3 de fev. de 2009

Miss Fevereiro

Fevereiro

Estou observando a minha vida no espelho. Ossos fortes, traços firmes, rugas, trapézio, barriga desleixada, cicatrizes. Algumas cicatrizes não são visíveis ao olho do ser humano, mas, estão ali.

Fevereiro, existe algo nisso que me incomoda, o mês de fevereiro. Talvez por ele ser tão peculiar entre os doze. E ser tão diferente entre doze semelhantes, é algo louvável e intrigante. Fevereiro tem a vida curta, porém, não menos intensa. Nada impede que grandes acontecimentos ocorram entre seus 28 ou 29 dias. O mês que nos deixa mais velhos, com eficiência e rapidez impressionantes.

Eu a conheci logo após a Bianca. Mas, lembro ter me apaixonado muito depois. Sim, lembro do exato momento em que me apaixonei. Mas não uma paixão boba, passageira. Uma paixão intensa, um amor verdadeiro e incondicional. Talvez, o sentimento mais puro e genuíno que um dia terei. Alguns podem dizer com quantos anos ou em que época de suas vidas sentiram o amor pela primeira vez, pouquíssimos podem determinar com tamanha precisão, quase que cirúrgica, o momento em que PERCEBERAM que estavam de frente a um dos sentimentos mais assustadores e dolorosos da vida de qualquer ser humano. Eu sei quando me apaixonei, eu estava lá!

Terceira série. Descia as escadas do colégio, ia beber água. Ela na cantina, esperava a merenda. Algo de estranho acontecia, eu olhei para ela, em sua calça de abrigo, cabelos castanhos lisos e olhos que mudavam de cor, e eu sentia algo diferente. Estava nervoso pela primeira vez perto dela. Uma amiga comum, de todos os dias e de tantas brincadeiras e brigas. Deveria continuar em frente, mas, algo me disse para ir beber água. Eu o fiz, e olhei novamente para ela. Seu sorriso fez meu coração pulular, minha respiração estava mais forte, senti uma eletricidade em todo o meu corpo, uma adrenalina.. o que haviam colocado naquela maldita água?!
Enfim, ela me chama. Pede ajuda com sua mochila. Os poucos anos seguintes, que muito se passaram, maravilhosos.
Tudo isso por causa de alguns segundos. Os segundos, tão displicentemente menosprezados, me marcaram muito mais do que 22 anos. O que daria para voltar aqueles poucos segundos, onde senti que estava vivo e pensava que tudo ia ficar bem.

Sinto sua falta, miss Fevereiro.