19 de mai. de 2007

O sangue era espesso. O mais espesso que já vira sair de mim. Não enxergava meus dentes debaixo daquela gosma vermelha. Você sabe como se sente depois de nocautear o vice-campeão de boxe brasileiro?

Sai daquela porcaria de bar. Era a quinta noite consecutiva que não conseguia sair com ninguém. Entrava sozinho e saía acompanhado por alguma garrafa de vinho barato, já vazia. Estava apenas começando a ficar, realmente, puto da cara. Cambaleei até a esquina para pegar o ônibus da madrugada. Nunca o pegava, acabava desmaiando na parada e acordava sujo e com gosto de cinzeiro recém usado; numa manhã desgraçada e com um sol irritante socando meus olhos vermelhos. Por algum milagre, o ônibus apareceu antes d’eu chegar a deitar no chão. Tive alguma dificuldade para passar a roleta, o cobrador enfiou as mãos em meus bolsos e tirou algumas moedas e colocou o troco na minha mão.. eu perdi aquelas moedas. Caminhei até o fundo do ônibus e percebi um cigarro no chão. O peguei e coloquei na boca, ninguém tinha uma merda de isqueiro ou fósforo.

Desci numa parada desconhecida. Estava pronto para vomitar, resolvi sair antes de fazê-lo no colo de alguém. Me ajoelhei no lado de um prédio que fedia a mijo e vomitei todo o vinho barato e meu cigarro acabou indo junto. Levantei com uma certa dificuldade e caminhei em direção à parada novamente.

- Seu puto!

Vi uma gorda com uma roupa minúscula vindo na minha direção gritando um bocado. Percebi que havia vomitado em seu ponto de trabalho.

Resolvi andar até outra parada, enquanto ela me xingava na sua esquina. Só parou quando um carro buzinou para ela.

Eu estava muito bêbado.

Parei num posto de gasolina e entrei no banheiro. Vomitei. Sai e me encostei num carro. Eu estava adormecendo quando um cara me deu um empurrão. Não queria problemas. Me afastei, ele entrou no carro me xingando e jogando um cigarro pela metade aceso em mim. Saiu cantando pneu. Uma morena bonita no banco do carona o acalmava, enquanto ele cuspia e me xingava a todo instante. Me abaixei e peguei o cigarro, o traguei. Era um cigarro muito bom. Não consegui reconhecer, muito menos lê-lo.

Sentei na calçada e observei uma loira. Era gostosa.. feia, mas gostosa. Ela não parava de olhar para mim. Estava tão bêbado.. fiz um movimento com minha mão e ela sorriu.

Branco...

... ela sentada do meu lado. A beijei. Não queria beijá-la, queria despi-la. Mas, não estava tão bêbado assim. Mais tarde descobriu que eu não tinha um tostão furado e me deixou sentado sozinho na calçada.

Levantei e fui até um barzinho bem bacana, que minha vista turva acusava. Não tinha ninguém na entrada para dar comanda ou coisa parecida. Entrei. Dei em cima de todas as mulheres do bar. Continuei sozinho.. e não tinha mais dinheiro para um vinho. Resolvi que era hora de ir embora. Na saída um cara grandalhão me parou segurando minha camisa com sua mão direita e estendendo a mão esquerda.

- Comanda por favor.

Eu estava fudido.

- Comanda por favor – ele repetiu, estava pronto para me bater.
- Tchê, eu acho que perdi por aí.

Ele rosnou.

- Qual o seu nome?

Eu disse. Ele me arrastou até o balcão.

- Você estava aqui, não é?!

Eu disse que sim. Ele perguntou para o barman se vira alguma comanda perdida. Isso é comum de acontecer, bêbados esquecerem suas comandas nos balcões. O barman fez um sinal de negativo.

Eu estava fudido.

- Quanto você tem aí?!
- Nada.
- Nada?!
- Nada.

Eu estava fudido.

