17 de jun. de 2007

Aquele maldito jantar

- Então, o que tu faz?
Eu mexi nas ervilhas com meu garfo.
- Edison? O que você faz?
Tive que parar de brincar com a comida e encará-lo.
- No momento nada – disse sorrindo.
Ela me olhou com uma certa reprovação, percebi que minha pequena brincadeira não tinha vindo em um bom momento.
- Ele faz faculdade de cinema! – ela disse.
De repente me senti ridículo quando ela disse isso na frente de um advogado.
- Que legal! – disse sua mãe tomando um suco de tomate (quem bebe isso?!!).
Ele não comentou nada. Não precisava. Sabia exatamente o que ele pensava. Pensava que eu era um vagabundo.

E eu era (sou).

- Tu quer ser ator? – perguntou a irmã.
- Não, não. Eu quero ser roteirista e com o tempo e experiência, diretor.
Me senti mais ridículo. Tomei o último gole de coca. Eu era o único que bebia refrigerante. Tive vergonha de pedir mais.
- Por quê?
Aquelas ervilhas eram horríveis, detestei o tempero. A irmã levantou-se e a mãe saiu para pegar uma sobremesa.
- Acho que eu quero passar a minha vida fazendo algo que eu goste. Eu gosto de escrever... não sei.

Eu não consegui pensar em nada mais profundo que isso. Ele engoliu o último pedaço de galinha.

- E você é bom? Quanto ganha um roteirista no Brasil?
- Não sei.. depende.
- Isso não é resposta que se dê – disse o infeliz sorrindo.
Estava começando a odiar aquele cara.
A sobremesa chegou. Era uma musse de chocolate. Eu estava cheio. Aquelas ervilhas não tinham me feito muito bem. Ela sorriu e apertou minha mão.
- Pai, pára de assustar ele.
- Só estamos conversando querida. Só conversando.
Eu realmente estava odiando aquele cara.
- Nunca pensou em outra profissão? Como tu vai te sustentar daqui alguns anos?
A mãe dela me empurrou uma tigelinha florida cheia de musse. Eu agradeci e comi. Estava enjoado.

Desejei estar em casa vendo televisão e nunca ter aceitado ir naquela maldita casa. Eu achava que essas perguntas só se faziam em filmes americanos de comédia. De uma certa forma, ele lembrava meu pai; as mesmas perguntas que eu nunca respondia em casa.

Os pais não gostam dos filhos dos outros, pensei.

Sorri e respondi de boca cheia de musse de chocolate alguma coisa engraçada e não mais tocamos no assunto. Ele foi para a sala assistir sua televisão e ela ficou me perguntando o tempo todo sobre quando ela iria jantar na minha casa e conhecer meus pais... e eu só desejava ir ao banheiro.

Tá rebocado...

2 comentários:

Cuevas disse...

- Acho que eu quero passar a minha vida fazendo algo que eu goste. Eu gosto de dançar... não sei.

Anônimo disse...

- Acho que eu quero passar a minha vida fazendo algo que eu goste. Eu gosto de beber... não sei.

(pra manter o padrão de comentários e tal)

Btw, teus roteiros são loucos, e é por isso que gosto deles. E queria que me mandasses mais algum pra eu dar uma olhada e comentar.=D