14 de jan. de 2010

Reza do meio dia

Com toda a força que tinha em minhas pernas, pedalava até a ponta do morro. A estrada era de chão batido, hoje é asfaltada. Deitados nas sombras, alheios a bicicletas, os cachorros preguiçosos e acostumados com a criançada que se encontrava por lá, bocejavam e viraram suas barrigas para cima. Aproveitando os últimos anos de sossego, antes dos traficantes e dos caminhões.
Júlia estava sempre por lá. Praticamente a minha vida toda fui louco por Júlia, creio que ela nunca soube disso. Encontrávamos todos os finais de tarde no fim da estrada, na nossa frente, a cidade. Ficávamos por lá até as 19 horas. Praticamente não fazíamos nada, apenas conversávamos. Na volta ela sentava entre o guidão e meu banco. Dava uma carona para ela até sua casa. Ela tinha cabelos longos, lisos e castanhos. O cheiro dos cabelos dela me lembrava canela. O caminho até a casa era feito em silêncio, mas eu sentia algo especial. Eu me sentia bem, me sentia feliz e completo. Tudo isso antes de qualquer pensamento “depravado” que viria a ter por Júlia mais tarde. O sentimento mais puro e honesto que apenas a idade me permitia ter e que agora me sinto logrado pelos anos que se passaram e minha inocência e sentimentos sinceros perdidos para sempre.
Criança, não cresça tão rápido.