14 de jul. de 2007

1987

O despertador toca, sua mulher levanta, ele fica lá fingindo que dorme. Afinal, para que acordar? O sol nem deu as caras para comemorar seu quadragésimo aniversário e ele já está prestes a se atrasar para seu trabalho, sim aquele mesmo trabalho, aquele que remonta a sua adolescência. Ele não pensava que seria assim, que acabaria onde começou, que continuaria ganhando um salário de miséria. Pois, lá não existe aumento, sua sorte se é que pode ser assim denominada, são os reajustes do mínimo. Mas não é o trabalho seu único incômodo. Aquela gorda com quem divide as cobertas também é um estorvo. Pensando bem, mesmo que fosse uma deusa televisiva, seria por ele odiada. Sofre! Quem mandou ser covarde? Agora fica aí remoendo seu amor nos pensamentos, se tivesse coragem de ter ido atrás dela não estaria se lamentando neste instante. Como ele está há mais de cinco minutos na cama além do que deveria, a essas alturas, a gorda está com a mesa posta e o piá (com aqule marra característica da puberdade) deve estar comendo, como de costume, igual a um ogro. O guri foi uma felicidade quando nasceu. Mas só quando nasceu! Por que ele não podia ser puto, ser nazista, filiado ao Democratas, sei lá, fã do Galvão Bueno. Porém, o vermezinho, é GREMISTA! Para piorar a situação eles são campeões do Mundo (pela quinta vez! Isso, sem contar a friagem da Toyota), já o Internacional dele se esforça pra ganhar do Zequinha e a sala de troféus não é aberta desde 2007, quando ganharam a Recopa (dia mais feliz da vida dele!).
Depois de vinte minutos o pobre infeliz resolve finalmente se levantar, vai ao banheiro, faz a barba com cuidado, com barbeador manual, sem frescuras, assim como era nos bons tempos da primeira década do século XXI. De banho tomado ele adentra a cozinha, o piá com um enorme sorriso no rosto - e vestindo a camisa do Grêmio - lhe abraça com toda a força, aquele abração de Urso. Diz pro pai que o ama. As lágrimas escorrem na cara do filho da puta emocionado com o rebento. A esposa os abraça também e envolve o marido com uma seqüência cinematográfica de beijos apaixonados. Depois, lhe mostra o café da manhã especialmente feito, com direito a bolo, vela, etc. Todos sentam se servem e choram, o guri e a mulher de alegria, ele por odiar aquilo e por se odiar por não conseguir amá-los.

Um comentário:

Cuevas disse...

odiar por não conseguir amá-los.


que caraio isso.