12 de ago. de 2007

Epaê

O final de semana está terminando e cá estamos nós altamente compenetrados em nosso compromisso jornalístico, já faz cinco dias que nos encontramos nessa pousada e a fumaça no ar de maneira alguma diminui a seriedade de nosso trabalho. Apesar de fazer um belo dia estou enxergando tudo cinza, estou ouvindo a batucada que ele faz, seus uivos primitivos me confirmam a idéia de que ele é um elo perdido entre Xapanã e os aborígines da Austrália. Não entendo exatamente o que está acontecendo, só sei que nós cinco estamos conectados por essa sinfonia animalesca, ou talvez, isso seja tudo viagem do absurdo consumo de canabbis dos últimos minutos, segue a batucada e os outros esmurrugando, eu só fecho e toco fogo, fazendo fumaça.
Que alívio sinto em minha alma desprovida de bons sentimentos, estou livre para odiar, me sentindo uma diva, meus braços flutuam no ar comemorando os dias comuns em que ninguém é especial. Como sou belo, pareço um retrato esculpido por Deus. Ah, coitados estão tão abaixo de mim, pobrezinhos. Mas não tenho pena, não merecem. Pobres mortais não merecem a piedade de entidades superiores. É impossível acreditar que ele siga invocando os espíritos malignos da liberdade, por que ele faz isso? Chega! A grande verdade é que estou cansado de ser quem eu sou, sem sequer sentir vergonha de ser assim, me impressiona minha própria disfaçatez. Quem diabos eu penso que engano? Eles sabem, eu sei que eles sabem e finjo não saber.
Não, eu não consigo ser uma boa pessoa, eu não consigo ser corajoso, eu não consigo ser homem, eu não consigo ser nada. É o fracasso potencializado sabe-se lá em quantas vezes. Já me perdi em todas as bocas, já não ouço mais nada, me sinto violado, usado, sujo. Mas mesmo assim sigo inerte. Não consigo nem limpar minha face, sequer posso juntar minhas mãos para pedir o supremo perdão. Logo eu que sempre te neguei, cá estou de joelhos, te pedindo clemência. Me desculpe, mas por favor, me purifique...
Ah, acho que no final das contas isso é só a falta de uma boa transa.