não ficar com a impressão de que esse Domingo foi em vão...
Por entre os buracos da cortina me encanto com essa vista bucólica, esse frio de mármore e essa saudade que me dói.

1 de ago. de 2007

C-3

É impossível escapar do paradoxo destino/acaso, quem nunca pensou nisso, quem nunca se introjetou nesses pensamentos? Mas aquele abraço fraterno, aquele encontro surpreendente, aquele carinho inesperado de onde vieram? Combinado não foi, é claro. Mas seria realmente obra de algo maior, não sei, provavelmente não. Isso somos nós que precisamos justificar tudo, criar um sentido na rotina que passa e nos leva sem paradas ao fim que não desejamos.
Maior do que isso, é tentar descobrir o que afinal é vida. Tudo parece tão inadequado. Então, o que é vida? O que é viver bem? Diante da letargia me parece que só queremos afeto e, é isso que buscamos, por vezes de forma bem inquietante, numa antítese do que queremos. Quando os dias se tornam cinzas é impossível diferenciar o bem do mal, é difícil pensar, reagir, atacar, etc.
Por vezes me sinto um passageiro de mim mesmo, de minha existência que no momento parece sem sentido. Nada vem para motivar, nada melhora nem piora, simplesmente não muda. Tudo é igual, indiferente para mim. Assim vou, me acordo mesmo não querendo, levanto, vou trabalhar, estou aqui, volto pra lá, vou pra casa, evito sair, sair pra quê? Janto, não sinto gosto, engulo como quem come papel. Monossilabo um pouquinho para manter as aparências. Até sermão dos mudos ouço. É, não tem como ficar pior, durmo, não me acordem...