6 de abr. de 2007

Morte e cigarros

()..Ele fez uma curva fechada e atropelou um mendigo. Foi horrível. A minha reação foi xingá-lo e colocar o cinto de segurança. Não sei porque, já que o carro estava inerte naquele momento. Ele desceu e levantou o mendigo do chão. O vagabundo estava bem, o colocou sentado no banco de trás e continuou a dirigir.
- Então –disse ele berrando por causa da chuva e do motor barulhento – o que você faz quando não está sendo atropelado?!
- Mato pessoas e mando elas pra lua!
- Sério?! Interessante. Olha só rapaz! – gritou ele me dando um soco no ombro – atropelamos um cientista!
- Eu tinha a cura do câncer, mas acho que vocês não merecem essa cura – disse o vagabundo.
- É mesmo?! - gritou ele.
- Eu me divorciei de minha mulher e fui pra brasília ver os discos voadores no planalto central..

Mesmo bêbado, aquele papo ainda era tão incompreensível quanto realmente parecia.

Deixamos ele no primeiro pronto socorro que apareceu na frente. Depois disso fomos para um boteco e ele se encarregou de arranjar umas companhias para nós. Eu até hoje não entendo como ele fez para entrarem no carro com a gente. Não por nós. Não parecíamos tão horríveis quanto realmente éramos. Mas, aquele carro. Era pior do que realmente parecia. Mas elas entraram. Elas sempre entravam, ele sempre as convencia. Você podia quase ter sido cúmplice de um homicídio no minuto anterior e no seguinte estava num carro velho e cheio de água e lama, mas estava acompanhado. E bem acompanhado. Não me lembro direito delas, mas eram bonitas, ele sempre arranjava as mais bonitas. Certa vez estávamos em uma turma de 7 homens e ele arranjou companheiras para todos. Não o levem a mal, foram todas de graça.

Quando entrou numa festa privada fingindo ser um figurão, era óbvio que não tinha um tostão furado no bolso. Mas ele entrou. Nós de roupas alugadas e sapatos apertados e gravatas desconfortáveis ficamos do lado de fora enquanto ele entrou e saiu nas páginas sociais acompanhado de uma loira incrível. No dia seguinte ele recompensara a turma fazendo uma festa apenas para seus conhecidos na frente de sua casa. A casa dele era horrível, mas ele sempre fazia elas entrarem, elas sempre entravam. Aquela casa era pior do que parecia. A rua ficou lotada de “conhecidos” e “conhecidas”. Foi a melhor festa que já vi na vida, e da qual participei.Mas, ele não pode superar aquilo.

Era um daqueles caras que você simplesmente não imaginava que iria um dia morrer. Apesar, de constantemente dar avisos barulhentos sobre a proximidade deste evento. No caixão ele não parecia ter tido um carro que caía aos pedaços, nem que fora viciado em heroína e livrou-se dela como se fosse um pacote velho de chicletes. Não estava com seu maço de cigarros em seu bolso esquerdo. Não, ele não fumava, “mas tem mulheres que fumam meu guri!”, ele sempre dizia. Era um amigo bom, mas não era tão confiável assim. Embora, nunca pudesse realmente fazer algum mal aqueles que chamava de amigo. Um cara pobre de alma e provavelmente está fazendo alguma festa no inferno. Não, caras como ele não vão pro inferno, mas passam as férias de verão lá. Lá estão muitas modelos de “estilo”. Ele não entendia muito bem as mulheres, mas ele sempre falava que não era preciso entender nada sobre esse assunto.

Eu me lembro que quando saía do carro acidentado procurei minha carteira, por um segundo tinha realmente esquecido quem eu era. Eu via imagens de uma infância que não parecia ser minha. Olhei para os lados, ninguém. Abri a carteira e nem precisei ler meu nome. Lembrei. Olhei dentro do carro. Nada. Andei alguns passos para trás, caminhei até um corpo no chão. Estava morto, com certeza. Por uma estranha ironia o seu maço de cigarros estava intacto. Dentro, guardava seu isqueiro Zippo, ele sempre achava que o Zippo lhe dava um ar elegante. Acendi um cigarro e esperei ajuda.

O enterraram numa cova barata. A mãe dele olhava para todos os “amigos”, “conhecidos” e “conhecidas” e seu olhar era de reprovação, para cada um deles. Eu nunca imaginei que ele tinha uma mãe.

2 comentários:

Anônimo disse...

Seguinte... Quero royalties sobre este personagem... Porque ele é eu no futuro.

Anônimo disse...

tsctsc...quando tu me conseguir as sete minas!! eu pago 5 royalties pra ti rapá..só por causa do zippo?!! ui ui ui..só eu ando com zippo no bolso ninguém mais no mundo tem zippo!! hehehe..até EU q não fum otenho zippo rapá!!! e zippo militar style! mas consegue as 7 minas de estilo q eu pago royalties pro resto da vida pra ti!! hehe..