8 de jul. de 2007

Marcus

É o décimo dia do sétimo mês de dois mil e oito.
Ele acorda, o que não quer dizer que é de manhã. Seu nome é Marcus. Ele tem idade suficiente para estar de saco cheio. Caminha com sua perna lesionada até o banheiro e escova os dentes.


- Eu não sei o que farei.. não dou a mínima pra falar a verdade, cara.

Ele tem esse costume de falar sozinho sobre nenhum assunto. As respostas são dadas em sua mente adoecida.

- Não sei, talvez cinco.


Ele não sabe o que responde, nem sobre o que fala. Não tem nenhuma imaginação especialmente criativa para criar alguma personalidade para conversar com. Apenas fala sozinho e percebe isso. Mas não pára de falar sozinho.

-É assim que as pessoas enlouquecem.


Marcus não penteia o cabelo, mal tem cabelo. Ele saí de casa pensando sobre vidas em outros planetas. Os problemas terrenos não o atingem por simplesmente não o interessar em absoluto. A gasolina pode subir ou baixar, ele não tem um automotor próprio.
Seu maior dom é não ter nenhum dom. Ele tem sua altura listada como a média da população branca. Não é fudido da vida e não é rico também. Sua figura é representada por um homem de cabelos e olhos castanhos, que não canta e nem sabe dançar, não se mantém num emprego, muito novo e em breve será muito velho.
Atravessa a rua no sinal vermelho. Mesmo assim, quase é atropelado. Ele tem uma sensação estranha que a cena se repetiu. Nada demais. Toda a população tem sua parcela de Déjà Vu.
Sua explicação para esse estranho fenômeno, não é físico ou psicológico (biológico ou tanto faz quantas porras lógicas).
Marcus acredita que quando um ser vivo morre, ele volta para sua janela temporal.


Marcus nasce em oitenta e tantos. Vive sua vidinha como um ratinho em laboratório, sendo o cara mais comum que consegue ser. Se não é um ser comum se fode legal. Em mil novecentos e noventa e oito, ele perde seu primeiro amor.
Marcus é atropelado por um Chevrolet azul de placa IBF – 4342, dando uma ré num estacionamento de um mini-mercado no ano de dois mil e dez. Ele nasce em oitenta e tantos.. e tudo de novo.


É assim que explica um Déjà Vu. Tão burro e amnésico que repete sempre as mesmas coisas e vez em quando seu cérebro tem essas descargas elétricas (defeitos). Nunca iremos saber, tão pouco Marcus.


Uma loira de um metro e oitenta passa por Marcus. Ela é a típica gostosa. Um pouco alta para o gosto dele. Como é um ser humano mediano, prefere mulheres menores que a sua estatura. Uma maneira implícita de seu machismo, sua busca eterna de superação. Como todas as loiras gostosas são mascaradas e Marcus é um homem comum, a loira não percebe a existência de Marcus. Como um bêbado que não percebe uma reta, as loiras gostosas (morenas gostosas, mulatas gostosas, negras gostosas, asiáticas gostosas, qualquer tipo de mulher gostosa) não percebem homens como Marcus. Para não dizer que ojerizam.


Marcus segue seu caminho. Como todo o homem comum, está acostumado com a rejeição. Marcus pensa sobre o Universo e se ele realmente é infinito, sobre viagens no tempo, o que as mulheres pensam, alienígenas, Deus e mulheres virgens.


Marcus nunca irá saber a resposta dessas perguntas, nós nunca iremos saber.

3 comentários:

Anônimo disse...

Marcus é um cara supimpa.

Anônimo disse...

rs..sensacional! supimpa-lelê

Cuevas disse...

Chuchu beleza.