26 de ago. de 2007

Rousseau

O sol ilumina aquela tarde de quase quarenta graus. Enquanto isso, o rio segue seu curso tranquilo, lá Tapuia se banha para tirar o cansaço pós-caçada. O Índio que nem é velho, nem é moço, está no meio do caminho, está satisfeito por ter garantido a comida por um bom tempo ao abater uma simpática onça que jaz há alguns metros da água límpida que o purifica. Calmamente passa a mão pelo braço esquerdo, depois pelo direito, pelas pernas e assim segue retirando o sangue jorrado pelo animal quando da batalha dos fortes contra os fracos.
Terminado o banho sua pele seca ao natural devido ao calor que só aumenta. Tapuia talvez não saiba mas agora são 13 horas. Sua lança, objeto de orgulho e de trabalho, passa a ser a peça central do dia de Tapuia. Curiosamente a dedicação em limpar sua companheira é muito maior do que no próprio asseio, o que antes era um instrumento quase rubro devido ao acúmulo de sangue parece estar novo em folha recobrando sua coloração amadeirada natural.
Lança limpa na mão e alimento às costas assim ele seguiu sua marcha rumo ao encontro da tribo. Sim, aquela mesma velha tribo, com as mesmas pessoas de sempre e os mesmos rituais de todos os santos dias. Lá chegando, começa a carnear a onça para em seguida assá-la. Depois de feito isso, o beijo na testa amargurada de sua Iracema (sua Iracema! Não aquela chata do José de Alencar!!!). Tudo o que ela queria era uma comunidade de crianças para criar. Mas alguma maldição, algum trabalho em alguma encruzilhada qualquer ou excesso de canabbis sativa lhe impedem de ter um rebento sequer. Mas afinal para que servem os filhos? Para comer em um buffet quando você passa mal?
Chega a noite Tapuia e Iracema não fazem mais sexo. Então, ligam a televisão para ver a novela das oito. Incoerência? Eles também merecem se alienar.