O brutamontes me jogou porta afora, eu tentei correr. Mas, estava MUITO bêbado para correr. Ele deu três passos largos e me puxou pelos cabelos e deu um soco seco nas minhas costas. Virei com alguma dor (nem perto da dor real), então me deu um chute no estômago.
Eu fazia academia, levantava pesos, era um cara fudido, não era pequeno. Mas.. esse puto era grande demais! Resolvi revidar, ele não esperava por isso. O segurei pelo pescoço e lhe dei uma testada. Eu caí instantaneamente. Sentia como se tivesse levado uma raquetada na testa. Eu o acertei no queixo, seu maxilar estava destruído. Ele estava no chão. Eu derrubei o puto. Ele se levantou, eu pulei. Me deu três socos consecutivos no nariz, eu caí. Ele continuou a me bater com movimentos curtos e secos.

- Eu fui vice-campeão brasileiro de boxe, seu bosta!

Naquele momento eu agradeci à Deus que o segurança daquele bar não era o campeão.

Então, ele notou seu maxilar mole e disforme. Passou a mão incrédulo e entrou correndo no bar.

Peguei o primeiro ônibus da manhã, não estava mais com sono.

Branco...

.. acordei em minha cama. Como havia chegado lá, não sei.

Caminhei até o banheiro e me olhei no espelho. Minha sobrancelha esquerda era um trabalho de artes da pré-escola, meus olhos eram bolsas de sangue e pus. Meus cabelos estavam escuros e grudentos. O rosto parecia de alguma criança com um problema terminal de cachumba (se isso existe). Abri minha boca com uma dificuldade impressionante, meus lábios pareciam colados. O sangue era espesso. O mais espesso que já vira sair de mim. Não enxergava meus dentes debaixo daquela gosma vermelha. Você sabe como se sente depois de nocautear o vice-campeão de boxe brasileiro?

A mesma sensação de sair de um bar cinco noites consecutivas sem nenhuma acompanhante...

...REALMENTE, preciso mudar de bar.

5 comentários:

Cuevas disse...

É, eu acho que ele se fodeu.

Anônimo disse...

Perspicaz comentário, devo dizer.

E agora que consegui acessar os comentários pela internet do Rodrigo, direi aqui o que acabei dizendo diretamente pro Edison...

"Naquele momento eu agradeci à Deus que o segurança daquele bar não era o campeão."

Ri pra caralho disso.

E muito bom o texto, vou nem publicar meu outro pra deixar esse mais tempo aí (eu ia escrever umas cositas gigantescas, mas deixa pra lá). Mas daqui a uns 4 dias, criançada, tio Anti vai entupir seus cérebros com mais auto-flagelação, confissões, referências cine-litero-musico-ridículas (nem sei se isso existe, se não existir, criei uma expresão nova; a não ser que tenha criado errado, aí eu digo que li em outro lugar e aí a culpa é da pessoa malvada que enganou um pobre garotinho inocente que só queria buscar novas palavrinhas legais pra colocar em comentários; um beijo pro meu pai, pra minha mãe e pra ti, Xuxa)(olha só, acabei escrevendo pra caralho, que mente doentiamente fértil para besteiras),e, claro, como não podia deixar de ser, mesas de bares onde se sucedem dramas mortais (o mais comum, e mais perigoso, sendo a falta de birita).

Então, durmam com os anjinhos e lembrem-se: Freddy vai pegar vocês.

PS: Quem vê pensa que o blog é acessado em massa.

Anônimo disse...

OK, depois disso prometo que vou me abster de postar besteiras (além do texto prometido) por ao menos uma semana. Até juro de dedinho.

Cuevas disse...

Porra, não sei quem é pior nesse buteco. Um bebe, o outro bebe e apanha, e outro bebe apanha e fuma. Come puta, bate na vó, mata os pais e vai pro motel. Todos cheiram. Socorro!
Fecha a janela, fecha a janela!

Anônimo disse...

Agora não sei qual dos três eu sou.