6 de jan. de 2010

Diário de bordo 02/01/10

A causa era desconhecida. Os motivos, obscuros. A pressão nos pneus abaixo de 18. Meus olhos estavam em perfeitas condições, o meu cérebro não. O conflito de realidade, a crueldade das imperfeições e minhas condições críticas intactas.

Percorria a rua deserta e escura, meus faróis estavam apagados. Meu cérebro não entendia a mensagem que meus olhos, aflitos e cansados lhe informava. Uma voz presa dentro de um carro com os vidros fechados, o fedor de cigarro, cerveja e fritura.

Aquela casa, mais uma vez aquela casa. Meu cérebro de instante tornou-se consciente, mas, impotente. Minhas pernas anarquizadas, elas não tinham mais um governo, não obedeceriam mais ordens de superiores.

A escada, a maldita escada, aquela maldita casa. Mais uma vez naquela casa. O calor. O calor do verão de Porto Alegre. A ressaca de fim de ano não curada.

Lá estava ela, nua, de quatro na minha frente. Mais uma vez. Meu cérebro gritou “fuja para as colinas!”, meus olhos não piscavam e minhas pernas oficialmente estavam em greve. O vizinho observava tudo com um binóculo pela porta aberta, o calor e o suor. O vinho, importante e leal vinho, ao lado do colchão. O calor de Porto Alegre, a ressaca mal curada, a ignorância de minhas condições coordenativas, os gemidos de uma mulher, o vizinho provavelmente masturbava-se do outro lado da rua, câimbras, náusea e um carro pegando fogo duas quadras dali. Sorrimos, deitamos, ela dormiu eu queria dormir. . E eu me sentia bem
Quem estava no comando, definitivamente sabia o que estava fazendo.